Em entrevista ao Semanário, o diretor do hemocs Roque Lorandi, detalha a situação atual e pede para a população doar sangue

O Hemocentro de Caxias do Sul (Hemocs), localizado na Rua Ernesto Alves, 2260, Centro, junto à Secretaria de Saúde, desempenha um papel crucial no atendimento a pacientes que necessitam de transfusão de sangue. Porém, nos últimos anos, o Hemocs enfrenta diversas dificuldades, incluindo a falta de estoque de bolsas de sangue. Em entrevista ao Semanário, o diretor técnico Roque Domingos Lorandi detalha a atual situação, quais os principais tipos sanguíneos que estão em falta e quando ocorrerão as próximas campanhas de doação.

Baixa no estoque
Lorandi detalha desde quando o Hemocs enfrenta problemas com escassez nas bolsas de sangue. “Piorou bastante a partir da pandemia, que foi uma época que afastou a população das doações por medo. As pessoas queriam proteger a saúde e não queriam sair de casa. Há indícios de que no Brasil e no mundo o quadro se agravou no período pós-pandêmico. Mas a demanda continua. Quem está nos hospitais, em cirurgia ou em tratamento segue necessitando de sangue”, enfatiza. Ele também aponta outro desafio, este ocasionado pela sazonalidade de início de ano. “Caxias é uma cidade com muita gente de fora, e nessa época do ano, muita gente sai para viajar. Então, a situação que já era crítica, se agrava ainda mais. Em janeiro, principalmente, as doações caem bastante”, diz.

Situação dos tipos sanguíneos
Lorandi destaca quais tipos sanguíneos estão com a situação mais crítica. “No momento é o O+, que é um dos tipos mais comuns na população, as bolsas que entram aqui saem imediatamente, pois muitos necessitam. As demais tipagens estão razoáveis. Porém, todas as doações, de todos os tipos sanguíneos, são muito bem-vindas. Sangue é vida, e salva vidas”, afirma.

ESTOQUE ATUAL DE BOLSAS DE SANGUE (28/01):

O+

  • Ideal: 105 bolsas
  • Situação atual: 20 bolsas (19%)

O-

  • Ideal: 30 bolsas
  • Situação atual: 17 bolsas (56.6%)

A+

  • Ideal: 75 bolsas
  • Situação atual: 75 bolsas (100%)

A-

  • Ideal: 11 bolsas
  • Situação atual: 8 bolsas (72.7%)

B+

  • Ideal: 10 bolsas
  • Situação atual: 8 bolsas (80%)

B-

  • Ideal: 2 bolsas
  • Situação atual: 0 bolsas (0%)

AB+

  • Ideal: 6 bolsas
  • Situação atual: 5 bolsas (83.3%)

AB-

  • Ideal: 3 bolsas
  • Situação atual: 2 bolsas (0%)

Campanhas adotadas para engajar a população
Ele aborda quais campanhas o Hemocs têm adotado para engajar a população a doar sangue. “Trabalhamos fortemente nas mídias, sempre há postagens ou chamadas. Nos momentos mais críticos de estoque, buscamos parcerias, participamos de programas. De modo geral, a resposta do público é positiva, e a mídia desempenha um papel fundamental ao sensibilizar as pessoas. No entanto, o efeito dessas campanhas é curto: a mobilização dura poucos dias antes de voltar ao normal”, lamenta.

Lorandi segue detalhando outros meios utilizados pelo Hemocs para chamar a população. “Para reverter essa tendência, investimos em um trabalho contínuo de conscientização. Enviamos comunicados para escolas, realizamos palestras em faculdades, empresas e publicamos materiais educativos. Ainda assim, é um esforço longo e desafiador, enfrentado por instituições em todo o país, mas a queda nos estoques persiste.

O diretor continua. “Além disso, há um fator extra que contribui para essa baixa. Realizamos coletas regulares de sangue em municípios como Vacaria, Bento Gonçalves, Gramado e Canela. No entanto, em janeiro, é difícil firmar essas parcerias, pois muitas instituições estão em recesso. Hoje, 29, por exemplo, será nossa primeira coleta externa do ano, em Farroupilha, e isso já nos ajuda bastante”, aponta.

Lorandi também cita medidas adotadas para que as pessoas doem sangue, mesmo em meio às suas rotinas. “Nos últimos anos, percebemos que as pessoas têm cada vez menos disponibilidade para sair do trabalho ou de suas atividades diárias para doar sangue. Por isso, entendemos que o caminho a seguir é ir até elas. Já ampliamos as coletas externas: em 2022 e 2023, realizamos cerca de 30 por ano; em 2024, passamos de 50. Mesmo assim, os estoques seguem baixos. Para 2025, nosso objetivo é aumentar ainda mais essas ações, dentro dos limites de recursos financeiros e de equipe. Fazemos o possível para garantir que o sangue chegue a quem precisa”, diz.

