Assassinato de Anderson Ribeiro, de 31 anos, acende debate sobre estigma social no bairro Municipal

A manhã do sábado, 21, começou com tiros e sirenes na Rua Balduíno Alegretti, no bairro Municipal, em Bento Gonçalves. Anderson Ribeiro, de 31 anos, natural de Venâncio Aires, foi morto a tiros em sua própria residência. Segundo a Brigada Militar, o crime ocorreu por volta das 8h50min. A área foi isolada para o trabalho do Instituto-Geral de Perícias (IGP), e o óbito foi confirmado no local pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

Ribeiro possuía antecedentes por tráfico de entorpecentes e furto em residência. Ainda assim, vizinhos não o descreveram como um homem ruim. “Ele tinha esposa, ela e o filho estavam no hospital, mas não sei bem as causas. O irmão dele morava junto com ele. A gente só ficou sabendo do que aconteceu quando a polícia chegou. Do contrário, ninguém nem imaginava”, conta um morador da rua onde ocorreu o crime, que pediu para não ser identificado.

O crime está sendo investigado pela Polícia Civil, que recolheu imagens de câmeras de segurança da região para tentar identificar os autores e esclarecer a motivação do homicídio. A execução de Anderson é o 13º assassinato registrado em Bento Gonçalves neste ano. Uma semana antes, no domingo, 15, Reginaldo Cassiano da Costa Junior, de 44 anos, havia sido morto a tiros no bairro Ouro Verde.

Apesar dos antecedentes criminais, vizinhos de Ribeiro pedem cautela ao julgar. “Mataram ele na casa dele. Para mim ele não fez nada. Ele trabalhava como autônomo e o irmão está de carteira assinada. Só que tudo de negativo que acontece na cidade jogam a culpa no bairro Municipal. Parece que tudo aqui é ruim, e não é assim. Só tem comentários nas redes sociais falando “só podia ser no Municipal”. Esse tipo de caso prejudica o bairro”, desabafa o morador.

A resistência à participação em depoimentos foi evidente. A maioria dos moradores não quis se envolver. “Ninguém quer dar depoimento. É medo, é desconfiança… E também porque sabem que, no fim, o peso acaba caindo sempre nas costas do bairro como um todo”, salienta um outro morador.

O velório de Anderson Ribeiro ocorreu no domingo, 22, na Igreja Cristo Rei, no bairro Bela Vista, em Garibaldi. A cerimônia de despedida foi realizada às 10h, com sepultamento no Cemitério do bairro São Francisco, da mesma cidade.

A Polícia Civil segue ouvindo testemunhas e analisando imagens de câmeras de segurança. Nenhum suspeito foi preso até o momento. A comunidade do bairro Municipal, por sua vez, pede que a busca por justiça não se transforme em mais um capítulo de preconceito social.

Major do 3º BPAT rebate ideia de escalada de violência em Bento

Após o assassinato de Anderson Ribeiro, a subcomandante do 3º Batalhão de Policiamento de Áreas Turísticas (3º BPAT), a Major Estefanie Fagundes Gomes Caetano, reforça que a Brigada Militar segue atuando com intensidade na prevenção e repressão de crimes, mas lembra que a apuração sobre autoria e motivação é atribuição da Polícia Civil. “Essa morte, assim como todas as demais, está sendo investigada pela Polícia Civil. A Brigada Militar atua na prevenção e na repressão, principalmente com prisões em flagrante”, explica a oficial.

Embora os números de mortes violentas ainda preocupem parte da população, a Major enfatiza que os homicídios ocorridos este ano em Bento Gonçalves não têm um padrão único. “Tivemos 13 homicídios em 2025, dos quais dois foram feminicídios, casos em que companheiros ou ex-companheiros tiraram a vida das vítimas, e um foi vinculado a um crime de trânsito. São contextos distintos e não se pode afirmar que essas mortes estejam ligadas entre si”, salienta.

Apesar do episódio trágico no bairro Municipal, ela reforça que o município não está vivendo uma onda crescente de violência. “Pelo contrário, temos uma redução de 32% nos homicídios em comparação com o mesmo período de 2024. No ano passado, eram 19 até esta data; agora, são 13. E no bairro onde ocorreu esse último homicídio, este foi o primeiro caso registrado em 2025”, afirma.

A subcomandante também negou a existência de disputas territoriais entre facções na cidade. “Atualmente, não há indícios de confrontos territoriais em Bento Gonçalves. Estamos em uma fase de queda nos indicadores criminais”, frisa.

Quanto à presença do crime organizado nas ocorrências do ano, a Major reiterou que somente a Polícia Civil poderá apontar oficialmente quais casos têm esse vínculo, após conclusão dos inquéritos. “Muitas informações ainda não podem ser divulgadas”, explica. A Polícia Civil não respondeu às questões relativas ao tema.

Sobre as ações para manter a segurança, a oficial destacou o trabalho contínuo da Brigada Militar. “Existe uma redução do CVLI, que são os crimes violentos letais intencionais e também a redução dos demais indicadores monitorados pelo programa RS Seguro. A Brigada Militar têm realizado um intenso trabalho de prevenção, e executado diversas operações, como a Cerco Fechado, a Fecha Quartel, Escola Segura, tudo para prevenir a incidência de crimes e manter os indicadores controlados.

Estamos trabalhando fortemente até mesmo com apoio externo para manter os bons índices que temos conseguido até esse final de semestre”, destaca.

Por fim, ao abordar o perfil das vítimas de homicídio, Estefanie explica que o padrão observado em Bento Gonçalves acompanha o que se verifica nacionalmente. “Temos a informação, baseada em diversos estudos avaliando o perfil das vítimas de homicídios, que a maioria são homens e numa faixa etária jovem. Da mesma forma, Bento Gonçalves reflete esse mesmo perfil. Não é algo específico que ocorra somente aqui”, finaliza.

A morte de Anderson Ribeiro está sob investigação, e até o momento ninguém foi preso. A 2ª Delegacia de Polícia Civil de Bento Gonçalves, representada pelo Delegado Rodrigo Morale, só informou que foi instaurado inquérito policial para identificação do autor do fato e da motivação do crime. “Estamos aguardando perícias e ouvindo testemunhas”, conclui Morale.

“É o primeiro homicídio do ano no bairro Municipal, não é um bairro que tem muitos indicadores criminais. Não tratamos como um bairro problemático, até porque é um bairro que liga zonas importantes da cidade”, Estefanie Fagundes Gomes Caetano, Subcomandante do 3° BPAT