Com a chegada oficial do inverno na última sexta-feira, 20, o Rio Grande do Sul se prepara para dias de frio intenso, geadas e a tradicional busca por conforto térmico. Lareiras e aquecedores, aliados indispensáveis para enfrentar as baixas temperaturas, voltam a aquecer os lares gaúchos. No entanto, o aumento da sua utilização acende um alerta importante: a necessidade de redobrar os cuidados para garantir que o aconchego não se transforme em risco.
Para garantir a segurança durante esse período, Gustavo Kist, Comandante da 3ª Companhia de Bombeiro Militar, alerta para a necessidade de redobrar os cuidados. “Com a chegada do frio mais intenso, há um grande aumento da procura por aquecedores, sejam eles a gás, elétricos ou mesmo com combustíveis líquidos. E o cuidado deve ser sempre redobrado quando lidamos com materiais com grande fator de ignição, pois eles apresentam um risco considerável se não usados corretamente”, salienta.

Gustavo Kist, Comandante da 3ª Companhia de Bombeiro Militar

Riscos
De acordo com Kist, os aquecedores elétricos e a gás portáteis são práticos e eficazes para aquecer ambientes pequenos, mas escondem vários riscos aos quais devemos nos atentar.
Aquecedores elétricos: risco de incêndios: causado por superaquecimento ou proximidade com materiais inflamáveis (cortinas, roupas, papéis); choque elétrico: uso com tomadas danificadas, extensões inadequadas ou fios expostos; curto-circuito: por má conservação ou acúmulo de poeira.
Aquecedores a gás: intoxicação por monóxido de carbono (CO): em ambientes mal ventilados; explosão ou vazamento de gás: devido a conexões mal feitas ou equipamentos defeituosos; incêndio: por uso próximo a materiais inflamáveis ou vazamentos.
O conforto que eles proporcionam exige atenção redobrada para evitar acidentes. O uso inadequado desses equipamentos é uma das principais causas de incêndios e intoxicações durante a estação mais fria.
Para garantir um inverno seguro e quente, confira as medidas de segurança essenciais para o uso de aquecedores elétricos e a gás explicadas por Kist:
Para aquecedores elétricos

  • Use em tomadas adequadas: Evite extensões, benjamins ou adaptadores;
  • Mantenha distância segura: mínimo de um metro de materiais inflamáveis;
  • Supervisione o uso: nunca deixe ligado ao sair de casa ou ao dormir;
  • Inspeção regular: verifique cabos e plugues quanto a danos ou aquecimento excessivo;
  • Evite áreas úmidas: como banheiros, a menos que o equipamento seja específico para isso;
    Para aquecedores a gás:
  • Ventilação obrigatória: nunca use em ambientes fechados sem janelas ou ventilação adequada;
  • Verifique vazamentos: use água com sabão nas conexões e observe bolhas (nunca use fósforos para testar);
  • Desligue quando não estiver em uso: inclusive o registro do botijão;
  • Manutenção regular: feita por profissional autorizado, especialmente nas conexões e mangueiras;
  • Evite mover o aparelho em funcionamento: para prevenir rupturas na mangueira.
    Com o frio intenso, o calor da lareira é um dos grandes prazeres do inverno gaúcho. No entanto, para que o aconchego não se transforme em preocupação, é fundamental evitar alguns erros comuns que podem comprometer a segurança, conforme alertado pelo Capitão:
  • Usar madeira verde ou úmida: Madeira mal curada produz mais fumaça e um acúmulo excessivo de creosoto, uma substância altamente inflamável;
  • Não limpar regularmente a chaminé: o creosoto acumulado nas paredes da chaminé é um dos principais causadores de incêndios;
  • Acender o fogo com líquidos inflamáveis (álcool, gasolina): essa prática é extremamente perigosa e pode causar explosões e queimaduras graves;
  • Deixar o fogo sem supervisão: mesmo em lareiras fechadas, o fogo nunca deve ficar sem vigilância, especialmente com crianças ou animais por perto;
  • Não usar proteção frontal (tela ou vidro): a ausência de uma tela ou vidro protetor favorece a projeção de fagulhas, que podem iniciar incêndios no ambiente;
  • Obstruir ou não instalar ventilação adequada: a falta de ventilação gera má combustão e aumenta o risco de acúmulo de monóxido de carbono, um gás inodoro e tóxico;
  • Descartar cinzas ainda quentes em local inadequado: as cinzas podem manter brasas por até 24 horas. Descartá-las incorretamente, como em lixeiras comuns, pode causar incêndios.
    Além de evitar os erros comuns, a segurança da sua lareira passa por uma rotina de manutenção e medidas preventivas. O Capitão Kist ressalta a importância de seguir à risca as orientações para um inverno tranquilo e aquecido.
    Superaquecimento
    Aquecedores, chuveiros elétricos e cobertores térmicos se tornam itens indispensáveis e, com eles, o consumo de energia elétrica dispara. “Nessa época mais fria do ano, é comum o aumento do uso de aparelhos de aquecimento, como aquecedores, chuveiros elétricos e cobertores térmicos. Isso eleva significativamente o consumo de energia e pode sobrecarregar as instalações elétricas, aumentando o risco de curtos-circuitos e incêndios residenciais”, salienta Kist.
    Muitos acidentes domésticos, como curtos-circuitos e incêndios, são resultado de práticas que sobrecarregam a rede. Para proteger sua casa e sua família, Kist alerta sobre os erros mais comuns que levam à sobrecarga elétrica:
  • Sobrecarga de circuitos: quando muitos aparelhos de alto consumo são ligados ao mesmo tempo em uma mesma tomada ou circuito, o sistema pode superar sua capacidade de carga. Isso gera calor excessivo nos fios, o que pode levar ao derretimento do isolamento e causar incêndios.
  • Uso de ‘T’s (benjamins): os “T’s” são usados para multiplicar o número de aparelhos ligados a uma única tomada. No entanto, eles não distribuem a carga elétrica adequadamente, favorecendo a sobrecarga e o superaquecimento da instalação.
  • Extensões inadequadas ou improvisadas: fios mal dimensionados, com má qualidade ou mal conectados, podem aquecer além do normal, derreter e até entrar em combustão. Muitas extensões domésticas não suportam o uso prolongado de aparelhos de potência elevada.
  • Falta de dispositivos de proteção: instalações sem disjuntores ou com disjuntores antigos podem falhar em interromper a corrente elétrica em caso de falha, permitindo que a temperatura continue subindo até ocorrer um incêndio.

