O estabelecimento de uma imigração agrícola fez com que se criassem experiências de vida correspondentes às situações enfrentadas. Donos de terras, os imigrantes realizaram sua nova experiência numa nação diferente e começaram sedimentar uma tradição cultural ítalo-brasileira. Se foi significativa a conquista e a posse da terra, também foi significativa a situação de carência e de privações das primeiras décadas. Se, de um lado, estas lhe proporcionaram ânimo para vencer pela honestidade (porque muitos ainda nada conseguiam senão serem os típicos cidadãos honestos, religiosos, bons) e pelo trabalho; de outro lado, a experiência agrícola foi sendo subjacentemente percebida como difícil, pesada e, por isto, provisória. Os homens da experiência agrícola consideravam melhor a experiência dos comerciantes italianos, estabelecidos nas vilas para enriquecer e, depois, retornar à Itália.
Pascale Corte (1884) – Consul da Itália, falando em Porto Alegre afirmava que a Rua dos Andradas estava pontilhada de negociantes italianos. Alguns, em Pelotas, Rio Grande, Bagé, Jaguarão, Santa Vitória do Palmar, Alegrete, Uruguaiana, Santana do Livramento, São Gerônimo, Cachoeira do Sul e muitas outras localidades.
A perspectiva da cidade foi concomitante à perspectiva da colônia. Não que se verificasse o êxodo de imigrantes agricultores para a profissão comercial, mas diante do comércio, das atividades urbanas (dos vilarejos) a agricultura era sentida em situação de inferioridade.
Formou-se uma percepção social negativa e uma consequência imagem depreciativa da vida rural. A desqualificação inicial fez com que se criasse uma agricultura de subsistência familiar, por isto as glebas rurais pareciam, em pouco tempo, residências de anciãos aposentados do trabalho, em petição de miséria, com enxaquecas, reumatismos ou vítimas de acidentes de trabalho.
A marginalização ex-étnica, consequente de uma não integração ou não assimilação cultural provocada pela situação econômica, começou ainda na Itália. O deixar a Itália fez com que o italiano se sentisse marginalizado em relação à sua Pátria. O Brasil não podia ser para o imigrante um pedaço da Itália como alguns pretenderam sonhar, mas também o imigrante não era um pedaço do Brasil, porque portador de traços étnico-culturais diferentes, onde a inicial marginalização inter-étnica, ou seja, em relação à cultura brasileira, a não compreensão dos costumes e remotas possibilidades de participação na vida social e política do País.
“Hoje, a nossa realidade é diferente. Somos um povo com uma cultura de referência nacional”.