O ser humano, há um tempo considerável, tem usado a espiritualidade com a finalidade de compreender o significado da vida e da morte, bem como sua presença no mundo. A espiritualidade é, muitas vezes, um recurso para melhorar a saúde, lidar com as adversidades da vida e a amenizar a dor em suas diversas dimensões e intensidades. É possível perceber que, ao longo da história, o conhecimento religioso tornou-se um meio para tratar doenças, obter melhor qualidade de vida e bem-estar, assegurando equilíbrio e harmonia diante daquilo que coloca a todos diante da impotência no manejo com situações limitantes da vida.

Alguns profissionais da área da saúde podem, em algum momento, questionar sobre as razões de se considerar a espiritualidade na prática clínica. Observa-se, em contrapartida, que muitas pessoas que buscam cuidados são religiosas e sentem-se mais próximas aos profissionais quando ‘autorizadas’ a expressarem suas opções. Os cuidados em saúde, integrados à espiritualidade, tornam-se aliados no desenvolvimento da saúde da comunidade de modo geral. O que se observa, atualmente, é que as ciências ainda se encontram limitadas quanto ao campo de investigação e busca por verdades sobre as questões vitais. São capazes de amenizar o sofrimento do homem, mas não dão sentido ao morrer, nem uma possibilidade para além da morte, sobretudo no que tange à reorganização de papeis e funções sociais, numa perspectiva de ressignificação e transformação da vida enquanto há vida. Esta tarefa, muitas vezes, permanece a cargo das religiões que, mesmo com suas controvérsias, mostram-se orientadoras dos percursos da alma para o homem, no sentido de dar sentido ao sofrimento que a pessoa carrega consigo devido à falta de esclarecimentos sobre as mudanças e a morte. Do ponto de vista teológico, a partir de um conjunto de crenças ou dogmas, as religiões exercem forte influência nas perspectivas de elaboração e enfrentamento dos lutos vitais e nas suas formas de enfrentamento.

Logo, é muito importante que a ciência também ceda lugar à religião que, segundo a ótica teológica, revela-se um influente recurso a favorecer o processo de adaptação e construção de sentido para a vida diante de uma mudança dolorosa. A espiritualidade não apenas funciona como âncora de sustentação, mas como instrumento de referência a diminuir sensações de insuficiência e abandono que as adversidades da vida poderão registrar na vida da pessoa que se depara com suas perdas. Além disso, a arte de crer com fé pode servir de artifício para resgatar a confiança em algo. Neste sentido, a fé em algo superior apresenta-se como uma entre diferentes possibilidades de sair do vazio. Entremeada à vida e ao viver, as questões também de morte passam a fazer do pesar um processo natural de luto e, consequentemente, “encarável”.

Franciele Sassi
Psicóloga Especialista
em Teoria,
Pesquisa e Intervenção em Luto e Perdas
CRP 07/24082
Telefone 9934.1643