Gosto das segundas-feiras. Com elas, a renovação, a oxigenação, o impulso para mais uma jornada. Sem elas, a gente tropeçaria no tédio dos domingos à noite. Para ser perfeita, a segunda precisa estar vestida a caráter – cinzenta, com gotículas no ar. O sol, se aprontando para terça, quarta, quinta, nem espia. É quando coisas singulares se manifestam…
Foi assim na segunda passada. Aconteceu, na manhã gris, uma verdadeira explosão luminosa de cores/amores bem à minha frente, numa rua íngreme próximo ao Botafogo. Verde, vermelho, rosa, violeta e várias tonalidades de azul.
Freei. Não só porque era a minha obrigação de motorista, mas para curtir aquela cena mágica. Uma longa saia boreal esvoaçava com a marotagem do vento, e, dentro dela, uma linda mulher beirando os oitenta, de lábios pintados e olhar brilhante, dividia suas limitações com o companheiro, outro ser bonito que navegava num abrigo azul índigo.
Na verdade, não dava pra dizer quem amparava quem. Havia aí uma cumplicidade tocante, uma espécie de simbiose, típico dos casamentos antigos, cada um sendo bengala do outro. Um equilíbrio perfeito e frágil resultado de uma parceria iniciada há sessenta anos…
O tempo era uma tartaruga há sessenta anos… As notícias andavam a cavalo… A tecnologia não tinha pressa…A humanidade cochilava… Mas havia cérebros acelerados que ousavam voar, especialmente na antiga União Soviética, que surpreendeu o mundo com o lançamento do primeiro satélite, o Sputnik-1. Não menos surpreendente foi o fato de a cadela Laika ir pro espaço, literalmente, um mês depois da primeira odisseia.
A mulher tinha seu lugar reservadíssimo há sessenta anos: a cozinha. O homem era o provedor da casa. O assobio do filme “A Ponte do Rio Kwai” marcava uma geração. Os Beatles começavam os contatos para a formação da banda. A Otan aprovava a presença de armas atômicas dos Estados Unidos na Europa.
Há sessenta anos, Brasília era construída. Extraterrestres apareceram em Praia Grande, no estado de São Paulo. Pelé estreava na seleção com apenas 16 anos. Jânio Quadros, o presidente que ia varrer a corrupção, proibia o rock and roll nos bailes. Tinha início a Bossa Nova. O fusca chegava ao Brasil. No currículo das escolas, constavam Latim, francês e Inglês. O professor era respeitado.
Há sessenta anos, Ildo Meneghetti, patrono perpétuo do Internacional, governava o RS. O Grêmio vencia o campeonato gaúcho pela nona vez.
A prefeitura de Bento era ocupada por José Mário Mônaco há sessenta anos. Nessa época foi autorizado um crédito especial para a aquisição de uma máquina de escrever para a Câmara dos Vereadores. Eles não tinham salário. Nesse contexto, criou-se a 16ª Delegacia de Ensino, que, acompanhando a evolução das ideias, foi rebatizada como Coordenadoria Regional de Educação. Passaram pelo comando desse órgão vinculado à Secretaria de Educação do Estado dezoito coordenadores, muitos professores e servidores, vivendo sua história e fazendo história na instituição. Há sessenta anos.