Deslocar-se de uma sala de aula para a outra e encontrar o professor aguardando a turma para iniciar os trabalhos, pode ser difícil de imaginar. Porém, não para a Escola Municipal de Ensino Fundamental Lóris Antônio Pasquali Reali, no Vale dos Vinhedos. O educandário é o único do interior de Bento Gonçalves que possui salas temáticas. Há anos, a instituição de ensino adota diferentes projetos que buscam maior participação dos alunos, professores e comunidade escolar. Inseridas em 2017 pela secretaria municipal de Educação, a escola possui oito espaços preparados, com subsídios necessários para desenvolver conteúdos, aprimorando a prática pedagógica e, consequentemente, conquistando a atenção dos alunos, além de uma sala de recursos, laboratórios de ciências e matemática e uma biblioteca. Corpo discente e docente se mostram orgulhosos e afirmam que a mudança aumentou o rendimento escolar.
Desde 2014, a unidade modificou a proposta pedagógica e tem, além das aulas regulares, períodos dedicados ao desenvolvimento de trabalhos interdisciplinares, realizados entre os pouco mais de 200 alunos do sexto ao nono ano do ensino fundamental. De acordo com a diretora Sandra Cristina Silveira, o principal objetivo é tirar o aluno de sua acomodação. “Eles precisam entender e ter a noção de que a escola é de todos, porém, com as salas temáticas, eles saem de sua acomodação e vão ao encontro do professor, que os espera num espaço totalmente preparado para a disciplina. Cada sala é voltada a uma matéria da grade curricular”, explica. Além disso, ela salienta que o propósito estimula a preservação do patrimônio escolar. “Com a criação das salas, os alunos passaram a cuidar ainda mais da escola. Eles entenderam que o espaço temático é do professor e, por isso, precisam respeitá-lo e preservá-lo”, pontua.
Além dos professores, os alunos aprovaram a mudança. Segundo Gabriela Zorzi, o rendimento escolar aumentou, se comparado a anos anteriores. A estudante acredita que o simples fato de sair da sala para se deslocar à outra é estimulador na busca pelo saber. “A gente sai da nossa zona de conforto, consegue espairecer um pouco. Chegamos à sala e já nos deparamos com outro ambiente, diferente da outra disciplina e por aí vai. Até as notas, de um modo geral, melhoraram, em comparação ao ano passado. A gente sempre quer buscar mais e mais”, afirma.
De acordo com a secretária de Educação Iraci Luchese Vasques, desde 2006 as salas temáticas foram implantadas em algumas escolas do município. Para receber o projeto, é necessário ter espaço físico suficiente, para que cada professor tenha sua sala, a qual é equipada com materiais específicos de cada disciplina, realizando atividades relacionadas ao seu componente curricular e interdisciplinando com outros, fazendo com que o aluno passe a ter mais responsabilidade e compromisso, tendo mais atenção e cuidado com seus próprios materiais e os da escola. “As salas temáticas mudam as atitudes dos alunos e incentivam os professores a buscar novas metodologias e possibilidades para suas aulas”, afirma a secretária.
Atividades envolvem a comunidade
Além da inserção dos espaços temáticos, a escola realiza trabalhos voltados à comunidade escolar. Destaque para a horta comunitária, mantida pelos pais dos alunos, a banda marcial, formada por cerca de 30 estudantes que ensaiam no contraturno e as práticas de leitura, que estimulam crianças e adolescentes a trabalharem suas habilidades, exercendo a criatividade e o gosto pelos livros. Conforme a diretora Sandra, a evolução dos participantes é percebida por meio de suas atitudes no dia a dia da escola. “Eles (os alunos), precisam aproveitar mais o tempo ocioso e a gente, aqui na escola, tenta propiciar estes momentos. São atividades que fortalecem o vínculo entre família, comunidade e instituição de ensino. O resultado é compensador”, afirma.
Em paralelo as práticas de leitura, a escola que recebe alunos até o último ano do ensino fundamental, precisou enfrentar uma realidade social que aflige muitos adolescentes e jovens, principalmente na fase da adolescência: as dúvidas sobre o futuro. Foi então que dois professores decidiram criar um projeto com alunos do nono ano. Semanalmente, artigos e textos de colunistas de jornais são levados à turma para debaterem e desmistificá-los. A professora Graziela Grandi, uma das coordenadoras, explica que a ideia é oferecer espaço para que os alunos possam manifestar e compartilhar suas angústias, principalmente nessa fase da vida. “Já fomos jovens e sabemos o que cada um enfrenta nesse momento. O projeto, além de incentivar a leitura, vai ao encontro daqueles que sentem essa carência para compartilhar suas experiências e anseios. Fico muito contente em poder ser, além de professora, uma amiga”, afirma.
Os assuntos mais abordados sempre estão focados aos que envolvem a adolescência. É o que afirma o professor de informática Gustavo Goulart. Estudante de psicologia, o jovem afirma que essa atividade propiciou um contato mais amistoso entre aluno e professor. “A gente quebra aquela barreira que muitas vezes é imposta por preconceitos de que o professor e aluno não possam ser amigos de verdade. Com esse trabalho, conseguimos nos aproximar ainda mais e percebemos um sentimento de confiança e respeito entre ambas as partes. É gratificante poder ser mestre e também amigo deles”, enfatiza.
Feira para pais e alunos
Um evento está sendo organizado para o dia 29 de setembro e deve mostrar aos pais e à comunidade em geral todos os trabalhos realizados pela escola. A Multifeira, como está sendo chamada, pretende envolver as famílias e debater o que o educandário desenvolve junto aos alunos.
Conforme a diretora, a ideia é aproximar ainda mais todos os envolvidos no processo educacional. “Precisamos prestar contas a todos sobre o que estamos fazendo aqui e a Multifeira vai proporcionar esse momento. As famílias terão a oportunidade de conhecer cada trabalho e esforço de nossos professores e funcionários junto aos alunos”, pontua.