Reeleito para mais um mandato como vereador, o empresário e líder comunitário fala sobre sua trajetória, os desafios de Bento Gonçalves e o que espera para o futuro da cidade
Gilmar Pessutto nasceu em 20 de julho de 1962, na localidade de São Caetano, atual município de Vila Flores, então distrito de Veranópolis. Filho de agricultores, cresceu em meio ao trabalho no campo, à convivência familiar e à rotina simples do interior. Estudou na Escola Estadual Dosolina Boff e concluiu o ensino médio na Escola Mestre Santa Bárbara, já em Bento Gonçalves, para onde se mudou em 1980, aos 18 anos. Já havia trabalhado esporadicamente na colheita da uva, e encontrou na cidade uma oportunidade de recomeçar. “Morava com minhas irmãs Ivete e Justina, em uma pensão. Era o começo de uma nova vida, cheia de incertezas, mas também de vontade de vencer”, relembra.
Começou como auxiliar de pedreiro, passou pelas móveis Barzenski e Todeschini, até receber, em 1982, o convite que mudaria sua história: seu cunhado Jolar Marcante o chamou para trabalhar em uma metalúrgica. Era o início de uma trajetória empresarial marcada por persistência e visão de futuro.
Liderança empresarial
Em 1987, tornou-se sócio da empresa que viria a se chamar J. Marcante. Começaram com esquadrias metálicas e boxes para banheiro, migraram para material de incêndio e, por fim, se especializaram na manutenção industrial. “Vendi com uma maleta na mão, de empresa em empresa. Sabia que, se um rolamento parasse, a produção travava. A resposta precisava ser rápida. Esse senso de urgência, levei comigo para a política”, conta.
Hoje, a J. Marcante tem matriz em Bento Gonçalves e filiais em Caxias do Sul e São Paulo. Emprega cerca de 40 pessoas. Embora tenha deixado a rotina de vendas há cerca de uma década, Pessutto segue presente no dia a dia da empresa. “Converso com os sócios, olho os números, mas dou autonomia. Conciliar empresa e política sempre exigiu equilíbrio”, afirma.
O sucesso da empresa, segundo ele, não se resume a cifras. “A gente construiu uma reputação com base no comprometimento. Nunca deixei um cliente na mão”, destaca.
Família, gratidão e influência
A relação com a família é parte fundamental da história de Pessutto. Ele relembra com carinho o apoio das irmãs e fala da convivência próxima com a mãe, hoje com 93 anos. “Nos revezamos para visitá-la toda semana. Ela mora com um dos meus irmãos em Vila Flores, está lúcida, bem assistida”, conta.
Uma figura influente em sua trajetória, porém, não veio do núcleo familiar direto, mas sim do cunhado Jolar Marcante. “Foi ele quem me abriu as portas. Se conquistei o pouco que tenho hoje, por mais simples que seja, foi graças ao seu incentivo. Até hoje, ele trabalha com a mesma dedicação”, destaca.
Participação comunitária antes da política
Antes mesmo de ocupar cargos públicos, Gilmar já atuava em associações de bairro, comissões de pais e mestres e comunidades de igreja. Também esteve à frente de ligas de futebol amador, presidindo entidades e organizando campeonatos. “O futebol me abriu muitas portas, tanto no comércio quanto na política. Era ali que nasciam as amizades e a confiança”, relembra.
Primeiros passos na política
A vontade de entrar para a política surgiu antes mesmo de Pessutto conhecer os bastidores do poder. Nos anos 1980, recém-chegado a Bento Gonçalves e morando em uma pensão, ele fazia questão de se vestir com terno e gravata uma vez por mês para almoçar no restaurante Brazão, na Cidade Alta. “A gente caminhava até lá e, mesmo sem cargo nenhum, começava a falar sobre política, só pra parecer que já éramos políticos. O restaurante estava sempre cheio. Era como se a gente estivesse treinando”, relembra, entre risos.
O primeiro cargo veio em 1992, quando foi eleito vereador em Vila Flores, seu município natal. Foi o segundo mais votado, ficando atrás por apenas quatro votos. Acabou presidindo a Câmara por dois mandatos consecutivos. “Foi uma escola. Tive que aprender na prática o que era fazer política no dia a dia, ouvindo as pessoas e resolvendo problemas”, diz.

Ao se mudar de vez para Bento Gonçalves, decidiu tentar a sorte eleitoral em um cenário mais competitivo. Em 2000, recebeu mais de mil votos, mas não conseguiu se eleger por causa do coeficiente eleitoral e da falta de coligação. “Naquela época, o PSDB estava enfraquecido, com poucos candidatos. Faltou estrutura. Eu sabia que precisava de uma coligação, mas não houve tempo de mudar de partido”, explica.
Em 2004, a estratégia mudou: o PSDB formou uma aliança com o PDT, e Pessutto foi eleito com 1.875 votos. O trabalho começou a ganhar força. Foi reeleito em 2008 e novamente em 2012, acumulando passagens como vice-presidente da Câmara e até como prefeito interino, por 12 dias. “Quando a gente está ali, vê de perto como as decisões impactam a cidade. É onde o discurso vira prática”, declara.
Bastidores, coligações e viradas políticas
Na trajetória política de Pessutto, não faltam episódios marcantes. Em 2000, ficou fora por conta do coeficiente eleitoral. Em 2016, perdeu a vaga por apenas 21 votos. “Foi frustrante, mas segui firme. A política é feita de persistência”, afirma.
