O atropelamento ocorrido no domingo ocasionou na morte de Sandra Leticia de Lima
O caso ocorreu por volta das 5h30min na rua Ciro Cini, em frente a casa noturna Lapa, no bairro Vinosul. O motorista, identificado como um jovem de 22 anos, fugiu do local sem prestar socorro.
Entre as vítimas do atropelamento estão duas mulheres da mesma família. Sandra Leticia de Lima, vítima fatal do acidente, e a irmã, Aline Lutiele, que encontra-se no hospital, aguardando transferência para o hospital de Farroupilha para realização de procedimento cirúrgico.
Mais do que as dores e os hematomas, o acidente deixou uma marca mais profunda para Aline, a perda da irmã. Ela conta que ambas eram inseparáveis, conversavam todo dia através de redes sociais e sempre que possível encontravam-se na casa da mãe.
Apesar do acidente ter ocorrido na saída de uma festa, Aline conta que ambas não saiam muito, devido ao trabalho e os cuidados com a família, e que sempre que saiam era para comemorar alguma conquista ou aniversário. Entretanto, naquele sábado decidiram sair para celebrar o carnaval e aproveitar o feriado.
“Eu e minha irmã éramos muito unidas, confidentes, tínhamos o apoio uma da outra. Ela era minha irmã mais velha, então ela tinha a característica de ser muito responsável e ser nosso apoio. Nós éramos três irmãos e muito unidos. Contávamos tudo uma para a outra, desabafávamos, nos aconselhávamos…”, conta Aline, tomada pela emoção e pela saudade.

Vitoria Leticia de Carli conta que a mãe, Sandra Leticia, era uma pessoa muito alegre, e que não tinha dia ou situação ruim para ela, estava sempre sorrindo, dando risadas e dizendo que as coisas iam melhorar. “Ela não era só minha mãe, era meu porto seguro, minha melhor amiga, meu pilar. Sempre que eu tinha um problema era ela que me socorria, me dava os melhores conselhos sempre”, afirma Vitória emocionada.
Característica reforçada pela amiga, Jéssica Nascimento Gavião, que também estava presente no momento do acidente. Ela conta que as duas se conheceram no trabalho, em uma casa de repouso, e que a amizade surgiu na hora. “Ela era aquela amiga preocupada, ela fazia de tudo e eu fazia de tudo pela nossa amizade. Mas o dia mais marcante para mim foi quando a apresentei a minha irmã, pois achei que não iam se dar bem, mas foi justamente o contrário e nós três passamos a ter uma amizade sem comparação”, explica Jéssica.
Sandra era técnica de enfermagem, Jéssica conta ainda que a amiga era uma profissional dedicada, e que fazia tudo o que era possível pelos pacientes, sempre com um sorriso no rosto. “Uma excelente profissional. Eu agradeço a ela por tudo o que me ensinou nesse nosso ramo de trabalho. E prometo pra ela que vou me esforçar muito para ser uma técnica de enfermagem como ela ”, afirma Jéssica emocionada.
Tanto Sandra quanto Aline sempre foram muito devotadas à família. Sandra Leticia era mãe de três filhos e já tinha dois netos. Mãe e avó dedicada, deixava os momentos de lazer em segundo plano, priorizando atividades com a irmã e os filhos e dedicando-se ao trabalho.
Vitoria conta que a mãe sempre colocava o bem estar e a felicidade dos outros na frente da dela, ajudando todos sempre que podia. “Se era pra sofrer a gente sofria junto, se era pra se alegrar a gente se alegrava junto, se era pra brigar a gente brigava pra defender quem fosse…Ela era uma pessoa maravilhosa, ela tinha um coração muito bom” relembra Vitoria.
O acidente
O atropelamento ocorreu quando elas retornavam ao carro para irem para casa. Aline conta que foi tudo muito rápido. “Eu não vi nada, nem carro, nada. Em um momento estávamos caminhando para o carro e conversando e no momento seguinte eu estava no chão, não conseguia me mexer e as pessoas estavam falando ao meu redor. Quem estava comigo contou que eu desmaiei na hora e que o carro passou por cima de nós de novo”, relembra Aline.

Jéssica, que também foi atingida pelo carro e machucou a perna, conta que não viu de onde veio o carro. “Só entendi o que tinha acontecido quando já estava no chão, mas logo levantei e fui em direção ao carro, pois pensei em retirar a chave dele, para que não fugisse do local, mas então percebi que não tinha chave. Foi nesse momento que ele acelerou e passou por cima das minhas amigas novamente”, conta a técnica de enfermagem.
Apesar de, provavelmente estarem no mesmo ambiente, Aline não lembra de ter visto o rapaz antes, mas que, devido ao relato das testemunhas que viram o acidente, ficou profundamente abalada ao saber quem ele era, pois conhecia a família dele. “O jeito que o acidente aconteceu ainda nos indigna muito. Nós vimos os vídeos das câmeras de segurança agora meio-dia [quinta-feira]. E depois de ver eu tenho certeza que foi uma escolha dele passar por cima dela pela segunda vez. Dava pra ver que ela estava na frente do carro e ao invés dele ter descido do carro, prestado socorro como deveria ele simplesmente fez a escolha de passar por cima dela de novo,” afirma Vitoria com profunda tristeza.
Saudade da família
Aline conta também que está com muita saudades da filha, de oito anos, já que ela não pode estar no hospital. “Nossa rotina era acordar cedo, eu arrumava ela para a escola, e depois levava ela para a casa de uma tia, que ficava com ela enquanto eu trabalhava, retornava e levava ela para casa. Às vezes íamos caminhar ao ar livre, ela levava a bicicleta dela… Era uma rotina de mãe de família, que trabalha, que tem responsabilidades”, conta Aline muito abalada. Ela trabalha na parte comercial de uma empresa de vidros e alumínios.
Aline aguarda leito em Farroupilha para realizar uma operação no quadril, fraturado no acidente, após ainda terá que ficar cerca de 60 dias imóvel, para a total recuperação, o que mudará profundamente sua rotina.
Assim como os demais familiares e amigos, Jéssica pede que a justiça seja feita. “Quero justiça por ela e por nós, porque o que aconteceu… aquela cena…. eu nunca mais vou conseguir esquecer”, afirma.
Aline reforça o pedido por justiça. Que seja feita uma busca ativa, pelas autoridades, até encontrá-lo e que as medidas legais sejam tomadas. Ela pede também que o rapaz se entregue à polícia, que ele “seja adulto” e assuma as responsabilidades por seus atos.
Na quinta-feira, o delegado Rodrigo Morale, titular da 2ª Delegacia de Polícia de Bento Gonçalves, solicitou a prisão preventiva do principal suspeito, um motorista de 22 anos.