Relembrar a memória daqueles que estiveram entre nós e já partiram é uma prática comum em diferentes culturas e crenças. Cada uma com suas características e peculiaridades. No entanto, uma coisa é unânime, quando o assunto é o Dia de Finados: momento dedicado à reflexão sobre a vida. É o que afirmam líderes religiosos cristãos, espíritas e umbandistas. Conforme os dirigentes, para entender como se cultua ou que tipo de ritual cada religião dedica à morte é preciso compreender como cada uma encara a vida. Os rituais de pós-morte variam, de acordo com a concepção de vida que cada instituição tem. Familiares daqueles que já partiram também ressaltam a importância da data.
Segundo relatos históricos, o Dia de Finados foi instituído pela Igreja Católica. Desde o século I d.C, os cristãos já rezavam pelos falecidos, visitando os túmulos dos mártires nas catacumbas. A partir do século IV, a memória dos mortos passou a ser celebrada durante as missas. No século XI, os papas Silvestre II, João XVIII e Leão IX, declaram a obrigatoriedade das comunidades a dedicarem um dia por ano aos mortos. O dia 2 de novembro foi estabelecido no século XIII. Conforme o pároco da igreja matriz Santo Antônio, Ricardo Fontana, a data é um momento em que as pessoas recordam todos os finados. “É um dia em que a Igreja Católica reserva não apenas uma intenção, mas reza por todos aqueles falecidos. A data celebra a multidão dos que morreram e não são lembrados na oração de seus familiares e amigos, estejam eles no céu ou no purgatório. Podemos, assim, fazer caridade e rezar por aqueles que foram esquecidos neste dia. Evidentemente, é um dia que marca nossa vida com muita saudade. É uma data de encontro, que as famílias se reúnem, em torno dos seus falecidos, no cemitério, nas suas casas em oração”, explica.
Mas não são apenas os católicos que prestam homenagens aos que já partiram no Dia de Finados. Espíritas e umbandistas também aproveitam a ocasião para uma reflexão profunda sobre a vida.
Evangélicos não celebram a data
Por se tratar de uma data estipulada pela Igreja Católica, os evangélicos não realizam nenhum tipo de celebração, como cultos, reuniões, com o objetivo de lembrar os entes já falecidos. De acordo com o pastor da Igreja Metodista, Márcio Gomes, não existem motivos na Bíblia, para escolher um dia para celebrar ou homenagear os mortos. “Como a data foi criada pelos católicos, os evangélicos não entendem a morte como algo que deva ser celebrado como acontece”, garante.
Para espíritas, reflexão sobre a vida
A doutrina espírita acredita que o dia dedicado aos mortos é uma oportunidade para conscientização sobre a finitude da vida física, mas, também, serve como momento de reflexão sobre a vida do espírito, após a morte do corpo. “O Dia de Finados presta-se ainda para reverenciar, através de preces e boas recordações, a memória daqueles que já partiram”, afirma Adão de Araujo, orientador, palestrante e professor em grupos de estudo do Centro Espírita Lar da Caridade. Conforme Araújo, no espiritismo não há celebrações específicas para o dia.
Segundo a doutrina, há respeito para todas as manifestações de sincera religiosidade. “Quem considerar importante comparecer ao cemitério, nesse dia, poderá fazê-lo. Aquele outro que preferir fazer suas orações, em memória dos falecidos, no seu lar ou em algum templo religioso também pode realizar sem constrangimentos ou complexo de culpa. Os espiritistas sabem que os espíritos desencarnados (falecidos) atendem ao chamado dos nossos pensamentos independente do lugar aonde estivermos”, explica.
