Especialista destaca como simples mudanças no ambiente doméstico e cuidados na rotina podem evitar acidentes graves e preservar a autonomia na terceira idade

As quedas em idosos são um problema sério e recorrente no Brasil, como evidenciado pela história de figuras públicas, como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que precisou cancelar uma viagem após sofrer um acidente doméstico, em Brasília. Esse caso reflete uma realidade alarmante: dados do Ministério da Saúde apontam que, diariamente no Brasil, 63 idosos buscam atendimento médico devido a quedas, e 19 dessas ocorrências resultam em óbito.

O aumento da expectativa de vida no Brasil traz desafios, especialmente relacionados à segurança doméstica. A médica geriatra, Bruna Cambrussi de Lima, esclarece como prevenir acidentes desse tipo e oferece recomendações práticas para famílias e cuidadores.

Por que os idosos estão em maior risco?

Segundo a geriatra, pisos escorregadios, tapetes, objetos espalhados pelo chão, iluminação inadequada e até mesmo animais de estimação são elementos que frequentemente contribuem para acidentes. No banheiro, os riscos se intensificam devido ao ambiente úmido, uso de chinelos inadequados e baixa iluminação durante a noite. “O domicílio tende a ser um local comum de quedas pois geralmente os pacientes se sentem mais seguros nesse ambiente e por esse motivo acabam se tornando menos cuidadosos”, diz a especialista.

Além disso, o uso de medicamentos, como antidepressivos, remédios para dormir ou antipsicóticos, pode aumentar o risco de tonturas e quedas. “Esse assunto deve sempre ser discutido com um médico para identificar e minimizar os riscos,” reforça Bruna.

Além disso, a geriatra destaca o papel de medicamentos na elevação do risco de quedas. “Remédios como sedativos, antidepressivos e antialérgicos podem causar tonturas e desequilíbrios. É fundamental revisar as prescrições regularmente com um médico”, destaca.

Adaptações simples que salvam vidas

Pequenas mudanças na estrutura da casa podem reduzir drasticamente o risco de quedas: Instalação de barras de apoio: nos banheiros, corredores e escadas; eliminação de obstáculos: como fios expostos, móveis desnecessários e tapetes soltos; melhoria na iluminação: especialmente em locais de acesso noturno, como o caminho até o banheiro; uso de calçados adequados: Bruna sugere sapatos com solado antiderrapante e fecho no calcanhar, evitando chinelos de dedo ou de pano.

Fortalecimento muscular e equilíbrio

A perda de massa muscular, conhecida como sarcopenia, é um dos principais fatores de risco para quedas em idosos. Exercícios físicos são fundamentais para a prevenção. “Atividades como musculação, hidroginástica e Tai Chi Chuan combinam fortalecimento, equilíbrio e alongamento, ajudando a reduzir a vulnerabilidade a quedas. Na prevenção, sempre devemos abordar o tratamento de uma condição que é muito comum em idosos que é a sarcopenia – perda de massa muscular. Essa condição aumenta exponencialmente o risco de quedas, fraturas e morte em sua decorrência. Idealmente, os idosos devem fazer atividade física associando o reforço muscular, o exercício aeróbico e exercícios de equilíbrio e alongamentos. As modalidades de exercício são diversas, o importante é escolher uma ou mais atividades que abranjam essas três finalidades”, orienta a médica.

Entretanto, idosos com dificuldades para caminhar, que utilizam bengalas ou andadores, tomam muitos medicamentos ou que já sofreram quedas estão mais vulneráveis. Nessas situações, a avaliação de um médico geriatra é indispensável. “Diversas medicações podem acarretar num aumento do risco de quedas. O uso de muitos remédios, o uso de medicações para dormir, alguns antidepressivos, antialérgicos, antipsicóticos. Diversos são os medicamentos que precisamos ter atenção quanto ao risco de quedas. Esse assunto deve ser sempre discutido em consulta médica com o geriatra que acompanha o idoso”, explica Bruna.

Para Bruna os chinelos de dedo ou chinelos de pano são os grandes vilões quando o assunto são as quedas em casa. “Para redução deste risco, orientamos o uso de chinelos, sandálias ou até mesmo tênis que tenham mecanismo de prender no calcanhar e solado antiderrapante evitando que o calçado fique solto no pé e facilite tropeços e que não escorregue facilmente”, explica.

Monitoramento de sinais de alerta

Bruna enfatiza que idosos que já sofreram quedas anteriormente estão mais propensos a novos acidentes. “É importante observar sinais como fraqueza muscular, dificuldade de caminhar sozinho, uso de bengalas ou andadores e visão comprometida”, ressalta.
Se uma queda ocorrer, o protocolo de emergência deve ser seguido. “Se o idoso desmaiar ou apresentar lesões graves, é indispensável chamar o SAMU. Mesmo em quedas aparentemente leves, uma avaliação médica é essencial para descartar complicações”, alerta.

A prevenção de quedas exige atenção tanto do idoso quanto da família. Modificar o ambiente doméstico, promover exercícios regulares e acompanhar a saúde médica são passos simples, mas eficazes. “Pacientes que já tiveram quedas antes devem ser avaliados por um geriatra para a identificação e resolução dos principais fatores de risco e devem seguir todas as orientações de modificações ambientais listadas anteriormente”, destaca.
Como enfatiza Bruna, para um idoso se sentir seguro é necessário manter sua qualidade de vida e o auxiliando no seu dia. “Cuidar da segurança do idoso é garantir sua independência e qualidade de vida, evitando o isolamento e as complicações que podem surgir de uma queda”, destaca.

O papel dos familiares e cuidadores

A prevenção deve equilibrar segurança e autonomia. Segundo Bruna, é importante estimular a atividade física e supervisionar o uso correto de dispositivos auxiliares, como andadores “Privar o idoso de movimento não é a solução. Pelo contrário, o estímulo à mobilidade é um pilar fundamental para sua independência e qualidade de vida,” conclui a geriatra.