Um estudo realizado no Rio Grande do Sul revela que o vírus da imunodeficiência humana (HIV) pode estar se disseminando de forma silenciosa no Brasil. O levantamento mostra que a prevalência de HIV na população testada alcançou 1,64%, índice 64% acima do limite preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
A OMS considera controlada uma epidemia quando a prevalência não ultrapassa 1% da população geral com mais de 18 anos. No caso do Rio Grande do Sul, a média é de duas pessoas vivendo com HIV a cada 100 habitantes — ou uma a cada 50.
Conduzida pelo Hospital Moinhos de Vento, a pesquisa é inédita por ser a primeira testagem sorológica em grande escala feita no Brasil. De acordo com a epidemiologista Eliana Wendland, do Hospital Moinhos de Vento, que lidera o estudo, embora o levantamento esteja concentrado no RS, os resultados indicam uma possível tendência nacional. Um estudo conduzido em 2023 já havia mostrado que a Região Metropolitana de Porto Alegre enfrenta uma epidemia generalizada de HIV.
Desenvolvido pelo Hospital Moinhos de Vento no âmbito do Proadi-SUS, em parceria com a Secretaria Estadual da Saúde (SES), o trabalho mapeou o comportamento, as práticas e as atitudes da população em relação às infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).
Segundo a SES, Porto Alegre apresenta o maior coeficiente de mortalidade por aids entre as capitais brasileiras, com índice quase quatro vezes superior à média nacional. Dados da Divisão de Doenças e Condições Crônicas da SES indicam que o Rio Grande do Sul ocupa a quinta posição entre os Estados com maiores taxas de infecção por HIV no Brasil.
O último boletim epidemiológico da SES, baseado em dados do Ministério da Saúde, aponta que, até 16 de dezembro de 2024, foram registrados 1.184 novos diagnósticos de HIV no RS. Em 2023, o total foi de 2.980. No mundo, estima-se que 40,8 milhões de pessoas viviam com HIV em 2024. A prevalência global do HIV na população adulta é de 0,7%, segundo dados do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/aids (UNAIDS).
No Rio Grande do Sul, ainda não havia pesquisas de base populacional com testagem sorológica em grande escala para analisar a prevalência do vírus. Por isso, a nova pesquisa do Hospital Moinhos de Vento acende um sinal de alerta.
— Esses números são maiores do que os boletins normalmente indicam, porque nós fomos de casa em casa fazer testagens. Parte dessas pessoas sabia que vivia com HIV, mas um terço não sabia — afirma Eliana Wendland.