Aquecimentos improvisados
Com o frio, é comum buscar alternativas para aquecer a residência. Muitas pessoas acabam improvisando, utilizando fornos, fogões ou churrasqueiras como fontes de calor. No entanto, essa prática, que parece inofensiva, traz sérios riscos à saúde e à segurança, com potencial para ter consequências trágicas.
O Capitão Kist alerta para os perigos ocultos dessas soluções improvisadas, que vão muito além de um simples aquecimento.
Perigos do aquecimento Improvisado (fornos, fogões, churrasqueiras):

  • Intoxicação por Monóxido de Carbono (CO): o monóxido de carbono é um gás incolor, inodoro e altamente tóxico, conhecido como “assassino silencioso”; ele é liberado na queima incompleta de combustíveis como gás, carvão ou lenha; sintomas incluem tontura, desmaios, náuseas e, em casos graves, pode levar à morte por asfixia; ambientes fechados aumentam drasticamente o risco de intoxicação, pois o gás se acumula rapidamente; incêndios: chamas abertas ou superfícies quentes próximas a cortinas, móveis e tecidos podem iniciar focos de incêndio rapidamente; é crucial lembrar que fogões e churrasqueiras não foram projetados para funcionar por longos períodos como aquecimento, muito menos em ambientes sem ventilação adequada;
  • Explosões e vazamentos de gás: o uso contínuo e incorreto de fogões ou fornos para aquecer pode causar o acúmulo de gás e vazamentos na instalação, com alto risco de explosão.
  • Superaquecimento e Queimaduras: equipamentos improvisados aquecem de forma irregular e perigosa, elevando a temperatura de objetos ao redor e das próprias superfícies, o que pode causar queimaduras graves, principalmente em crianças e idosos.

Por que desligar aquecedores e lareiras ao sair ou dormir?
Mesmo com equipamentos próprios para aquecimento, a atenção deve ser constante. Kist reforça a importância de desligar aquecedores e lareiras antes de sair de casa ou ir dormir:
• Evita incêndios acidentais: mesmo um aquecedor elétrico em boas condições pode causar curtos-circuitos ou superaquecimento se deixado ligado sem supervisão; lareiras, por sua vez, podem soltar fagulhas que, sem vigilância, iniciam focos de incêndio.
• Reduz risco de intoxicação: aquecedores a gás ou lareiras que funcionam sem ventilação adequada podem liberar monóxido de carbono durante a noite. Dormir nessas condições impede que as pessoas percebam os sintomas, aumentando exponencialmente o risco de intoxicação grave ou fatal;

  • Economia de energia e gás: evita desperdício e reduz o risco de acidentes.