Umbandistas focam nas energias positivas
Para os seguidores da Umbanda, o dia dedicado aos mortos é um momento de louvor, onde são relembrados os que já partiram. No local onde ocorrem as sessões, são entoadas orações e cânticos às almas e aos santos responsáveis pela “passagem” da vida terrena para o outro plano. Conforme a Mãe de Santo, Cheila de Iemanjá, do Centro de Umbanda Canto dos Caboclos, localizado no bairro Borgo, as preces são direcionadas no intuito de proteger-se de energias negativas. “Nós realizamos nossa sessão normal, na Casa Mãe, aberta ao público, onde encaminhamos nossas orações Pai Omolu, além de ser um dia onde realizamos preceitos, no intuito de fechar nossos chakras contra o mal. Nessa data, pedimos aos que frequentam o local, que não pensem em coisas negativas, para que os espíritos ruins não venham até nós, para alimentarem-se da nossa luz”, explica.
Cheila garante ainda, que este dia remete a um estado reflexivo, onde, acima de tudo, busca-se através da oração, uma ligação aos entes falecidos. “É uma forma de abraçar nossos amigos que partiram, aplacar a saudade”, pontua.
Momento de homenagens e saudade
Além da lembrança do ente querido, o Dia de Finados é considerado por aqueles que frequentam os cemitérios durante a data, como um momento importante para aprender com as perdas e as situações da vida, proporcionando crescimento e encontro de respostas que visem valorizar a vida, além, é claro, de diminuir a saudade. É o caso de Lourdes Marcon, 80, que participa todos os anos das celebrações no Cemitério Municipal de Bento Gonçalves. Para ela, é um momento de reflexão e homenagens para aqueles que já partiram. “A gente sabe que aqui só estão os restos mortais, mas o intuito é de rezar pela alma deles, afinal, fizeram parte da nossa vida. Venho todos os anos e sinto que minimiza um pouco da saudade”, acredita.
As homenagens vêm em diversas formas, como a decoração dos túmulos, limpeza, pinturas, flores, queima de velas e orações. Essas são as demonstrações de carinho e respeito mais comuns, que acontecem durante todo o dia 2 de novembro.
Para Newton Ângelo Lunardi, 72, visitar os entes já falecidos propicia momentos de alívio e paz. “Todas as vezes que vou ao cemitério, saio mais leve. Parece que tiro um peso dentro de mim. Me sinto bem. É uma forma de relembrar dos meus familiares e amigos que já partiram e deixaram muita saudade”, afirma.
Conforme o pároco Ricardo Fontana, a bíblia, orienta a reza pelos mortos. “Há uma passagem no livro de Macabeus que fala sobre isso. É muito bom rezar pelos falecidos. Se eles estão em paz, com certeza, a nossa oração se multiplica na graça de Deus para nós. Se eles estão precisando da nossa prece, Deus os iluminará em sua infinita bondade e misericórdia”, garante.
Para Fontana, a palavra que marca a celebração de finados é a saudade. “É um dia reservado para a reflexão pessoal. Um momento que possibilita a renovação da nossa esperança e fé cristã na certeza de que um dia nos reencontraremos todos na casa do Pai”, afirma.
A morte encarada pelas diferentes doutrinas
Pensar na morte com naturalidade, na maioria das vezes, não é fácil, mesmo que o momento seja parte de um processo natural, como é o nascimento. Para uns, ela representa o fim de um ciclo, quando os momentos vividos se transformam em lembranças. Para outros, a morte é vista como um ponto de partida para o início de algo novo. As diferentes doutrinas explicam seus posicionamentos e formas de encarar o momento de separação física.
Espiritismo
De acordo com Adão de Araujo, a doutrina difundida por Alan Kardek, acredita que apenas o corpo físico morre, passando por uma série de transformações. Na visão espírita, segundo Araujo, “a morte ou desencarnação implica uma série de fenômenos não só psicobiofísicos: também inclui outros de natureza anímico-conscienciais extrafísicos, paranormais de grande complexidade que, direta ou indiretamente, podem evidenciar a sobrevivência do espírito que continua a viver após a ruptura dos laços bioenergéticos que mantinham o organismo vivo em plena atividade, como veículo ou instrumento de manifestação do Espírito encarnado”, pontua.
