-Vó, tu quer ficar mais nova?
Sorri derretida diante daquele par de olhinhos cheios de novidade.
-Senta aqui, que eu vou te passar um creme mágico, mas não conta pra ninguém, tá?
Ia dizer que mágicas eram suas mãozinhas tão macias, mas ela me calou:
-Chito! Não fala senão faz ruga!
Talvez não seja o caso de outras avós, mas no que se refere a mim, tudo o que deixei de ser em relação aos filhos estou sendo com os netos. Permissiva, por exemplo, como naquele momento.
Então, aí sentada com a cabeça levemente para trás, fiquei à mercê daquela massagem milagrosa que a pequena me proporcionava com o tal produto rejuvenescedor. Depois assistimos a um vídeo da Anita e, em seguida, fui pro chuveiro. Antes de eu ir embora, a menina fez nova aplicação para repor o que saíra com a água, garantindo a eficácia do tratamento de beleza.
Já em minha casa, aproveitei o bom tempo para estender a roupa que Amélia (aquilo sim era máquina de verdade), havia lavado. O sol do meio-dia abrasava até o cerebelo.
Caiu a noite e com ela o cansaço, tanto que nem lembrei de lavar o rosto antes de desabar na cama. Depois de seis horas mal dormidas, levantei. Estava me sentindo estranha, febril, a pele repuxando. Ao me olhar no espelho, o susto e a suspeita de ter ascendência asiática.
Bom, fazer o quê! Tudo passa, “tudo passará”, já cantava um dos Agnaldo, acho que o Timóteo. Mas não passou. A coisa foi evoluindo. No dia seguinte, o olho direito tinha sumido, a sobrancelha colara na pálpebra, e a pele… Jesus!
Eu parecia um sapo inflado. Aí sim o pavor me pegou de cheio. Tive de quebrar a promessa que fiz à menina de manter segredo, pois precisava obter informações do produto. Liguei ao pai dela:
-Por acaso, vocês tem algum creme rejuvenescedor que possa provocar inchaço e queimaduras?
O cara ligou o botão de alerta máximo, já prevendo um cataclismo. Pensou um pouco e me respondeu cautelosamente que sim, eles tinham, mas não ao alcance de criança. Se minha boca pudesse esticar, eu teria gargalhado. Nada está fora do alcance de minha neta.
Explicados os detalhes, as reações foram do choque ao riso, intercalados por grande apreensão pelo o que poderia ter acontecido com a menina, que manipulou o produto.
Quanto à bula, dizia tratar-se de um ácido para ser usado à noite (sem sol), passado com parcimônia e retirado depois de trinta segundos. Meio minuto! O tempo de quatro espirros! De um beijo de novela! De um orgasmo! De uma descarga de banheiro! De um grito de gol do Galvão Bueno!
Felizmente, depois de quinze dias e de vários procedimentos dermatológicos, meu rosto ficou novinho em folha. E sem mais nenhuma manchinha de sol.