Dissertação sobre a identidade do gaúcho nos escritos de Erico Verissimo conquistou o primeiro lugar em prêmio estadual
Falar sobre Erico Verissimo sem cair em trabalhos que abordem suas obras foi um desafio para a bento-gonçalvense e mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Letras e Cultura da Universidade de Caxias do Sul, Daniele Marcon, que recebeu na noite de terça-feira, 12, o troféu Dyonélio Machado, em Porto Alegre. A honraria, na categoria Tese e Dissertação, oferecida pela Academia Rio-grandense de Letras foi entregue pelo trabalho de Daniele “Afinal de contas, o que é um gaúcho?”, dissertação defendida em 2015 e que concorria à premiação. Essa percepção do escritor sobre a identidade no Rio Grande do Sul que o trabalho de Daniele norteou foi o diferencial para que a pesquisa rendesse a conquista importante no cenário estadual.
Segundo ela, o gosto pelas obras de Erico Verissimo surgiu muito cedo, antes mesmo de entrar no curso superior. Após o ingresso no mestrado, ela estava decidida a realizar a pesquisa de sua dissertação sobre o autor gaúcho. No entanto, queria buscar algo diferente daquilo que muitos já haviam escrito sobre os trabalhos de Verissimo durante toda a sua vida. Ao conversar com o orientador de sua dissertação, professor João Claudio Arendt, os dois encontraram o norte para o trabalho. “Ao invés de priorizar o estudo de uma obra sua, pesquisei suas entrevistas, suas cartas, enfim, as palavras dele como escritor. Tudo isso para analisar qual seria a sua visão sobre as identidades sul-rio-grandenses: “Afinal de contas, que é um gaúcho?” é a questão que ele mesmo profere e que dá título ao meu trabalho”, explica.
Olhar sobre o gaúcho
Outro aspecto que Daniele enfatizou em sua pesquisa foi a relação de Verissimo com o cenário político, verificando suas preocupações com os problemas sociais de sua época, e sua visão acerca dele mesmo, por meio de sua autobiografia. A bento-gonçalvense conta ainda que, em virtude da complexidade do tema, o trabalho possibilitou a visita aos arquivos do acervo literário do escritor, que hoje está no Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro. Ao conferir de perto seus achados, Daniele pode perceber que o escritor sempre esteve preocupado com os problemas sociais, não aceitava a injustiça e a violência e defendia uma visão diferente sobre o gaúcho. “Verissimo não apreciava o “mito do gaúcho herói”, mas buscava ver e representar em suas obras o habitante sul-rio-grandense em todas as suas faces, desde o jovem interiorano que tenta a vida na capital até o caudilho aposentado, que já não exerce mais poder, por exemplo”, explica.
Para Daniele, receber o troféu da Academia Rio-grandense de Letras foi uma honra, principalmente por se tratar de um prêmio, oriundo de um trabalho de pesquisa que proporcionou prazer em realiza-lo. Para a mestre, o momento da entrega do troféu foi emocionante, pois dividiu o palco com o filho do autor, Luis Fernando Verissimo, que também foi agraciado como escritor do ano. “Ser premiada junto dele é algo que levarei para a vida”, afirma.
Incentivo à leitura
Questionada sobre a importância da leitura nos dias atuais, Daniele enfatiza que a leitura é fundamental para todas as áreas de conhecimento e, por isso, é necessário investimento contínuo, a fim de incentivar o gosto pela prática da leitura. “Certamente, cada leitor busca sua área de maior interesse, mas me preocupa um pouco a aversão que muitos têm com relação à literatura brasileira, talvez por não terem tido uma experiência convidativa na escola ou mesmo devido ao apelo que os best-sellers estrangeiros apresentam hoje em dia”, ressalta. Para ela, os professores devem preservar no incentivo ao hábito de ler, mas, também, trabalhar com os alunos a literatura, de contos a romances. “É preciso pegar pela mão, mostrar, motivar. Daí nasce o encanto”, garante.