Lembrei-me de coisas de há 50 anos passados, quando funcionário de uma empresa já extinta, DU MONT, fábrica de bebidas, estabelecida no local onde hoje é o SHOPPING L’AMERICA.
Foi o primeiro emprego com registro. Em três anos já era um “chefinho”, mandando pouco mais do que a experiência permitia.
No chão de fábrica, laboriosos colegas trabalhavam encaixotando BACACHERY EXTRA para exportação ao vizinho Uruguai, por via ferroviária. Incrível, mas isto acontecia aqui em Bento.
Numa de minhas constantes e desnecessárias visitas ao interior da fábrica, matando tempo, observava a forma de trabalho de cada um dos operários e me deparei com o Delvino, experiente no martelo ao pregar as tampas das caixas de madeira.
De forma bem evidente ele usava no pescoço um barbante no qual estava amarrada uma rolha do BACACHERY EXTRA.
Aproximei-me, sob o olhar furtivo de todos os demais operários que trabalhavam na linha de produção, e perguntei:
– “Oi, Delvino! Me explica por que a rolha no pescoço?”
Mais de um dos que nos observavam engoliu a seco e o Delvino, sem tirar os olhos da esteira e de bater os pregos falou:
– “Não!!! O senhor não “seu” Caleffi”.
– “Ora Delvino: agora que já perguntei pode falar sobre a rolha……”
Ainda sem parar seu trabalho ele disparou:
– “É para tampar o cu dos curiosos”. (o nome consta no AURÉLIO).
Fiquei pasmo mas tive que sair de fininho, vermelho como um peru, e sem olhar para trás onde todos deveriam estar rindo.
Sabem o que aprendi?
Pode ter alguém carregando uma melancia pendurada no pescoço ou até um porco vivo: NUNCA MAIS VOU PERGUNTAR.
O Delvino e eu convivemos muitos anos mais, como colegas e amigos. No lugar da DU MONT está o SHOPPING e fico a recordar.
Bons tempos aqueles!