Conforme Araujo, existe vida após a morte. “A vida inteligente, consciencial, não se extingue com a morte física”, garante. Ele afirma, que de acordo com o grau de educação consciencial-espiritual e conforme as ações e obras realizadas em vida, o espírito “terá maior ou menor merecimento, além de sentimento de autoestima pelo cumprimento dos deveres e realizações edificantes não só em benefício próprio, como, também, em favor dos seus semelhantes, da comunidade e da sociedade em geral”, explica.
Cristianismo
Para grande parte dos cristãos, na morte, o espírito vai para o céu ou para o inferno – para os católicos, há o purgatório e, para outras denominações, a morte é um sono até o dia do juízo. O destino varia de acordo com o que o morto fez em vida. A alma é eterna e única. Não retorna em outros corpos e muito menos em animais. Crê na imortalidade e na ressurreição e não na reencarnação da alma. Conforme os cristãos, a bíblia ensina que se morre uma única vez. Depois do Juízo Final, justos e pecadores serão separados para a eternidade. Deus julga os atos de cada pessoa em vida de acordo com a palavra que revelou através de Seu Filho, com os ideais de amor, fraternidade, justiça, paz, solidariedade e verdade.
Para os evangélicos, a morte é apenas uma passagem para outra vida e não aceitam a reencarnação. Para eles, existe o céu e o inferno. O julgamento ocorre não pelas ações da pessoa em vida, mas pela fé que na palavra de Deus e pelo amor a Jesus Cristo.
Umbanda
Na Umbanda, morte e nascimento são momentos sagrados, que marcam a passagem de um estado a outro de manifestação espiritual. Conforme a mãe de Santo, Cheila, a morte é um retorno do espírito à pátria espiritual, ou seja, a missão nesta vida foi encerrada. De acordo com ela, o local onde o espírito irá, após desencarnar dependerá das ações feitas durante a vida. “Se você fez coisas boas na terra, você será julgado por estas ações. Se teve atitudes ruins, o julgamento será baseado nestas. Estamos aqui a passeio. Logo retornaremos para nossa casa espiritual”, acredita.
Na Umbanda, Cheila diz que a crença é na reencarnação. “Reencarnamos para resgatarmos as nossas faltas, ou seja, se eu fiz algo que não foi terminado, eu retorno para finalizá-lo. E assim todos nós iremos fazer”, garante. Ela acredita que após a completar as passagens terrenas, as pessoas poderão viver em plenitude. “Um dia não iremos mais precisar reviver nossos erros e acertos, reencarnar, pois estaremos com a missão cumprida”, finaliza.
Horários de celebrações
Durante todo o feriado, a expectativa é grande, quanto a movimentação de pessoas nos cemitérios de Bento Gonçalves. Familiares aproveitam os dias que antecedem o dia de finados para realizar limpeza e organizar os túmulos.
A igreja Católica divulgou os horários das tradicionais celebrações nos cemitérios da cidade:
Paróquia Cristo Rei
São José Sertonina – 8h
Vinosul – 8h30min
Tamandaré – 9h15min
Santo Antão – 10h – 18h
Cemitério Parque – 10h30min
Garibaldina – 15h
40 da Leopoldina – 15h
6 da Leopoldina – 16h30min
8 da Graciema – 16h30min
15 da Graciema – 18h
Tuiuty – 8h30min
São Roque – 9h
São Valentin – 10h
Eulália – 16h30min
São Gotardo – 17h
Comunidade São Roque – 18h30min
Veríssimo de Mattos – 19h
Paróquia Santo Antônio
Cemitério Municipal – 8h30 – 10h – 17h
Barracão – 10h
Salgado – 10h
Santo Antoninho – 15h
São Miguel – 16h
Zemith – 16h30min
Buratti – 18h
Santuário Santo Antônio – 18h