Com o sonho de participar do Rodeio de Cristalina em Goiás, Laura e sua família buscam recursos junto a comunidade para deslocamento e estadia durante a competição

No cenário do tradicionalismo gaúcho, uma jovem atleta de Bento Gonçalves, Laura Zat, 12 anos, emerge como uma das figuras promissoras na modalidade do laço. Com apenas cinco anos, ela iniciou sua jornada neste esporte, que transcende a prática desportiva para se configurar como um elemento cultural e familiar.

Questionada sobre o início de sua paixão pelo laço, Laura relata: “meu pai laça há muito tempo, e eu sempre o acompanhei. Com o passar dos anos, comecei a me interessar. Aos cinco anos, identifiquei um potencial para desenvolver o laço comprido”, afirma.

O percurso de Laura no esporte tem sido marcado por dedicação e aprimoramento contínuo. As arenas tornaram-se o palco de sua evolução, onde cada laçada representa um passo em direção à excelência. Ao longo de sua trajetória, Laura enfrentou desafios que contribuíram para sua formação como competidora. “Um dos maiores desafios foi a conquista da Vacaria. Na final, atirei dobrada e fiquei abalada. Ao ser chamada para mais uma tentativa, consegui a vitória para me consagrar campeã da prova Vacaria”, narra, evidenciando a superação de momentos de pressão.

Desde pequena Laura já ganhava troféus na vaca parada

A vitória em Vacaria, em 2024, destaca-se como um dos pontos culminantes de sua carreira até o momento. “Um dos momentos mais marcantes foi a Vecaria de 2024. O desejo de obter aquele prêmio era intenso. E eu rezei muito para que ele fosse meu. Ao chegar ao brete, uma sensação me indicou que eu seria campeã da festa. Nunca havia competido com tamanha convicção”, descreve. Tais experiências, tanto as vitoriosas quanto as de aprendizado, têm sido cruciais para o desenvolvimento de Laura no esporte.

Atualmente, o foco de Laura está direcionado ao Rodeio Nacional em Cristalina, Goiás. A oportunidade de representar o Rio Grande do Sul nesta competição de relevância nacional é encarada com seriedade e responsabilidade. “Sempre foi um objetivo participar do brasileirão, e com a força de Deus irei competir. Será necessário muito foco e dedicação, pois representarei uma região”, pontua, muito consciente do significado de sua participação. A disputa por um título nacional materializa uma aspiração perseguida pela atleta desde cedo.

A rotina de preparação para o Rodeio Nacional é rigorosa. Laura e sua equipe dedicam-se a treinamentos intensivos, visando o aprimoramento técnico e a otimização de suas laçadas. “Nos treinos, sempre visualizo as voltas de laço, mesmo que não seja em competição. Estou treinando continuamente e me dedicando mais a cada dia”, informa, sublinhando o compromisso com a preparação. A busca pelo título de Campeã Nacional de Laço exige, além de habilidade, um preparo físico e mental apurados.

O título nacional representa um marco significativo para qualquer laçador, e para Laura, não é diferente. É a concretização de um objetivo que se aproxima. “Cada dia, sinto que está mais próximo. Creio que o prêmio virá. Houve um período desafiador, e agora demonstrarei que nada é impossível”, compartilha, revelando a determinação que a impulsiona.

Nesta trajetória, Laura conta com o apoio irrestrito de sua família. A mãe, Aurea Pertile, em entrevista, detalha a importância da disciplina. “Eu sempre sou muito rígida com ela em relação aos estudos, na verdade com eles, aura e seu irmão de dez anos. É condição primordial que eles estejam bem na escola para poder ir para rodeio, para seguir na competição. Se tirar nota vermelha, não tem. Aí já não vai, e fica em casa recuperando. Mas nunca precisou ficar, graças a Deus”, afirma. A mãe ainda explica as adaptações necessárias devido às competições: “Geralmente saímos na quinta-feira de noite, então ela perde a sexta. Mas há rodeios que precisam sair ainda na terça, competições que são no meio da semana, que geralmente são as que têm a premiação mais alta, então acaba perdendo um pouco de aula sim, mas nada impede que recupere. A prioridade é sempre o estudo”, salienta.

