O sábado, dia 1, foi de movimento na Via Del Vino, programações artísticas chamaram atenção da população para a feira

O Festival da Agroindústria Familiar Encantos da Terra movimentou a programação do Bento em Vindima no último sábado, 1º de fevereiro, reunindo produtores rurais, artesãos e visitantes na Via del Vino. O evento destacou a importância da agroindústria familiar na economia local e reforçou o vínculo entre os consumidores e os produtores, que comercializam produtos artesanais e alimentos típicos da cultura italiana.

Tradição e sabor: a experiência da feira

Entre os principais atrativos do festival esteve a pisa da uva, um dos rituais mais emblemáticos da imigração italiana. A tradição, que remonta ao final do século XIX, permitiu que o público vivenciasse o processo de produção do vinho como era feito pelos primeiros colonizadores, ao som de cantorias e músicas típicas. Além disso, os visitantes puderam apreciar pratos tradicionais, como o almenarosto, técnica italiana de assar carnes em espetos giratórios, diferenciando-se do churrasco convencional.

O evento também contou com apresentações culturais ao longo do dia. A Banda de São Pedro abriu a programação, seguida por apresentações do Coral Vale dos Vinhedos, do Grupo de Danças Folclóricas Juvenil Caminhos de Pedra e dos músicos Dirceu Pastori, Paulo Johann, Carol Gobatto, Jeverson Carelli e Grupo Identidade.

A importância da feira para os produtores rurais

A agroindústria familiar teve um espaço de destaque no festival, com 15 produtores comercializando pães, cucas, bolos, grostoli, massas congeladas, capeletti, biscoitos, geleias, pizzas, amendoins caramelados, focaccias, risoles e polenta. Para muitos deles, a participação no evento vai além das vendas – representa uma oportunidade de divulgar seus produtos e fidelizar clientes.

Elaine Cristina Pertile Moro, da agroindústria EM Produtos Coloniais de São Valentim, ressalta que participa de todas as edições das feiras. “O que mais vendo é o pão quentinho e a pizza feita na hora, mas também trago biscoitos, bolos, focaccia e a torta tirolesa”, conta. Segundo ela, a feira é um diferencial no contato com os consumidores. “A melhor coisa não é vender a primeira vez, é vender a segunda, a terceira. Graças a Deus, tenho muitos clientes que sempre voltam”, diz.

A produtora ainda destaca a crescente valorização da agroindústria familiar. “O pessoal está entendendo melhor a qualidade dos produtos. Há uma preparação rigorosa para termos uma agroindústria regularizada, e isso garante produtos diferenciados”, afirma.

Alice Menoncin, da Aliana Gastrô, participou pela primeira vez do festival como agroindústria, mas já havia participado de outras edições da Vindima. “Eu adoro eventos, me sinto à vontade. Estamos divulgando nossa polenta, que é o que gostamos de fazer. Trabalhamos com polenta brustolada e polenta mole, e também fazemos parcerias com outros produtores, agregando salame e queijo ao prato”, explica.

Ela destaca que o festival se tornou ainda mais importante após os impactos das enchentes no estado. “O pessoal tem buscado ajudar mais o pequeno empresário e os agricultores. A valorização da agroindústria familiar está crescendo e isso é muito positivo para nós”, afirma.

Vinhos e espumantes ganham destaque

O festival também contou com a participação da vinícola Speranza, representada por Andriza Zonta Speranza e Rosilene Muller. Para elas, eventos como esse fortalecem a relação entre produtores e consumidores. “Acreditamos que a população deve ter acesso a bons produtos e que essas feiras beneficiam tanto os produtores quanto às famílias que se dedicam a divulgar seus negócios”, explica Rosilene.

Com a chegada do verão, os espumantes e vinhos brancos se destacaram nas vendas. “O Malvasia e o Peverella são muito procurados, além do nosso lançamento, o Malbec Rosé. É um vinho feito a partir de uma uva tinta, mas com um processo que resulta em uma bebida mais leve, ideal para o calor”, detalha Rosilene.

A vinícola trabalha exclusivamente com produção própria e familiar, cultivando 13 variedades de uvas, incluindo Alicante bouschet, Bonarda, Teroldego, Marselan, Alvarinho e Malvasia. Segundo Andriza, as feiras são essenciais para o fortalecimento da marca. “Ajudam muito na nossa renda, porque vendemos diretamente ao consumidor final. Criamos um vínculo com os clientes, e muitos voltam sempre para comprar conosco”, pontua.

Artesanato local e os desafios do setor

Além da gastronomia e vinhos, o evento também foi uma vitrine para o artesanato local. O casal José Vânio Benatti e Inês Erthal Benatti expôs peças de crochê, roupas infantis, chinelos havaianos decorados, artesanato em palha de trigo e bandejas personalizadas com temas de Bento Gonçalves.

Para Benatti, a feira teve um bom movimento, mas ele acredita que há espaço para melhorias. “O evento poderia ter mais edições ao longo do mês. Três fins de semana seriam ideais para que mais pessoas pudessem participar”, sugere.

Ele também aponta que, apesar do crochê continuar sendo um dos produtos mais procurados, a valorização do artesanato tem oscilado nos últimos anos. “Após a pandemia, algumas peças perderam mercado. O chinelo havaiano decorado, por exemplo, teve uma queda nas vendas nos últimos dois anos”, observa.

Outro desafio enfrentado pelos artesãos é a produção de matéria-prima, especialmente no caso da palha de trigo. “O ano de 2024 foi difícil. A chuva intensa e a neblina estragaram grande parte do trigo, e a colheita precisa ser manual. Isso impacta diretamente na produção”, explica Benatti, que cultiva o próprio trigo para a confecção das peças.

Inês Erthal Benatti e José Vânio Benatti, artesãos

Apesar das dificuldades, ele enfatiza a importância da relação direta com os clientes. “Eu sempre digo que não basta vender, é preciso valorizar o consumidor. Atender bem, cumprimentar, criar um ambiente acolhedor faz com que as pessoas voltem e indiquem para outras. Hoje, as pessoas estão mais conscientes do valor dos produtos artesanais”, conclui.

O Festival da Agroindústria Familiar Encantos da Terra reuniu produtores rurais, artesãos e visitantes em Bento Gonçalves, com venda de produtos coloniais, apresentações culturais e atividades típicas da imigração italiana. O evento faz parte do Bento em Vindima, que segue até 23 de março, com programações distribuídas pelas rotas turísticas e pela área urbana do município.

Fotos: Nathielly Paz