A jornada de quem adota o veganismo revela desafios e soluções práticas para uma alimentação consciente e sustentável, em entrevista, especialista orienta precauções e benefícios
O veganismo, prática que exclui o consumo de produtos de origem animal, tem ganhado destaque no Brasil. De acordo com pesquisa realizada pelo IBOPE, cerca de 14% da população brasileira se identifica como vegana, representando quase 30 milhões de pessoas, um crescimento de 75% em relação a 2012.
No Rio Grande do Sul, uma pesquisa publicada no site Statista revela que Porto Alegre concentra aproximadamente 1.196 indivíduos que se identificam como vegetarianos, veganos ou simpatizantes, seguida por Caxias do Sul com 181 pessoas. Embora não haja dados específicos para Bento Gonçalves, a crescente presença de grupos e eventos voltados ao público vegano na região indica um aumento no interesse por esse estilo de vida.
A nutricionista Êmili Cisilotto Deitos, especialista em Nutrição e Saúde Vegetariana, ressalta os benefícios dessa escolha alimentar: “Uma dieta vegana bem planejada pode melhorar a saúde cardiovascular, reduzir o risco de diabetes tipo 2 e promover o controle do peso devido ao alto teor de fibras”, afirma.
Os desafios nutricionais
Apesar dos benefícios, Êmili aponta que a adoção do veganismo requer planejamento cuidadoso, especialmente para garantir o consumo adequado de nutrientes como vitamina B12, ferro, cálcio e ômega-3. “A vitamina B12, essencial para o sistema nervoso e a formação de glóbulos vermelhos, é encontrada quase exclusivamente em produtos de origem animal. Veganos devem consumir alimentos fortificados ou suplementos para evitar deficiências”, explica. Ela também enfatiza a importância da vitamina D, especialmente para quem vive em regiões com pouca luz solar.
Além disso, a especialista destaca a relevância de ácidos graxos ômega-3, fundamentais para a saúde do coração e do cérebro. “Fontes vegetais como sementes de chia, linhaça, nozes e o óleo de algas são boas alternativas para quem não consome peixes”, orienta. Para o ferro, a nutricionista recomenda: “Consumir alimentos ricos em ferro vegetal, como leguminosas e espinafre, acompanhados de fontes de vitamina C para melhorar a absorção”, destaca.
Histórias de transformação
Luciano Fernandes Pedroso, professor de geografia de 49 anos, relata que sua mudança para o veganismo foi motivada por uma combinação de razões: “O impacto ambiental do consumo de carne e derivados de origem animal e, lógico, o tratamento cruel que a indústria da carne e leite inflige aos animais foram fatores determinantes”, diz. Ele conta que sua transição foi facilitada por consultas com nutricionistas e leitura de materiais especializados. No entanto, nem tudo é simples. “Os maiores desafios são a falta de variedade, principalmente em restaurantes e eventos sociais, onde raramente há opções veganas”, conta.
Além de mudanças na alimentação, Pedroso destaca uma transformação em seu comportamento de consumo. “Hoje leio todos os rótulos, verificando se há ingredientes de origem animal e evitando ultra processados. Também busco informações sobre as empresas, avaliando se elas são éticas e ambientalmente corretas”, pontua. Ele menciona benefícios pessoais. “Meus exames de rotina são sempre excelentes, e percebo que tenho bastante disposição ao longo do dia”, comenta.
Adaptação e conscientização
Para a nutricionista, o veganismo é uma escolha viável e segura em todas as fases da vida, desde que haja acompanhamento profissional. “É possível adaptar a dieta para atender às necessidades de gestantes, crianças e idosos, garantindo uma nutrição equilibrada”, reforça. Ela sugere uma abordagem gradual para quem deseja fazer a transição, começando com substituições simples, como trocar o leite por bebidas vegetais e explorar novas receitas. A nutricionista também aconselha evitar o consumo excessivo de produtos industrializados: “Apesar de práticos, muitos desses alimentos podem conter altos níveis de sódio e aditivos, então priorize opções naturais e integrais”, recomenda.
O futuro do veganismo
Pedroso observa que, embora o veganismo ainda enfrente resistência e preconceitos, iniciativas para desmistificar essa prática estão em crescimento. “No Brasil, ainda há muita resistência, mas também há movimentos fortes a favor do veganismo, inclusive em periferias, desmistificando que seja um movimento elitista”, reflete. Ele acredita que o número de adeptos no Brasil tende a aumentar, desafiando a sociedade a oferecer mais opções e informação.
Como saber se um produto é vegano?
Identificar produtos veganos pode parecer desafiador, mas algumas diretrizes e fontes confiáveis ajudam a tornar essa tarefa mais simples. Produtos veganos são aqueles que não contêm ingredientes de origem animal e não são testados em animais. Confira os principais passos para garantir que um item atenda a esses critérios:
- Leia os rótulos com atenção
De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), fabricantes no Brasil devem listar todos os ingredientes nos rótulos de alimentos e cosméticos. Procure evitar produtos que contenham:
Derivados do leite (lactose, caseína, soro de leite);
Ovos ou derivados;
Mel, própolis ou cera de abelha;
Gelatina (geralmente de origem animal);
Corante carmim/cochonilha (extraído de insetos).
Além disso, fique atento a ingredientes menos óbvios, como glicerina, lanolina e colágeno, que também têm origem animal. - Busque certificações veganas
Selo Vegano da SVB (Sociedade Vegetariana Brasileira): Certifica que o produto não contém ingredientes de origem animal e não é testado em animais.
Cruelty-Free: Embora indique que o produto não é testado em animais, ele não garante ausência de ingredientes de origem animal. Portanto, combine este selo com outros critérios.
Certificações internacionais, como a da Vegan Society e o selo Leaping Bunny, também são amplamente reconhecidas. - Use aplicativos e sites especializados
Aplicativos como Vegan Pocket e BeVeg permitem escanear códigos de barras para verificar a composição do produto. No Brasil, o site da SVB e a plataforma VEG Mobile ajudam consumidores a encontrar marcas e produtos veganos em categorias variadas. - Entre em contato com o fabricante
Se houver dúvidas, entre em contato diretamente com a marca. Muitas empresas estão preparadas para esclarecer dúvidas sobre ingredientes e práticas de produção. - Prefira produtos rotulados como “veganos”
Algumas marcas já informam claramente na embalagem que o produto é vegano. Procure termos como “100% vegetal”, “vegano” ou “sem ingredientes de origem animal”. - Atenção a produtos ultraprocessados
Produtos industrializados podem conter ingredientes escondidos. Por exemplo, um pão industrializado pode ter traços de leite, enquanto um vinho pode usar clara de ovo ou gelatina no processo de clarificação. - Verifique as práticas da empresa
Além de analisar os ingredientes, investigue se a marca adota práticas éticas, como evitar testes em animais ou processos de produção que impactem negativamente o meio ambiente.