Campus Bento Gonçalves mantém ações voltadas à esse público desde o ano de 2013 a partir do Projeto de Extensão “Língua Portuguesa para imigrantes e refugiados”
Desde 2013, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) – Campus Bento Gonçalves desenvolve iniciativas voltadas para o acolhimento e integração de imigrantes e refugiados na comunidade local. Entre essas ações, destaca-se o Projeto de Extensão “Língua Portuguesa para Imigrantes e Refugiados”, coordenado pela Profª Drª Carina Fior Postingher Balzan, docente da área de Letras.
Ensino de português como ferramenta de integração
O projeto consiste na oferta de um curso presencial gratuito, com carga horária de 30 horas, voltado às necessidades linguísticas do dia a dia. A cada ano, são abertas duas turmas, com aulas noturnas uma vez por semana. O objetivo é permitir que os participantes adquiram competências básicas para interagir em situações cotidianas, como apresentação pessoal, compras, acesso a serviços públicos e entrevistas de emprego.

A metodologia adotada baseia-se na perspectiva do Português como Língua de Acolhimento (PLAc), que valoriza os saberes prévios dos estudantes e promove um ambiente de aprendizagem intercultural.
Além do curso presencial, o IFRS oferta o Curso de Língua Portuguesa e Cultura Brasileira para estrangeiros na modalidade de Educação a Distância (EaD). Para os imigrantes e refugiados que realizaram o curso na modalidade EaD, o Campus Bento Gonçalves realiza ainda a aplicação de provas presenciais, exigência do Ministério da Justiça e Segurança Pública para dar entrada no pedido de naturalização brasileira, conforme a Portaria n. 623, de 13 de novembro de 2020.
Desafios e diversidade cultural
Atuar com um público tão diversificado apresenta desafios, como as diferenças de idade, nacionalidade, escolaridade e profissão. “O ensino da língua portuguesa exige dos professores uma postura empática e sensível à história de vida dos estudantes”, destaca Carina. A troca de experiências entre os participantes fortalece a aprendizagem colaborativa, com alunos que possuem maior conhecimento da língua, auxiliando aqueles com mais dificuldades.

Desde a criação do projeto, mais de 600 imigrantes e refugiados já participaram dos cursos. Os grupos são compostos principalmente por haitianos e venezuelanos, mas também incluem pessoas de Cuba, República Dominicana, Bangladesh, Síria, Paquistão, Iraque, Gana e Senegal. Atualmente, há uma turma em andamento com 35 estudantes haitianos e cubanos.
Impactos positivos na vida dos imigrantes
Os relatos dos participantes indicam uma melhora significativa na comunicação e na inserção no mercado de trabalho. Muitos relatam maior segurança para realizar entrevistas de emprego, buscar atendimento médico e interagir com a escola dos filhos. Alguns, inclusive, conseguiram melhores condições de trabalho e promoções dentro das empresas. Outros avançaram nos estudos e ingressaram em cursos superiores no próprio IFRS, conforme destaca Carina. “Sabemos que aprender português não resolve todos os desafios enfrentados pelos imigrantes, mas amplia significativamente suas oportunidades de integração social e acesso a serviços essenciais”, afirma a coordenadora do projeto.

Combate ao preconceito e envolvimento da comunidade acadêmica
O IFRS também atua na promoção de um ambiente acadêmico inclusivo. A interação entre estudantes brasileiros e estrangeiros contribui para ampliar a compreensão sobre migração forçada e direitos humanos. “A presença de estudantes imigrantes e refugiados repercute positivamente em toda a comunidade acadêmica, pois nos possibilita aprender com as trocas culturais e linguísticas e praticar o respeito e a empatia em relação ao outro”, ressalta Carina.
Outro aspecto relevante é a preparação de futuros professores para lidar com esse público. No curso de Licenciatura em Letras – Língua Portuguesa do IFRS, os licenciandos recebem formação específica sobre o ensino de Português como Língua de Acolhimento e desenvolvem materiais didáticos voltados à educação de imigrantes e refugiados da Educação Básica.
