Um levantamento realizado pela Universidade de Caxias do Sul (UCS) – campus Bento – em parceria com o projeto Bento+20 revelou dados sobre a relação entre educação e mercado de trabalho no município. O estudo, feito de forma online entre abril e agosto, ouviu 443 alunos do ensino médio e 283 trabalhadores de mais de 35 bairros.
Entre os estudantes, 64% afirmaram desempenhar algum tipo de atividade remunerada. A maioria, 97,9%, tem entre 15 e 18 anos. Do total, 45,6% atuam como menor ou jovem aprendiz e 18,5% trabalham no mercado informal. Setores como indústria (36,6%), comércio (31,3%) e serviços (27,1%) concentram esses jovens.
O levantamento também mostrou diferenças entre alunos da rede pública e privada. Entre os estudantes de escolas públicas, 52% têm vínculo formal de trabalho, enquanto esse índice cai para 19% entre os alunos da rede privada. Já entre os que não trabalham, 61% são de escolas particulares, contra 30% da rede pública. No mercado informal, os percentuais são semelhantes: 18% dos alunos de escolas públicas e 20% dos de escolas privadas.
Outro dado aponta que 67,3% dos estudantes que ainda não trabalham gostariam de ingressar no mercado como jovem aprendiz – sendo 71% na rede pública e 60% na rede privada. A maior parte não tem preferência por setor de atuação, mas rejeições foram registradas: agricultura (42,5%), turismo (24,2%) e indústria (13,6%).
Sobre a percepção do trabalho, os estudantes atribuíram nota média 9,5 para a afirmação de que ele representa “assumir novas responsabilidades”. A frase que recebeu menor concordância, com nota 4,5, foi a de que “a vida só tem sentido às pessoas quando se envolvem com o trabalho”.
Quanto ao futuro, 72,7% dos alunos querem cursar o ensino superior, índice que chega a 91% entre estudantes de escolas privadas e cai para 68% na rede pública. Já 18,5% preferem cursos técnicos, 4,7% não querem seguir estudando e 4,1% optariam por formações de curta duração.
Perfil dos trabalhadores
A pesquisa também traçou o perfil de 283 trabalhadores. Do total, 84% atuam com carteira assinada. A indústria concentra 73% deles, seguida por serviços (24,4%) e comércio (2,6%). As atividades mais citadas foram moveleiro, metalurgia, educação, saúde, transporte/logística, alumínio e vidro.
O nível de escolaridade é elevado: 24% têm pós-graduação e 23% concluíram o ensino superior. Esse fator se reflete na renda. Enquanto a média bruta registrada pela RAIS em 2024 é de R$ 4.244, 59% dos pesquisados afirmaram receber acima de R$ 4.501, sendo que 39,1% superam os R$ 6 mil. Entre graduados, esse patamar é alcançado por 82%.
Atualmente, 36% dos trabalhadores estão matriculados em algum curso, principalmente nas áreas de gestão, humanidades, saúde e tecnologia, e 78% manifestaram interesse em continuar se qualificando.
Na faixa etária, 51,6% dos entrevistados têm entre 30 e 45 anos. Entre os que ganham mais de R$ 6 mil, 44% têm 40 anos ou mais. Além disso, 69% são casados ou vivem em união estável e 67% têm filhos. Outro ponto é a origem: 50,2% nasceram em Bento Gonçalves e 49,8% em outras cidades, sendo que 68% desse grupo residem no município há mais de 10 anos.
Quanto à permanência no emprego, 80,8% não pensam em mudar de trabalho. Entre os 19% que manifestaram interesse em trocar, os principais motivos citados foram: salários mais altos (54%), melhor ambiente de trabalho (31%) e proximidade da residência (22%).
Percepções
Os trabalhadores também foram convidados a avaliar frases relacionadas ao trabalho. As maiores notas (9,2) foram atribuídas a “assumir novas responsabilidades” e “possibilidade de utilizar minhas capacidades e competências”. Já as menores foram “um ambiente estressante e pesado” (3,5) e “preocupação e instabilidades constantes” (3,7).
As médias variaram conforme a faixa etária. Para o aspecto “centralidade do trabalho”, por exemplo, os mais jovens (19 a 29 anos) deram média 5,1, enquanto a faixa de 30 a 39 anos marcou 6,3 e os de 40 anos ou mais, 6,6.
Foto/Fonte: UCS Bento/Divulgação