As próximas coletas externas já programadas serão realizadas em Nova Petrópolis, em 12 de fevereiro, e em Vacaria no dia 26. Em Nova Petrópolis, o agendamento pode ser feito pelo telefone da Secretaria da Saúde: (54) 3298-2650, e em Vacaria é necessário entrar em contato com a Agência Transfusional do Hospital Nossa Senhora da Oliveira pelo telefone (54) 3231-7000.

Atuação do Hemocs em Bento
O diretor segue, abordando as ações realizadas em Bento. “A cidade é uma grande parceira nas nossas coletas. Costumamos realizar cerca de três ao ano no município, sempre em parceria com o hospital e a agência local, além de promover campanhas para incentivar a doação”, diz. Ele explica quando serão realizadas as ações do Hemocs neste ano. “A conscientização também acontece no dia a dia, quando familiares de pacientes são orientados sobre a importância da doação. Para 2025, já temos coletas confirmadas em Bento nos dias 19 de março e 21 de maio, e, provavelmente, realizaremos mais uma no final do ano, possivelmente em 3 de dezembro, embora essa data ainda possa sofrer alterações”, destaca. Os locais e maiores detalhes acerca das coletas deverão ser divulgados em breve.

Apelo para a população, e como doar sangue

Por fim, Lorandi aponta quais os requisitos uma pessoa precisa para doar sangue. “Temos algumas condições básicas que orientamos aos candidatos. No momento da doação, a pessoa passa por uma avaliação inicial que inclui verificação de peso, temperatura, pressão arterial e frequência cardíaca. Além disso, também realizamos uma entrevista individual para garantir a segurança do processo. Essa triagem é essencial para proteger tanto o doador quanto o receptor do sangue”, pontua.

O que é necessário para ser um doador:

  • Ter entre 18 e 69 anos, 11 meses e 29 dias
  • A primeira doação deve acontecer antes dos 60 anos
  • Jovens de 16 e 17 anos podem doar com autorização dos pais ou responsáveis, junto de uma cópia de documento do responsável
  • Apresentar um documento original e oficial (Identidade, Carteira de trabalho, habilitação, ect.)
  • Estar bem de saúde
  • Pesar mais de 50kg
  • Dormir no mínimo seis horas na noite anterior à doação
  • Não estar de jejum
  • Evitar alimentos gordurosos nas três horas antes da doação
  • Não consumir bebida alcoólica nas 12 horas antes da doação
  • Não fumar nas duas horas antes da doação
  • HOMENS: Podem doar a cada 60 dias, máximo de 4 doações a cada 12 meses
  • MULHERES: Podem doar a cada 90 dias, máximo de 3 doações a cada 12 meses

Impeditivos temporários:

  • Sintomas gripais, febre ou diarreia (nos últimos 14 dias)
  • Gravidez
  • Pós-parto normal ou aborto (90 dias)
  • Pós-cesariana (180 dias)
  • Amamentação durante o primeiro ano de vida da criança
  • Uso de alguns medicamentos (consultar)
  • Vacinas (consultar)
  • Tratamento dentário (consultar)
  • Comportamentos de risco
  • Cirurgias (consultar)
  • Endoscopia e colonoscopia (6 meses)
  • Tatuagem, piercing e acupuntura (12 meses)
  • Piercing nas genitais ou cavidade oral (12 meses após a retirada)

Impeditivos permanentes:

  • Hepatite após os 11 anos de idade
  • Hepatites B e C
  • Vírus HIV
  • Doenças ligadas aos vírus HTLV I e II
  • Doença de Chagas
  • Malária

Mais informações podem ser obtidas diretamente com o hemocs, pelos números: (54) 3290-4580 e (54) 98418-8487 (WhatsApp); pelo e-mail: hemocsadm@caxias.rs.gov.br; ou presencialmente na rua Ernesto Alves, 2260, Centro, Caxias do Sul (RS).

Horário de funcionamento:

  • Para doação de sangue: de segunda a sexta, das 8h15min às 16h45min, e sábado, das 8h às 12h.

Lorandi finaliza fazendo um pedido. “Doar sangue é literalmente doar vida. O sangue não é um produto industrializado que pode ser comprado em farmácias ou fabricado. Ele depende da solidariedade das pessoas. Quem precisa de sangue, seja por uma cirurgia, um tratamento ou uma emergência, depende do altruísmo dos doadores”, explica.

Ele segue. “Mais do que doar sangue, é doar esperança. Para quem está no hospital, receber sangue pode significar uma nova chance, uma oportunidade de continuar. Imagine-se em um momento difícil, precisando de sangue, e tendo essa esperança graças à generosidade de outra pessoa. Doar sangue não deve ser motivado apenas por necessidade próxima, como quando um familiar precisa de transfusão. O ideal é que a doação seja feita por sensibilidade e vontade de ajudar o próximo. É um gesto de amor, um seguro que a sociedade faz consigo mesma. Hoje você doa porque está bem, mas amanhã você ou alguém próximo pode precisar”, encerra.