A contar pelo primeiro livro da Bíblia, Gênesis, o dilúvio teria sido a primeira catástrofe natural que o homem sofreu na face da terra.
Noé, avisado por ninguém menos que DEUS, o Criador, tentou, em vão, prevenir as pessoas do que viria acontecer…
De nada adiantou. Somente Noé, mesmo sem nunca ter visto nada igual, mas com os olhos da fé, construiu a arca, salvando sua família e os animais. Lembram?
Pois é, embora a Bíblia não registre com exatidão o tempo da construção da arca, o que importa dizer é que ela ficou pronta a tempo, isto é, antes de dilúvio, temos aqui um exemplo de ótima gestão de crise.
Dada a catástrofe das enchentes do ano passado que se abateram em todo estado do RS, e tendo em vista as 132 cidades que sofreram agora, recentemente, com as chuvas torrenciais na última semana, penso a falta que faz um Noé crente e até mesmo um Thomé descrente, mas arrependido, pois de tudo que se viu, parece foi pouco ou de nada serviu…
As enchentes não deixaram dúvidas do que as águas em grande volumetria são capazes de conquistar, sequestrar e exterminar em questão de poucos dias.
O “inimigo” mostrou todas suas armas, onde nasce, do que se alimenta num crescente, por onde abre caminhos, por onde se arrasta e o que leva consigo, destruindo com sua força tudo que vem pela frente. A propósito, por acreditar que é invencível – e sabemos que o é – não se importa em deixar sempre rastros e mais rastros, como “alguém” que não tem medo de voltar. Trata-se apenas de uma questão de tempo.
Rastros estes que ainda estão aí, merecendo destaque à nossa capital gaúcha, pois lá, pasmem os senhores, resta cerca de 07 comportas abertas aguardando dar as “boas-vindas” a uma nova visita do Guaíba às avenidas do centro Porto Alegre, um prenúncio trágico e nada cômico em alusão ao dito popular “eita Rio Grande sem porteira, tchê!!!”.
E por falar em avenida, de sem porteira à portela, quase que o PIX doado por muitos gaúchos, por muito pouco, não foi parar no sambódromo da Sapucaí, no RJ. Requebrando as cadeiras e tudo mais que viesse pela frente, sob a regência da insensatez, inebriado pelo poder, tal samba viria fatalmente enredar o maestro para escolhas futuras.
Não por acaso, pois totalmente desafinado com a realidade do RS, portanto, fora de tom, viria, imagino, no alto do carro abre-alas nada alegórico, ao som das marchinhas “as águas vão rolar… mamãe eu quero mamar…” e, logo depois, “ei você aí, me dá um dinheiro aí, me dá um dinheiro aí…”, finalizando com “quanto riso, oh, quanta alegria, mais de mil palhaços no salão…”.
É, meus caros, nunca foi tão difícil tirar leite de pedra!
E entremeio ao palavreado técnico, cota de inundação daqui, tantos milímetros dali e o retórico discurso político encharcado de gerúndio – estamos fazendo, estamos dando as tratativas, estamos avaliando – ao empurra-empurra dos poderes constituídos, lá estão novamente os desabrigados, os mais carentes, como sempre, famílias enlutadas e, com elas, duas certezas: literalmente, o medo da próxima chuva e a cota de paciência… esta…acabou!
Sem guarda-chuvas para as críticas, surgirão comentários de pessimista, insensível, sequer valoriza e olha o meio copo cheio do que foi feito desde as enchentes…não é?
Justiça seja feita e tomando por exemplo nossa cidade, diga-se, com a ajuda incontestável de muitos braços e mentes, anônimos ou não, e, registra-se, dada a colaboração ímpar do empresariado local ao Poder Público, ergueu-se literalmente muitas pontes, mas, basta olharmos moro acima e estrada abaixo, ainda vaza…
Enfim, a natureza, se configura a maior dicotomia de que se possa ter conhecimento: de um lado fonte de vida, do outro, um desafio à sobrevivência. E assim, perplexo, diante das catástrofes que se avizinham segundo os especialistas, próprias da herança de nosso tempo, está mais do que na hora de o ser humano não vir a ser a sua própria gota d’agua…
Vamos em frente!