A última semana de fevereiro será marcada por altas temperaturas, chegando a ser 7ºC além do normal em algumas regiões do Rio Grande do Sul

Segundo dados da Organização Meteorológica Mundial (OMM), uma onda de calor ocorre quando as temperaturas máximas registradas em uma extensa área ultrapassam 5°C acima das médias mensais do período. A persistência do calor no estado é resultado de um sistema de alta pressão atmosférico que impede o avanço da instabilidade.

Segundo Inmet, a região da Fronteira Oeste, Campanha, Missões, Vale do Rio Pardo e Região Central está no indicativo Laranja no nível de “perigo a saúde”. Já as regiões Metropolitana, Noroeste, Nordeste, Sudeste e toda a faixa litorânea estão na cor amarela de “perigo potencial a saúde”.
É importante ressaltar, que neste período, é recomendado evitar a exposição ao sol entre as 10 horas da manhã e as 16 horas da tarde, aumentar o consumo de água e usar protetor solar.

Mudanças significativas

Segundo um estudo divulgado pelo Kings College London, a temperatura do planeta já ultrapassou o 1,5°C considerados “seguros” pelo acordo de Paris. Esse padrão, estipulado pelos cientistas, levava em consideração um limite em que o sistema climático poderá suportar para manter as condições climáticas “padrões” até o momento.

Douglas da Silva Lindemann, professor de Meteorologia da Universidade Federal de Pelotas, UFPEL, explica que quando o clima global começa se aproximar desse valor, ou o ultrapassa, aumentam as chances de eventos adverso como chuvas extremas, ondas de calor e temporais intensos. O professor explica também que cada região possuí características especificas como o regime de chuvas, oscilações de temperatura e comportamento do vento. Dessa forma, as mudanças que o aumento da temperatura provoca afeta cada região de forma diferente.

Foto Gabriel Marchetto


Um reflexo disso no estado pode ser observado devido as ondas de calor. Lindemann explica que quanto mais CO2 é emitido para a atmosfera mais intenso fica o efeito estufa, “Os cenários futuros, projetados para as próximas décadas indicam isso. Que quanto mais quente a atmosfera estiver no futuro, mais eventos extremos de ondas de calor estaremos sujeitos a enfrentar”, afirma o professor.

Lindemann explica também que um recente estudo realizado na região de Bagé analisou as ondas de frio desde o ano de 1980 até 2020. Os resultados da pesquisa mostraram que há uma diminuição, com o passar das décadas, nos dias com temperaturas baixas extremas. “Então é importante ressaltar isso, com o aquecimento global, o frio não irá desaparecer no inverno, mas ele pode se tornar menos rigoroso e menos duradouro”, enfatiza.

O professor explica também que o aumento das temperaturas fas coom que haja a maior ocorrência de temporais e eventos extremos de chuva, como o valor que deveria ser esperado de chuva para o mês inteiro ocorrer apenas em um dia. “Quanto mais quente a atmosfera estiver, mais instável ela fica, é a mesma coisa que uma panela sobre o fogo, se ela estiver em fogo baixo, ela irá ferver um pouco, levantando algumas bolhas, agora se aumentarmos esse fogo, ela começará a ferver mais e levantar mais bolhas, pois é uma forma que a água está encontrando de dissipar calor,” exemplifica o meteorologista.
Na contramão desse cenário, há também a escassez de chuva, devido a irregularidade da distribuição. “Em outro estudo recente, em que analisamos mensalmente o comportamento das chuvas no Rio Grande do Sul nas últimas quatro décadas, verificamos que aquela característica das chuvas bem distribuídas ao longo do ano, e que é característico do estado, está mudando”, explica o professor, que ainda ressalta a tendencia a ter um aumento de chuvas na primavera a diminuição durante o outono.

A agricultura, de forma geral, deve sofrer os principais impactos dessa mudança, principalmente das ondas de calor que proporciona uma maior perda de umidade do solo e das plantas, além de atrapalhar o desenvolvimento de determinadas fases das culturas, principalmente àquelas que são mais sensíveis a temperaturas mais altas ou que necessitam de horas de frios para o desenvolvimento. “No caso da uva, um outro ponto a se destacar é que numa condição de atmosfera mais aquecida é esperado que a umidade relativa do ar comece a ficar mais alta também. Com uma atmosfera mais quente e úmida é uma condição propícia para ocorrência de fungos, que podem impactar a cultura. Por fim, ondas de calor fora de época pode estimular as culturas a acelerar determinados ciclos, fazendo com que a produção seja mais rápida, porém com uma qualidade inferior”, finaliza Lindemann.