A Associação Pró-Autistas Conquistar (APAC), nasceu do desejo de transformar a realidade de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e suas famílias em Bento Gonçalves. Fundada por um grupo de pais engajados em 2002, a entidade foi criada para oferecer acolhimento, apoio e oportunidades reais de desenvolvimento. Sua missão é clara: promover a inclusão, o respeito e a autonomia de jovens e adultos autistas por meio de ações sociais de impacto.

Hoje, a APAC atende principalmente jovens e adultos com Transtorno do Espectro Autista (TEA), na faixa etária de 18 a 59 anos, um público que muitas vezes fica à margem dos serviços públicos e privados. O acolhimento acontece através de atividades regulares como diferentes oficinas, projetos de convivência, vivências com animais, atividades da vida diária (AVD), educação física, artes visuais, música e rodas de conversa. O ambiente da associação é estruturado para fortalecer a autoestima, estimular a autonomia e promover a socialização.

Programa de Apoio Assistido por Animais

Segundo a coordenadora, Sandra Frare Pedrotti, as ações da APAC são guiadas por valores fundamentais como empatia, respeito, escuta ativa e protagonismo da pessoa autista. “Cada projeto busca reconhecer as potencialidades de cada indivíduo, respeitando seu tempo e suas singularidades. Acreditamos na construção mais justa e sensível às diferenças”, frisa.

Entre as principais iniciativas, destacam-se os programas de artes visuais, expressão corporal, psicomotricidade relacional, oficinas de expressão emocional, atividades assistidas com cães, atividades musicais, capoeira, além de eventos como rodas de conversa, encontros de famílias e campanhas de conscientização. Esses projetos não apenas impactam os participantes diretos, mas também fortalecem as famílias, que muitas vezes enfrentam o desafio do isolamento e da sobrecarga emocional.

Um destaque recente é o projeto “Programa de apoio assistido por animais”, realizado com o apoio do Centro de Adestramento Canino Vale da Neblina e da condutora Janaína Ganzer. “A interação com o animal traz benefícios visíveis no comportamento e bem-estar dos autistas atendidos, promovendo vínculo, foco e afetividade, além de gerar momentos de alegria e conexão”, reforça Sandra.

A APAC não presta atendimento clínico, diagnóstico ou terapêutico. No que se refere ao cuidado integral aos adultos com TEA e seus familiares, a sua atuação ocorre de forma complementar à rede intersetorial, promovendo o apoio a partir da articulação e encaminhamento aos serviços, sempre em busca de viabilizar direitos sociais para a melhoria na qualidade de vida dos usuários e seus grupos familiares. “Além disso, promovemos atividades voltadas para pais e responsáveis, com o intuito de fortalecer os vínculos familiares e compartilhar estratégias práticas do dia a dia. Também buscamos dialogar com o setor privado, instituições e setores da administração pública para promover práticas mais inclusivas no ambiente de trabalho e no acesso aos serviços. Nosso objetivo é contribuir para uma cidade que reconheça e respeite as diferenças, onde a inclusão seja vivida na prática e não apenas no discurso. Momentos de convivência entre famílias são promovidos com frequência. Encontros, festas temáticas, momentos de lazer onde as famílias podem compartilhar vivências e se apoiar mutuamente, oferta de atendimento para a troca e apoio mútuo, quebrando o silêncio que muitas vezes acompanha o diagnóstico”, ressalta a coordenadora.

Instituição atende jovens e adultos de 18 a 59 anos

Para promover a conscientização, a associação realiza ações educativas, buscando empresas e órgãos públicos que demonstrem interesse, além de atuar ativamente nas redes sociais com divulgação das atividades que visam desconstruir estigmas e incentivar o respeito às diferenças. “A aproximação com instituições públicas e privadas busca construir uma cidade mais inclusiva e empática”, frisa Sandra.

A comunidade pode colaborar de diversas formas: com voluntariado, contribuindo financeiramente, doações, parcerias, participando dos eventos ou simplesmente disseminando a causa. São formas de fortalecer o trabalho.

A APAC conta atualmente com o apoio de voluntários ativos e mantém parcerias com organizações locais. São pessoas fundamentais que somam com seu tempo, talento e dedicação. “Nosso grande desejo e desafio, enquanto equipe, é conscientizar a sociedade civil e principalmente o poder público, pela necessidade de criação e ampliação de espaços que promovam o suporte biopsicossocial das pessoas com TEA, para que num futuro próximo esses indivíduos sejam protagonistas de suas histórias de vida, e agentes de transformação social a partir de suas potencialidades e de acordo com as suas particularidades”, destaca.

Capacidade de atendimento é de 23 jovens adultos com TEA

Apesar do impacto positivo, a associação ainda enfrenta desafios como falta de recursos financeiros contínuos, falta de profissionais, estrutura física limitada e alta demanda por atendimentos personalizados. Para enfrentar essas dificuldades, mantém campanhas permanentes de doação e eventos, buscando sempre ampliar o número de apoiadores.

Entre as metas futuras da APAC estão a expansão do atendimento, a criação de novos grupos de trabalho, o fortalecimento de parcerias e a implementação de projetos voltados ao público, atendendo as demandas. “A associação também luta pela ampliação de políticas públicas que contemplem o TEA em todas as fases da vida, inclusive na vida adulta, uma etapa ainda invisibilizada e que precisa de mais garantias de direitos”, conta.

