Se você gosta de mágica ou se tinha o costume aos domingos à noite de assistir ao programa Fantástico, isso lá pelos idos de 1999, haverá de lembrar de um quadro onde aparecia o Mister M, apresentado na voz inconfundível de Cid Moreira.
Sem muitas delongas, o famoso mágico desvendou publicamente inúmeras mágicas e quebrou em pedaços a ética dos mágicos guardada a sete chaves quanto ao segredo dos truques. Por consequência a magia sumiu sem graça, num palco sem plateia.
A atitude do personagem Mister M desvirtuou a lógica do espetáculo; mascarado, criou regras próprias, deu de costas à tradição, vendeu-se como showman e a mágica, agora sem encantos…se tornou escrava de sua fama.
Quisera fosse o único, contudo, temos exemplos mil de Mister M, os quais se criam nos mais variados setores da sociedade; aliás, nos tempos atuais, o terreno, em especial em altos planaltos, tem sido fértil para germinar tais sementes da discórdia, da prepotência e da tirania, embora muitos poderão chamar isso de inovação…um erro, pois dali nada se cria, tão pouco se copia, mas muito, muito se destrói.
Então porque conseguem alcançar a fama, a notoriedade?
A maneira de agir sempre é a mesma, quebram regras e/ou dão interpretação diversa à verdadeira essência das existentes, isso tudo de uma hora para a outra e ao bel prazer de seus interesses. Não bastasse, rompem tradições, se idolatram, se autointitulam paladinos, e, a exemplo do Mister M, invertem a ordem natural, ou seja, buscam acima de tudo o reconhecimento pessoal em detrimento da própria mágica, a qual fica em segundo plano.
Talvez seja este o mais prejudicial dos erros, pois esquecem serem eles o meio de atingir o objetivo e não o fim em si mesmos; sim, são importantes e indispensáveis no processo, mas meros instrumentos diante do todo para que a mágica aconteça.
Pois bem, vivemos um tempo em cujo baralho da vida, pseudos Ases são possíveis em razão de tantos que se subjugam como valetes, mesmo não o sendo.
Contudo, no campo da magia é uma coisa, na realidade, especialmente no tocante à liberdade de expressão e à aplicação correta das leis, isso se torna extremamente perigoso.
Guardadas as opiniões em contrário, pois ainda estamos numa democracia, embora muitas vezes seja ela utilizada sorrateiramente como bandeira para esconder razões não tão republicanas, é difícil não conceber como censura e/ou intimidação a forma de como o ex-ministro dos governos Lula e Dilma, Aldo Rebelo foi tratado quando prestava depoimento perante o maior juízo da República na semana passada.
Resumidamente, Rebelo, na qualidade de testemunha, reclamou de censura ao seu depoimento, logo após de ter sido advertido pelo juízo, pois “ousou” dar sua interpretação a determinada declaração segundo ele, de acordo com as regras da língua portuguesa.
Caro leitor, não me cabe e tão pouco faço aqui defesa a qualquer tese, porém, a liberdade de expressão é a voz da liberdade de interpretação, a qual é filha da liberdade de pensamento, ou seja, um direito constitucional e que, data venia, com o devido respeito e igualmente interpretação, o direito em tal caso restou mudo e miúdo pelo medo da ameaça de prisão por desacato, uma censura velada pelo poder do poder, pasmem, pelo juízo maior a quem caberia defende-lo
À luz do dia, a censura do medo reclamada por Aldo Rebelo, diga-se à seu juízo em plena audiência na mais alta instância da Justiça de nosso país, sim, guardadas as devidas proporções e interpretações, tem na palavra CENSURA o mesmo conceito na língua portuguesa quanto ao sofrimento e perseguição que sofrera a então presidente Dilma nos escuros e escusos porões da ditadura militar, da qual recebeu perdão e indenização da Comissão de Anistia.
Em tons diferentes e em volumes mais baixos, contudo, SEMPRE audíveis os gritos do silêncio, ainda assim, a triste “música” da censura encontra eco, quisera NUNCA MAIS se apoderasse de novos “palcos” sob a batuta do medo, cujos maestros, de forma grotesca, não respeitam a CONSTITUIÇÃO da partitura…
Sem dúvida, nota-se, não há melodia nos arranjos, logo, a harmonia da liberdade está em risco…