Aurea também ressalta os desafios enfrentados por Laura no ambiente do laço, especialmente relacionados ao preconceito e à cobrança. “O mundo do rodeio em relação à mulher ainda é muito preconceituoso. Ela escuta muita coisa, mas a vontade dela de participar, de vencer e de se destacar é muito maior que tudo que ela escuta”, pontua. A visibilidade e os títulos conquistados por Laura, como o de campeã estadual e da Vacaria aos 12 anos, geram uma pressão adicional. “Cai sobre ela uma cobrança absurda, um olhar de cobrança, e ela se cobra mesmo. Todo mundo erra, senão sempre seria o mesmo vencedor a cada rodeio”, reflete a mãe. Essa cobrança interna e externa levou Laura a um período de instabilidade, mencionado por ela na entrevista ao dizer que “não estava numa fase muito boa”.

A rotina de Laura envolve muito preparo e treinos para as competições

Apesar dos títulos, Aurea revela que Laura conquistou esses feitos sem ter um local fixo para treinar. “Até então esses títulos ela conquistou sem ter lugar para treinar. A gente não tinha os cavalos em hotelaria, então não tinha cancha, nem gado, nem vaca mecânica para ela treinar”, esclarece. A situação mudou a partir de novembro de 2024. “A partir de novembro e  dezembro do ano passado, nós colocamos os cavalos numa hotelaria que tem cancha, e ela passou a treinar para ter um desempenho melhor no estadual. E foi o primeiro ano que ela foi na modalidade superior, que é a modalidade de guria, e ela ganhou em terceiro lugar. Nesse estadual desse ano, e no ano passado em primeiro lugar”, detalha. A mãe observava o impacto da pressão na filha: “Ela estava se cobrando muito, saindo com uma pressão absurda, e cometendo alguns erros que nem ela sabia. Eu via que ela já saía do acampamento desestabilizada, tremendo. Ela me dizia assim: ‘Mamãe, eu não sei o que eu fiz, como, se eu treino tanto, agora eu tenho onde treinar, como que eu estou errando?’ Ela é muito dedicada, ela é uma menina de ouro, assim, ela é especial,” afirma, com orgulho.

A campanha de arrecadação de fundos, destinada a viabilizar a viagem de Laura a Goiás, reflete o apoio da comunidade de Bento Gonçalves ao seu potencial. A mobilização em torno do objetivo da jovem laçadora demonstra a união e a solidariedade local. “Gostaria de expressar minha gratidão a todos que contribuíram, pois cada um demonstra acreditar no meu potencial. Essa campanha me permitiu identificar quem são as pessoas que apoiam este sonho”, agradece Laura. Ela também agradece ao apoio dos pais, que nunca deixaram lhe faltar nada e continuam firmes na mobilização para a arrecadação de fundos, empenho notado de perto por ela.

Para jovens que aspiram seguir no tradicionalismo e no laço, Laura oferece uma mensagem de persistência. “Não desistam facilmente. Mesmo em fases difíceis em qualquer esporte, mantenham a fé e a força. O sucesso virá, e a hora de vocês chegará”, aconselha, incentivando a nova geração a superar os desafios. 

Contatada, a Secretária de Cultura de Garibaldi informou que no momento não há um projeto que destine verbas para a modalidade, e que, devido ao curto período até a competição, não seria possível apresentar um projeto para requisitar a verba. Entretanto, não descarta parcerias futuras, que possam ser apresentadas com mais tempo.

O CTG Sentinela da Serra, ao qual Laura é filiada, não respondeu às nossas perguntas sobre incentivos para laçadores.