Quando nasci – e nem faz tanto tempo assim – não havia luz elétrica no interior, nem geladeira, televisão, telefone, fogão a gás, água encanada, desodorante, papel higiênico…
Como a gente conseguia viver? Sendo o único mundo que se conhecia, tudo era muito natural… e assustador. Lampiões de querosene, que pouco iluminavam, povoavam de fantasmas aquelas noites intermináveis, cujo sono era retardado pelo efeito das “novelas” cheias de mistério e suspense narradas pelos adultos.
Os alimentos, produzidos e usados na medida da fome, eram cozidos em fogões a lenha, cuja fumaça saía através de um tubo de alumínio que atravessava o teto de madeira até chegar à chaminé. Quando o fogo ficava intenso, o tubo incandescia, ameaçando incendiar. Um pavor.
No rio, se lavavam as roupas, se tomava banho e se aprendia nado cachorrinho. Na volta, depois de uma caminhada pela roça, os pés encardidos ficavam de molho com água e sabão para enfim ganharem o status de limpos. Com a evolução dos tempos, foram aparecendo os chuveiros artesanais, instalados sob um latão de água que podia ser antes aquecida, dependendo do gosto do freguês.
Quando pintava a necessidade para o número 2, a casinha ou patente estava lá, a uns cinquenta metros da casa. E a higiene íntima era feita na maior natureba, mas com o cuidado de não se usar urtigas. Geralmente sabugos de milho quebravam o galho. Já para o número 1, qualquer moita servia para disfarçar o feito.
E hoje algumas pessoas me repreendem indignadas “Não posso acreditar que tu não tenha saudade daquele tempo!”. Me justifico: apesar de nascida atrás de um pé de bananeira, ganhei alma urbana, com gosto pelo conforto e tecnologia. Sem mosquitos, sem calor infernal, sem enchentes, sem silêncios abismais… Nada machuca tanto o ouvido quanto o excesso de calmaria.
O problema é quando, assim do nada, a gente volta direto pra Idade da Pedra… Aconteceu noutro dia. A cachorrinha, em sua pontualidade britânica, me acordou às sete e meia. Então as adversidades começaram. Na cozinha, a água transbordava da pia, ainda entupida, apesar de eu ter despejado nela, três litros de Coca-Cola na noite anterior. Fui pro fogão. Sem gás. Precisava ligar para o encanador. Telefone mudo. Peguei meu celular. Totalmente descarregado.
Coloquei na tomada. Sem luz. Portanto, sem televisão e sem computador (é o tal Combo, que, quando um cai, todos levam um tombo). Ia dar uma voltinha por aí, no meu Lamborghini, mas como abrir o portão?
De repente, desconectada do mundo, eu, euzinha da silva, só comigo mesma, na Idade da Pedra.
A PEDIDO: Nestes tempos de acessibilidade, é no mínimo questionável a dificuldade de acesso à Unidade de Saúde Central, pelos doentes crônicos, idosos e deficientes que necessitam de medicamentos especiais. O desafio é subir uma longa escada e depois descer com mais peso sem rolar nela… O que já está ruim pode ainda ficar pior. Tem alguém aí para checar o problema?