Dentre as inúmeras novidades e surpresas que os imigrantes iam tendo, à medida que chegavam e penetravam na serra gaúcha, sem dúvidas, o pinheiro foi o que mais lhes prendeu a atenção, tanto pelo aspecto como pela sua incalculável quantidade.
Ele, com esse dilema perpétuo, deveria ter, deveria ter recebido o justo título de Rei da Floresta. Os imigrantes nem imaginavam como essa encantadora e abençoada planta lhes seria tão proveitosa, benéfica e amiga. Por sua vez os pacíficos pinheiros, com seus enormes galhos de alegria de mata nativa, procuravam festejar e brindar a chegada dos imigrantes – nem suspeitavam que estavam recepcionando seus inimigos, os seus depredadores, os exterminadores.
De fato, subsistem poucos sobreviventes. Esses titãs das matas, depois de prostrados horizontalmente no chão pelo persistente traçador e pelos golpes de machados, tiveram seus troncos dissecados em milhares de pedaços, que receberam os mais diversos destinos: uns iam servir para fabricar casas, outros para construir igrejas, outras escolas, outros revestir pontes, uns para sustentar parreirais, outros para confeccionar móveis, uns para fabricar berços e outros para fabricar caixões. Tudo se aproveitava dessa abençoada planta. O truncado toco, as robustas raízes e a polpuda casca para a adubação do solo. A grossa e canoada cortiça foi utilizada para revestir barracos improvisados nas roças a fim de proteger os agricultores dos castigantes raios solares. Os galhos utilizados para o fogo. Para acender o lume matinal, nada se compara às espinhas grimpas. Substancioso alimento foi fornecido pelos saborosos pinhões. Todos os anos, nos meses de maio e junho, os generosos pinheiros aprontavam muitos pinhões, que eram comidos no café ou em lugar do café da manhã, ao meio dia, à tarde e à noite,. A maneira de prepará-los podia ser: fervidos n’água, torrados no formo ou tostados sobre a chapa. Na roça, os agricultores costumavam fazer a “sapecada”: amontoavam as grimpas dos pinheiros, largavam por cima os pinhões, em seguida ateavam fogo. Em poucos minutos os pinhões encontravam-se saborosos. Como o pinheiro só frutifica uma vez por ano, os imigrantes aprenderam a guardá-los para outros meses. Em certos anos, os frutos dos pinheiros eram tantos que muitos colonos alimentavam os porcos. No poema “O Pinheiro” – se traduz o quanto é importante a valorização:
“Quando nosso avós chegaram a estes montes e vales, tu te encontrava em toda parte, apresentando-lhes as boas vindas. Os imigrantes comiam os teus frutos, os pinhões. E com teus nós se aqueciam, foste um verdadeiro amigo ajudando no início. Com tuas tábuas, erguiam igrejas e campanários. Esatavas sempre ao lado de nossa gente, do berço ao túmulo. Foste e és tão bom e bonito. Eu te quero bem e agradeço, querido pinheiro”.
Fonte: Os Vênetos nossos antepassados – A. D. Lorenzatto Ed. Est