A partir de sábado, 5 de outubro, uma equipe de técnicos do Laboratório de Restauração e Conservação (Labcon) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) dará início à restauração de documentos danificados pelas enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul nos meses de abril e maio. No dia 30 de setembro, aproximadamente 250 itens foram enviados ao laboratório, prontos para que o processo de recuperação comece.

Desde maio, sob recomendação do Labcon, instituições como o Museu de Igrejinha e a Biblioteca Pública de Camaquã congelaram seus acervos para preservá-los antes do tratamento. De acordo com Cézar Karpinski, coordenador do Labcon e do projeto, o congelamento é uma medida temporária que, embora não constitua um tratamento, assegura a integridade dos documentos até que possam ser restaurados.

Do acervo de Igrejinha, chegaram 150 itens, incluindo partituras de música alemã, além de 50 livros que não passaram pelo congelamento. Camaquã enviou 50 itens, que compreendem livros históricos e revistas. Para garantir a preservação, os documentos foram transportados em uma van frigorífica, e a retirada dos itens do veículo para o laboratório foi realizada rapidamente, em aproximadamente 20 minutos.

No Labcon, os documentos foram armazenados em refrigeradores adaptados, método que Karpinski descreve como uma novidade para o laboratório. “Poucas instituições no Brasil já realizaram tratamento de acervos que sofreram sinistros, como as enchentes”, comenta ele, ressaltando que a tecnologia para esse tipo de restauração já é utilizada na Itália, na França e nos Estados Unidos. Karpinski enfatiza a importância de sensibilizar as autoridades para equipar laboratórios semelhantes em cada estado.

Quando o trabalho se iniciar, a equipe descongelará dois itens — um de cada acervo — para realizar testes químicos e biológicos, identificando o tipo de tinta e papel. Após o descongelamento, os documentos passarão por um processo de secagem, com desumidificação e controle da temperatura a 20ºC. Somente após essa fase, voluntários poderão auxiliar na recuperação, que inclui higienização, reestruturação do papel e encadernação.

Karpinski estima que todo o processo de restauração poderá levar até dois anos, dependendo das condições em que os documentos forem encontrados. A iniciativa representa não apenas um esforço de recuperação, mas também uma ação de valorização do patrimônio cultural afetado pelas intempéries.