Outro desafio é consolidar um programa de acompanhamento individualizado com metas específicas para cada um, em diálogo com as famílias e demais profissionais envolvidos. “Pretendemos expandir as atividades para ambientes externos, como parques e espaços esportivos da cidade, promovendo a generalização das habilidades desenvolvidas. Com atuação sensível e transformadora, a APAC segue firme em sua missão de construir pontes, abrir caminhos e conquistar mais inclusão em Bento Gonçalves”, finaliza Sandra.

Oficinas de artes

O professor de Artes Visuais, Mateus Vinhas Fracalossi, pontua o privilégio de testemunhar diariamente o poder transformador da expressão criativa com os beneficiados ao trabalhar com suas oficinas de artes. “Trabalhar com pessoas autistas me ensinou que a arte não é apenas técnica — ela é linguagem, é refúgio, é liberdade. As artes terapêuticas oferecem algo raro neste mundo acelerado: um espaço de escuta verdadeira, sem exigências de adequação. Um traço, uma cor, uma forma — tudo pode ser comunicação quando palavras não bastam. Em cada pincelada há sentimentos, em cada escolha de material, uma afirmação de identidade. O autismo não é um obstáculo à arte. Pelo contrário, é uma lente única sobre ela. Respeitar as diferenças não é apenas tolerar — é aprender com elas. Quando damos voz à singularidade de cada indivíduo, estamos, na verdade, ampliando nossa própria visão de mundo. Orgulha-me ver cada processo, cada criação, cada brilho no olhar. Porque a arte, quando acolhe e não julga, não apenas cura: ela revela”, salienta.

Outros projetos

A condutora do projeto “Educação assistida por animais”, Janaína Ganzer, afirma a importância da oficina. “Os serviços assistidos por animais são definidos como práticas, programas e serviços humanos mediados, guiados ou liderados por um provedor e que incorporam animais especialmente qualificados em processos terapêuticos, educacionais, de apoio ou melhoria, voltados ao aumento do bem-estar de seres humanos garantindo ao mesmo tempo o bem-estar dos animais envolvidos em tais práticas”, pondera.

Segundo ela, os cães facilitam o desenvolvimento de atividades que necessitam uma atenção e um tempo maior para ser executado, ajudando a reduzir a ansiedade e estresse, assim realizando de forma calma e concentrada. “A atuação com o cão ajuda a incentivar a se comunicarem de forma mais eficaz, seja verbalmente ou através de sinais, já que as atividades envolvem interação e atenção. Promove as habilidades motoras, através das atividades que envolvem cuidar do cão, como tocar, escovar, alimentar e brincar. Proporciona mais conforto e segurança na execução de atividades que demandam desenvolvimento motor amplo. O cão servirá como um espelho na execução de um circuito, com diversos obstáculos. Envolve a pessoa autista em atividades em grupo, estimulando a interação social, a colaboração e participação. Além disso, a interação com o cão pode ajudar a desenvolver a habilidade de reconhecer e expressar emoções, promovendo um ambiente emocionalmente seguro para explorar seus sentimentos”, reitera.

A APAC realiza toda semana uma edição do Programa de Apoio Assistido por Animais, proporcionando uma experiência terapêutica e afetiva para os participantes. “O destaque do encontro foi a presença especial do cão Junior, um companheiro dócil e treinado, acompanhado por mim, do Centro de Adestramento Vale da Neblina. Juntos, promovemos momentos de interação, carinho, acolhimento e desenvolvimento. Durante a vivência, os participantes tiveram a oportunidade de tocar o cão Junior, passear com ele, participar de jogos e até conversar com o cão, explorando a comunicação verbal e não verbal de forma natural e divertida. Tudo foi conduzido com muito respeito às individualidades sensoriais e emocionais de cada autista, em um ambiente calmo e seguro”, pondera Janaína.

Mais do que uma atividade, foi um encontro de confiança, empatia e conexão — onde o afeto falou mais alto. “Momentos assim fortalecem o nosso compromisso com a inclusão, o cuidado e a valorização das singularidades de cada pessoa. A equipe da APAC acompanha de perto cada reação, registrando com atenção os pequenos avanços e as respostas individuais. Foi uma vivência que reafirma o potencial terapêutico dos serviços assistidos por animais, especialmente quando realizada com respeito, técnica e afeto. Cada encontro deixa marcas positivas e o desejo de novas experiências”, assegura.

O educador físico, João Marcelo Rodrigues, atuante na APAC, tem a honra de conduzir práticas motoras com jovens adultos diagnosticados com Transtorno do Espectro Autista (TEA). “Foco no desenvolvimento físico, emocional e social desses indivíduos. Nosso trabalho vai além do movimento: é um instrumento de convivência, expressão e evolução. As atividades são cuidadosamente planejadas, respeitando as individualidades e potencialidades de cada um. Utilizamos jogos estruturados, circuitos motores, atividades que estimulam a coordenação motora, o equilíbrio, a percepção corporal e o controle postural. Ao mesmo tempo, essas ações promovem a interação entre os alunos, fortalecem vínculos afetivos e desenvolvem a tolerância à frustração e à espera — habilidades fundamentais para a inclusão e o convívio em sociedade”, conta.

Ao longo do processo, observa-se ganhos significativos. “Maior iniciativa nas atividades, melhora no controle emocional, aumento da autonomia e evolução nos aspectos motores, como deslocamento, arremesso, equilíbrio e ritmo. O ambiente seguro e acolhedor propicia uma rotina saudável, capaz de gerar segurança e confiança nos participantes”, conclui Rodrigues.

A comunidade pode seguir a página: APAC_BG. Doações podem ser realizadas pelo pix: CNPJ: 05.296.506/0001-03. Para entrar em contato ligue no número 54 994331876.