A busca pelo extremo norte das Américas está prestes a começar para os jornalistas bento-gonçalvenses Carina Furlanetto e João Paulo Mileski. O casal, que já percorreu toda a América do Sul e os 26 estados brasileiros em expedições anteriores, agora encara o maior desafio de suas vidas: viajar até o Alasca a bordo de um Renault Sandero 1.0. O veículo, além de meio de transporte, serve como casa improvisada na estrada.

Uma vida sobre quatro rodas

A história da transformação do Sandero em lar começou em 2019, quando o casal decidiu tirar do papel um sonho antigo: percorrer a América do Sul. A ideia inicial era utilizar um motorhome, mas os custos elevados tornavam a possibilidade inviável. A solução foi utilizar o próprio carro que já possuíam. “Até poderíamos esperar mais tempo para tentar juntar o valor necessário, mas corríamos o risco de o tempo passar e o sonho morrer”, conta Carina.

No início, o veículo contava apenas com uma bateria extra para recarregar eletrônicos e alimentar uma panela elétrica. Com o tempo, foram adaptando o espaço: os bancos traseiros foram removidos e substituídos por baús de armazenamento, sobre os quais um colchão dobrável se tornou a cama do casal. Dessa forma, economizaram com hospedagem e ganharam mais autonomia na estrada.

Duas grandes expedições antes do grande norte

A primeira aventura de Carina e João durou 421 dias, entre fevereiro de 2019 e 2020. Nesse período, o casal percorreu Uruguai, Argentina, Chile, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela e Guiana, até que a pandemia da Covid-19 os forçou a retornar a Bento Gonçalves. Durante esse período de pausa, escreveram o livro “Brasis Adentro”, que narra suas experiências na estrada.

Em maio de 2021, partiram para a segunda grande expedição, com o objetivo de conhecer todos os estados do Brasil. A jornada durou 896 dias e incluiu desafios como enfrentar estradas precárias, temperaturas extremas e até um atolamento no Sertão da Bahia. “Atolamos em uma estrada que já fez parte do Rally dos Sertões e tivemos que caminhar seis quilômetros até encontrar ajuda. Depois, quebramos o radiador e passamos uma semana morando em um posto de combustível até conseguir peças para o conserto”, lembra Mileski.

A nova jornada: rumo ao Alasca

Agora, o casal se prepara para a expedição que os levará ao último extremo inexplorado por eles no continente. “Em 2019, chegamos ao extremo sul, em Ushuaia, e agora queremos alcançar o extremo norte”, explica Carina. A previsão é que a viagem dure entre dois e três anos, atravessando países da América Central e do Norte até chegar ao Alasca.

A logística da jornada segue um planejamento flexível. A alimentação será preparada com a panela elétrica, e a pernoite, sempre que possível, será em postos de combustível ou locais recomendados por viajantes no aplicativo iOverlander. “Muitas pessoas pensam que é preciso um planejamento super minucioso, mas na estrada tudo pode acontecer. O que fazemos é mapear pontos de interesse e ajustar a rota conforme necessário”, explica.

Como financiar uma viagem tão longa?

No início, as expedições foram financiadas com as economias do casal e o aluguel de um apartamento. Com o tempo, criaram o perfil “Crônicas na Bagagem” no Instagram, que cresceu e permitiu que diversificassem as fontes de renda. Hoje, a principal forma de financiamento da nova jornada é a venda do livro “Brasis Adentro”, que conta suas aventuras pelo Brasil. Interessados podem adquirir o livro diretamente pelo Instagram (@cronicasnabagagem).

Desafios e aprendizados na estrada

Entre os maiores desafios das viagens, o casal destaca a distância da família e a falta de certos confortos, como banho quente diário. “Algumas pessoas chamam isso de perrengue, mas para a gente é apenas o ônus da escolha que fizemos”, reflete Mileski.

Apesar das dificuldades, destacam que o maior aprendizado foi perceber que o mundo não é tão perigoso quanto muitas pessoas imaginam. “A insegurança existe, mas há muito mais gente boa do que ruim no caminho. Se sentimos que um local não nos transmite segurança, simplesmente seguimos para outro”, acrescenta Carina.

E depois do Alasca?

Para um casal que já percorreu praticamente todo o continente americano, o que vem depois? A resposta ainda é incerta, mas Carina e João garantem que o espírito aventureiro continuará guiando seus passos. “Nosso foco agora está no planejamento para essa próxima expedição, mas depois disso, só Deus sabe!”, conclui Carina.

Fotos: Redes Sociais/ Reprodução