No total, 99.441 eleitores não compareceram as urnas na maior cidade da Serra Gaúcha; confira também os índices de abstenção pelo país
No domingo, 27, o Brasil registrou um índice preocupante de abstenção no segundo turno das eleições, com cerca de 9,9 milhões de eleitores (29,26% do total apto) ausentes das urnas. Este é o segundo maior índice de abstenção desde as eleições municipais de 2000, ficando atrás apenas do segundo turno de 2020, realizado em meio ao auge da pandemia de Covid-19, quando 11,3 milhões de brasileiros (29,53% do eleitorado) se abstiveram de votar.
Em Caxias do Sul, votos nulos, brancos e abstenções somaram 119.978 eleitores, cerca de 34,5% do total de aptos a votar. Esse número superou a votação de ambos os candidatos: Adiló (116.730 votos) e Scalco (110.476 votos). Abstenção, conforme explicado pelo analista jurídico do TRE, Ricardo de Abreu, é o “não comparecimento para o exercício da cidadania ativa do eleitor”. Em Caxias, o número de eleitores ausentes em 2024, atingiu 99.441, o que representa 28,6% do eleitorado apto. No primeiro turno, as ausências haviam sido de 87.257 eleitores, ou 25,1%. Ambos os turnos registraram números recordes de abstenção. Em 2020, o índice foi de 25,4% no segundo turno e 24,7% no primeiro.
Embora os índices de não-comparecimento em 2024 tenham sido os maiores, o aumento mais expressivo foi registrado entre 2016 e 2020, com um crescimento de aproximadamente 46%. Em 2016, a cidade contabilizou 31.495 ausências no segundo turno (10,7% dos eleitores), enquanto em 2012, ano em que Alceu Barbosa Velho foi eleito no primeiro turno, o número de ausentes foi de 44.052 (13,8%).
Abstenções pelo Brasil
Em Porto Alegre, no primeiro turno, a abstenção, 345.544, foi maior que a votação de qualquer um dos candidatos. No segundo, as ausências, 381.965, superaram os votos da candidata Maria do Rosário (PT), 254.128; Sebastião Melo (MDB), prefeito reeleito, fez 406.467 votos. A Capital Gaúcha, registrou uma das maiores taxas de ausência do país e a segunda maior do estado neste segundo turno: 34,83% do eleitorado. Canoas, cidade vizinha da capital, onde houve uma disputa entre dois candidatos de direita, é o município gaúcho com a maior porcentagem de ausências: 35.7%.
No cenário nacional, Ribeirão Preto (SP), onde também houve uma disputa entre dois candidatos de direita, é o município com a maior porcentagem de pessoas que se abstiveram do voto: 37.6%. A cidade que registrou a menor taxa de ausência foi Fortaleza. A Capital Cearense, que contou com uma disputa entre Evandro Leitão (PT) e André Fernandes (PL), teve apenas 15.8% do eleitorado ausente, um número muito abaixo da média nacional, 29.2%.
Palmas, capital de Tocantins, pela primeira vez teve o direito de realizar um segundo turno, já que somente em 2023 atingiu o número de 200 mil eleitores, que é o mínimo exigido para que haja esta possibilidade. Tocantins também é o estado mais jovem do Brasil, sua criação se deu na constituição de 1988, separando um território que anteriormente era o norte de Goiás. Em sua primeira eleição com um segundo turno, a capital tocantinense registrou 53.919 eleitores ausentes, 25.7%, ficando abaixo da média nacional.
Para o sociólogo da UFRGS, Marcelo Kunrath Silva, vários eventos contribuíram para o aumento do descontentamento com a política no Brasil: Escândalos de corrupção, como a ‘Operação Lava Jato’, e a instabilidade política observada nos últimos anos, incluindo o impeachment de Dilma Rousseff. Além do bolsonarismo, que segundo ele, é o principal símbolo da “antipolítica”. Estes fatores influenciaram diretamente a percepção da população, levando a um crescente desinteresse pelas eleições. Segundo um levantamento do Instituto Democracia, a confiança da população nos políticos vem caindo substancialmente, sendo este um dos principais fatores que explicam o aumento das abstenções.
O alto número de ausências, incentivou a Justiça Eleitoral a realizar uma pesquisa, com a intenção de entender os motivos dos números de abstenções estarem cada vez maiores. O anúncio foi feito ainda no domingo, 27, pela ministra Cármen Lúcia, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “Há um aumento de abstenção no segundo turno. Tivemos casos climáticos, outros problemas. Vamos verificar e ver o que podemos aperfeiçoar. Vamos ter que apurar em cada local e trabalhar com os dados”, afirmou a ministra. O trabalho será feito em conjunto com cada um dos Tribunais Regionais Eleitorais.
O levantamento deve se desenrolar ao longo dos próximos dois anos, com o objetivo de incentivar os eleitores a votarem nas eleições de 2026.
Confira como foram as abstenções em algumas cidades brasileiras:
Arte da capa: Metrópoles / reprodução