Queimaduras
Esses dispositivos, embora úteis, também representam um alerta importante: os riscos de queimaduras que exigem atenção redobrada. “Durante o inverno, o uso de equipamentos para aquecer ambientes ou o corpo aumenta significativamente — como aquecedores, lareiras, fogões a lenha e até bolsas de água quente. Esses dispositivos, embora úteis, também representam riscos de queimaduras”, afirma Kist.
Principais causas de queimaduras no inverno:

  1. Contato direto com fontes de calor: tocar em aquecedores elétricos ou a gás; encostar em lareiras, fogões a lenha ou superfícies metálicas aquecidas;
  2. Uso incorreto de bolsas de água quente: água quente demais; vazamentos por rachaduras ou má vedação; aplicação direta na pele sem proteção.
  3. Aquecedores portáteis mal posicionados: perto de cortinas, cobertores ou móveis inflamáveis; risco de queda e contato com a pele;
  4. Álcool e outros combustíveis: utilizados para acender lareiras ou churrasqueiras — podem causar queimaduras graves em caso de explosões ou acidentes;
  5. Choques térmicos em banhos: banhar-se com água excessivamente quente, especialmente em crianças e idosos com sensibilidade reduzida.

Primeiros Socorros em caso de queimadura:
Segundo o Capitão dos Bombeiros, as medidas variam conforme o grau da queimadura (superficial, parcial ou profunda), mas as primeiras ações podem minimizar danos:
O que fazer:

  1. Interromper a causa: afastar a pessoa da fonte de calor imediatamente;
  2. Resfriar a área queimada: lavar com água corrente fria (não gelada) por 10 a 20 minutos. Isso ajuda a interromper o processo de queimadura;
  3. Proteger a área: cobrir com um pano limpo, úmido e não aderente. Evitar contaminação;
  4. Aliviar a dor: pode-se usar analgésicos comuns, como paracetamol, se necessário;
  5. Buscar atendimento médico: sempre em casos de queimaduras extensas, bolhas, mudança de coloração, queimaduras em face, genitais, mãos ou pés, ou se a vítima for criança ou idoso.
    O que não fazer:
  • Não usar pasta de dente, manteiga, café, óleo ou pomadas caseiras;
  • Não estourar bolhas;
  • Não retirar roupas grudadas na pele.
    Além dos cuidados citados acima, o Capitão Kist também enfatiza a recomendação de instalação de detectores de fumaça em sua residência. “Esses dispositivos são simples, acessíveis e podem salvar vidas ao alertar precocemente sobre a presença de fumaça, sinal comum de um incêndio”, salienta o Capitão.
    Além disso, o extintor de incêndio é outra peça fundamental no controle de fogo. “Extintores de incêndio em casa são úteis, especialmente para conter pequenos focos de incêndio (como em cozinhas) antes que se tornem incontroláveis. O tipo recomendado seria Extintor de Pó Químico Seco (ABC), pois ele tem sua aplicação para papel, madeira, líquidos inflamáveis, equipamentos elétricos”, explica.
    Em caso de fogo, saber como agir rapidamente faz toda a diferença. Siga estes passos simples para manusear um extintor de forma eficaz: retire o extintor do suporte; puxe o pino de segurança; aponte o bico para a base das chamas. Lembre-se: o objetivo é sufocar o fogo na sua origem; aperte o gatilho e faça movimentos de varredura, cobrindo toda a base do foco de incêndio.
    Jamais use extintor de água em incêndios que envolvam eletricidade ou óleo quente. O uso incorreto pode piorar a situação ou causar choque elétrico. Certifique-se de ter o tipo de extintor adequado para os riscos da sua casa (geralmente um ABC, que atende a diversas classes de incêndio).
    Para garantir um inverno seguro e livre de acidentes, o Kist reforça algumas medidas essenciais de prevenção: “nunca durma com velas acesas, mantenha aquecedores longe de cortinas e objetos inflamáveis, evite sobrecarga de tomadas e nunca deixe crianças sozinhas próximas ao fogo”, conclui.