O Natal, geralmente, é repleto de histórias, recordações e esperança. Histórias porque lembramos com saudosismo como antigamente era: a família reunida ao redor da mesa na colônia, o peru ou o galo no forno, a maionese da tia, o arroz, espumantes baratos, crianças pulando pela sala com roupa nova, ansiosos pelos presentes e pela visita do Papai Noel. Na TV, o show da Globo com artistas cantando após a missa da comunidade, pinheiros enfeitados com presentinhos de celofane, luzinhas que piscam, cheiro de churrasco. Recordações porque todo mundo lembra de quem perdeu o espaço na mesa no Natal.
Todas as famílias, mesmo unidas na alegria, choram em seu interior pelos avós que se foram, tios, pais e mães, filhos, cônjuges. O Natal é meio triste e meio alegre ao mesmo tempo. Jesus nasce e renasce a cada ano, mas a gente gostaria mesmo é que tivesse a casa cheia como era uma vez. Depois que perdemos os nossos queridos, a gente deixa de comemorar um pouco o Natal. E esperança porque as lágrimas dão lugar à fé, olhamos para as crianças que pulam ao redor da mesa e que renovam a estrutura de cada família nos dando forças para continuar e aceitar o percurso da vida.
A gente troca presentes, come, bebe, ri, bota as crianças pra dormir e reflete um pouco agradecendo pelo ano que passou. Esse ano ainda um pouco diferente – um misto de gratidão com agonia por tudo o que passamos juntos.
Rezamos, tiramos a roupa nova e dormimos, pedindo a Deus pelas mesmas coisas de todos os anos: família unida, saúde para todos, longevidade, comida na mesa, trabalho, um pouco de dinheiro, fé, alegrias e amor. Abraçamos as pessoas desejando esse natal feliz.
Pra ano novo, lá vem de novo a lentilha como prato principal, acompanhada pelo porco que fuça pra frente, ladeada pelas uvas de mesa grossas que simbolizam fartura. Todos de branco e amarelo. Alguns de verde, outros nem dão bola pra isso. Quem na praia está, vai pra beira, pula ondas, assiste aos fogos após a contagem regressiva. Se renovam os pedidos e os desejos, aliados às promessas que, provavelmente, tornar-se-ão esquecidas muito em breve: emagrecer, guardar dinheiro, perdoar, não brigar, trabalhar menos e assim vai.
Cada entrada de ano renova nossa vida como se fosse um resetar na tela de um computador, é como as estações do ano que também renovam o ciclo da natureza.
Alguns vão passar esse fim de ano rindo, com esperas de bebês, outros chorando, com perdas familiares, outros no hospital, com doenças, outros na igreja, com agradecimentos, alguns trabalhando, outros longe de casa. Mas o coração sempre se volta para o nosso lar, onde está nossa família e os nossos desejos. O melhor presente sempre vai ser o abraço de quem se ama e um sussurro no ouvido: – Feliz Natal, Feliz Ano Novo, Amo Você!