Ele relembra os bastidores das coligações e a resistência interna de candidatos que dificultaram alianças fundamentais. “Na época, o PSDB não quis coligar. Eu disse que daria problema. E deu. Faltou legenda para elegermos mais vereadores”, relata.
Após um mandato fora, voltou eleito em 2024, agora pelo União Brasil. “Foram 17 candidatos e só elegemos um. Tive 925 votos. Não é só número: é confiança renovada.” Atuou fortemente nos bastidores para consolidar o partido e foi quem articulou a entrada de Diogo Segabinazzi Siqueira, atual prefeito de Bento, no cenário político local. “Convidei ele para ser secretário da Saúde. Hoje é prefeito”, explica.
Projetos com impacto direto na população
Entre os principais projetos de sua atuação legislativa, destaca a regularização fundiária nas regiões do Santa Helena, Santa Marta e Santo Antão. “Mais de 600 famílias receberam compensações por meio de índices construtivos. Isso permitiu que os terrenos continuassem com os moradores, mesmo sem possibilidade de construção, mas sem perda patrimonial”, esclarece.
A medida envolveu articulação com o Ministério Público e resultou na redução do recuo obrigatório de 50 para 30 metros nos arroios, além de uma solução inovadora de indenização por meio de venda de índices construtivos. “Criamos uma associação dos afetados. Lutamos juntos. Hoje, é um modelo de solução urbana”, afirma.
Acompanhou também o trabalho da Corsan no saneamento da região. “Sem esse tratamento, os dejetos iriam para o arroio e voltariam para a bacia de captação. Agora, isso não acontece mais”, lembra.
Pessutto também foi autor da proposta que obriga loteadores a entregarem os terrenos limpos, resolvendo um antigo problema dos moradores que precisavam lidar com árvores e replantio. “Antes, o morador tinha que cortar árvores, retirar raízes, replantar. Agora, o loteador entrega pronto pra construir”, destaca.
Outra conquista foi a instalação de biombos nas agências bancárias, medida que reduziu significativamente os assaltos após saques. “Muita senhora era observada na fila. Hoje, isso não acontece mais”, relata.
Desenvolvimento urbano e defesa da verticalização
Para o novo mandato, a prioridade é clara: desenvolvimento com responsabilidade. “Sem indústria e comércio fortes, não tem arrecadação. Sem arrecadação, não tem saúde, educação, segurança. Precisamos pensar grande”, afirma.
Defensor de uma revisão ousada do Plano Diretor, quer uma cidade que cresça para cima. “Estamos espremidos. O futuro é vertical. Cidades como Farroupilha já lançam prédios de quase 30 andares. Precisamos destravar o progresso”, defende.
Ele propõe que o setor da construção civil tenha mais liberdade para definir os projetos, respeitando normas técnicas, mas com menos entraves burocráticos. “Não é favorecer empresário. É favorecer a cidade”, declara.
Mobilidade e infraestrutura
Na área da mobilidade urbana, vê com preocupação o estrangulamento das vias. Propõe diálogo com o comércio e a população para repensar o uso das ruas, inclusive com restrições de estacionamento em algumas áreas. “Via é para circular. Não dá mais pra pensar cidade como se estivéssemos nos anos 1960”, pontua.
Ele defende mudanças corajosas: eliminar estacionamento em vias centrais, criar novas rotas de escoamento e investir na inteligência de tráfego. “Estamos com 100 mil veículos numa malha viária pensada para 30 mil”, explica.
Sobre turismo e limpeza urbana, reforça: “Turista quer rua limpa, quer ser bem atendido. Isso exige trabalho diário, presença da Prefeitura e cobrança da população”, diz.
Pessutto acredita que a cidade precisa profissionalizar a gestão do turismo e investir em zeladoria urbana. “Não adianta ter paisagem bonita se tem lixo na calçada”, destaca.
Política nacional, enchentes e desafios pós-crise
Pessutto também defende que a política seja feita com responsabilidade fiscal e realismo. Critica a polarização nacional e acredita que Bento deve manter o foco no que está ao seu alcance. “Temos que torcer para que o Governo Federal dê certo, porque os reflexos vêm pra cá. Mas o nosso dever é aqui, com o nosso povo”, declara.
Cita as enchentes como um ponto crítico do último ano: “A cidade ficou no vermelho. Turismo e agricultura sofreram. Mas a recuperação já começou”, afirma.
Uma trajetória com os pés no chão
Aos 62 anos, após oito eleições, diz que não faz planos para o futuro. “Já participei de tudo que era tipo de disputa. Agora, quero fazer um bom mandato. O futuro, a Deus pertence”, pondera.
Ele encerra com um recado à comunidade: “Continuem nos cobrando, participem da política, acompanhem as sessões. Estamos lá para isso. A política é feita para o povo e, com o povo ao lado, a cidade avança”, conclui.
Ao longo de sua trajetória, Gilmar Pessutto atuou de forma próxima à comunidade, com experiências que vão desde o setor empresarial até a política institucional. Com origem no comércio e na indústria, e com anos de envolvimento em associações e conselhos, sua atuação política tem sido pautada por propostas ligadas ao desenvolvimento urbano, regularização fundiária e mobilidade.