Economista comenta que alta da moeda pressiona inflação e pode resultar no aumento de preços
O dólar teve uma escalada de quase 24% desde o início do ano, quando estava cotado em R$ 3,14. Neste mês, a moeda norte-americana chegou a atingir R$ 3,90 e, ao longo dessa semana, girou em torno de R$ 3,70. Um economista ouvido pelo Semanário atribui a alta à instabilidade política interna e a fatores externos, que envolvem a economia dos Estados Unidos. Ele também comenta que a subida da cotação pressiona a inflação, o que significa um aumento no preço dos produtos para os consumidores.
Para analisar a questão, que envolve o mercado financeiro, o economista Pedro Henrique de Morais Campetti, professor do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia (IFRS), faz uma analogia com empresários e consumidores. “Nós decidimos comprar a partir de várias variáveis, e uma delas é a expectativa. Se a gente olha para frente e vê indefinição, acabamos não consumindo. No mercado financeiro é a mesma coisa”, compara.
Campetti afirma que o Brasil vive um momento de certa turbulência e indefinição política. Na sua opinião, isso pode estar ocasionando uma saíde de dólares, que estão sendo colocados em outros mercados. “Esses momentos de instabilidade fazem com que o investidor tire dinheiro do país. Então, se existe uma procura muito grande por dólar, a moeda vai valorizar e, o real, desvalorizar”, analisa.
Ainda segundo Campetti, o aumento da taxa de juros nos EUA, bem como a segurança oferecida para quem investe em títulos do país da América do norte, também podem ser fatores que estão ocasionando a escalada da moeda. “O fluxo de capital também pode estar indo para países mais atraentes. Para isso, geralmente se troca o real por dólar”, avalia.
Na inflação
Sobre o aumento do dólar e o impacto no bolso dos consumidores, o economista destaca que a moeda estrangeira pressiona a inflação e torna os produtos mais caros. “Primeiro porque consumimos produtos importados. Segundo, porque a própria indústria usa insumos do exterior, então se esses insumos ficam mais caros, eles tornam os produtos mais caros”, explica. Ele usa como exemplo a alta no preço dos combustíveis, que oscila de acordo com a variação cambial.
Segundo Campetti, a questão também impacta na bolsa de valores: CVC e Petrobras tiveram quedas recentes. “O lado positivo desse cenário (de dólar alto) é que o exportador sai ganhando”, pondera.
Intervenções do governo
O governo pode ter o papel de agir de maneira mais enfática e regular a cotação do dólar ou não. A questão gera debate entre economistas e, na opinião de Campetti, o governo deve intervir. “Justamente porque é uma questão de conjuntura e pode acalmar os mercados”, considera.
Ele argumenta que existe o risco no curto prazo, porque o investidor pode ficar receoso de deixar o dinheiro no Brasil, resultando em um efeito mandada. “Se isso acontecer, a cotação pode explodir. Por isso o governo tem reservas internacionais, para se defender de um ataque especulativo”, aponta.
Como a cotação flutua pela oferta e demanda, o economista entende que o Banco Central pode atuar no sentido de equilibrar essa oscilação. A utilização das reservas internacionais enormes do Brasil e o swap cambial são citados como medidas que podem equilibrar o preço da moeda norte-americana. “O governo detém o poder de intervir no mercado por meio do Banco Central. O Brasil pode utilizar as reservas internacionais, de US$ 400 bi, para vender dólar no mercado, como ofertante, para equilibrar a oferta e a demanda”, sugere.
Já no caso do swap cambial, o economista explica que o país compraria dólar em um mercado futuro. Sendo assim, caso a cotação da moeda suba, o governo é o responsável por pagar a diferença. “Ele faz um contrato que fixa o preço do dólar. Se aumentar, o governo paga a diferença”, explica.
No ano passado, foi utilizado o montante de US$ 115 bi em swaps cambiais. Segundo o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, a perspectiva é de que até o final de 2018 o valor seja ainda maior. Ao longo dessa semana, serão oferecidos U$ 20 bi, além dos U$ 750 mi diários.