Aos 14 anos, Bruno Basso viu sua vida mudar drasticamente após um diagnóstico assustador: Leucemia Linfoblástica Aguda. Tudo começou com um simples corrimento nasal, que levou a exames e, eventualmente, à descoberta do câncer. Essa batalha inicial durou anos, e incluiu sessões de quimioterapia e radioterapia, além de diversos tratamentos dolorosos e desafiadores. Hoje, 16 anos depois, Basso ainda carrega as marcas dessa luta – não apenas físicas, mas também emocionais e psicológicas – que moldaram seu caráter resiliente e sua missão de vida.
O primeiro impacto: diagnóstico e o início da luta
Em 2007, o jovem Basso, então um adolescente cheio de sonhos, se deparou com o diagnóstico de leucemia. Entre 2007 e 2008, ele passou por tratamentos de quimioterapia, seguidos de sessões de radioterapia em Caxias do Sul. Já em 2008, ele precisou passar por uma cirurgia de testículos, como parte dos procedimentos médicos exigidos pela quimioterapia. No entanto, mesmo após esse ciclo de tratamentos, em março de 2010, a doença retornou com força total.
A solução veio com um transplante de medula óssea, realizado em agosto de 2010, que envolveu a utilização de dois cordões umbilicais compatíveis – um vindo de São Paulo, e outro de Nova York. A família de Basso respirou aliviada ao saber que essa etapa havia sido bem-sucedida, mas a realidade mostrou que a batalha estava longe de terminar.
Apesar do sucesso do transplante, a saúde de Basso continuou a sofrer reveses. Entre 2011 e 2012, ele enfrentou pneumonia bacteriana, seguida de tuberculose e pneumonia pulmonar por fungos. Como se não bastasse, também foi diagnosticado com meta-hemoglobinemia e parainfluenza, todas condições graves que colocaram sua vida em risco novamente. Esses episódios o obrigaram a continuar em constante tratamento hospitalar, lutando não apenas contra a leucemia, mas também contra os efeitos colaterais dos tratamentos.
Em 2013, novos desafios surgiram. O uso prolongado de medicamentos, incluindo corticoides, trouxe consequências severas para o corpo de Basso. Ele foi diagnosticado com osteoporose crônica, osteonecrose, gonartrose severa e escoliose nas costas. A fragilidade de seus ossos exigiu a colocação de uma prótese no joelho esquerdo, que foi realizada com a ajuda de doações e um bingo beneficente. “Em 2013, comecei uma nova luta. Tudo devido ao uso prolongado de corticoides”, explica Basso. Naquele mesmo ano, ele passou pela primeira de muitas cirurgias ortopédicas, com a colocação de uma prótese no joelho esquerdo. Desde então, ele realizou mais de 20 cirurgias, incluindo procedimentos nos cotovelos e joelhos.
Superação através de cirurgias e tratamentos
As cirurgias se tornaram uma constante na vida de Basso. Em 2016, ele precisou passar por um procedimento de artrolise bilateral, para restaurar a mobilidade de seus cotovelos, que estavam comprometidos. O custo das cirurgias era alto, e ele novamente recorreu à solidariedade de amigos e familiares para cobrir as despesas. Em um exemplo de força e perseverança, ele conseguiu enfrentar cada uma dessas dificuldades com determinação, sem nunca perder de vista sua vontade de ajudar os outros.
Atualmente, Basso ainda enfrenta limitações físicas severas. A artrose nos joelhos e a osteoporose crônica afetam sua mobilidade, tornando difícil até mesmo ficar em pé por longos períodos. As articulações comprometidas nos cotovelos limitam sua capacidade de carregar peso, o que afeta sua qualidade de vida no dia a dia.
Grupo Solidariedade Serra Gaúcha
Mesmo em meio a essas lutas pessoais, Basso encontrou um propósito maior: ajudar os outros. Em 2014, ele criou o Grupo Solidariedade Serra Gaúcha, uma iniciativa que visa apoiar pessoas que precisam de equipamentos ortopédicos, como muletas, cadeiras de rodas e próteses. O grupo já ajudou centenas de pessoas, emprestando equipamentos essenciais para quem não tem condições de comprá-los.
Ele explica que seu desejo de retribuir o carinho e a ajuda que recebeu ao longo dos anos foi o que o motivou a iniciar o projeto. “A gratidão é o que me move”, diz ele. “Eu tento retribuir 10, 20, 30% do que todo mundo fez por mim”, diz. O grupo cresceu muito nos últimos anos, especialmente após a divulgação de um vídeo de apoio do humorista Cris Pereira. Hoje, o Solidariedade Serra Gaúcha conta com mais de 12 mil membros, e continua sendo uma fonte de esperança para muitos.
A batalha financeira e a busca por reabilitação
Além das questões físicas, a luta de Basso envolve também desafios financeiros. A cada nova cirurgia, ele organiza bingos beneficentes e conta com a generosidade de amigos, familiares e desconhecidos que se sensibilizam com sua causa. “Realizei minha primeira prótese com doações e um bingo beneficente. Foi um custo de quase R$ 30 mil. As outras cirurgias seguiram o mesmo caminho, com muita ajuda de pessoas solidárias”, comenta.
Em 2016, Basso passou por artrolises nos dois cotovelos, cirurgias que ajudaram a recuperar parte de seus movimentos. Mesmo assim, ele enfrenta limitações diárias. “Hoje, não consigo mais ficar muito tempo em pé, nem carregar peso. Meus cotovelos foram afetados pela artrolise bilateral, e os joelhos continuam a inchar, mesmo com a prótese no esquerdo”, detalha.
O tratamento psicológico também faz parte da rotina de Basso. Desde 2018, ele vem sendo tratado com antidepressivos e realizando acompanhamento psiquiátrico. “Tive algumas tentativas de suicídio. Mas em outubro de 2023, um médico me deu um choque de realidade, e isso me ajudou a ver as coisas de outra maneira”, reflete.
Agora, Basso precisa arrecadar R$ 63.710,00 para realizar algumas cirurgias, sendo elas a colocação de uma prótese total no joelho direito em Passo e três cirurgias devido a complicações pela criptocridia em 2008, radioterapia em 2010 e antidepressivos desde 2018. Para os interessados em ajudar, podem fazer suas doações através da chave PIX: 838.479.280-15, em nome de Bruno Basso.
Apesar do sucesso do projeto, Basso ainda enfrenta desafios diários. Em 2023, após uma perícia judicial, ele perdeu o benefício de auxílio por incapacidade, o que o deixou em uma situação financeira delicada. Atualmente, ele está em busca de um emprego que possa acomodar suas limitações físicas, mas admite que a tarefa é difícil. Com uma prótese no joelho esquerdo e a necessidade de uma nova no joelho direito, Basso não pode ficar muito tempo em pé ou carregar peso. Mesmo assim, ele mantém a esperança de seguir em frente.
O sonho de transformar o Grupo Solidariedade Serra Gaúcha em uma ONG ainda é uma meta clara para Basso. “Gostaria de formalizar o projeto, torná-lo maior e mais eficiente. Mas, para isso, eu preciso de ajuda, porque sozinho eu não sou ninguém”, afirma. Ele acredita que o grupo pode crescer ainda mais, oferecendo um suporte essencial para pessoas com necessidades especiais e que enfrentam desafios semelhantes aos seus.
Basso é um exemplo vivo de resiliência. Mesmo após 21 cirurgias, múltiplas complicações de saúde e uma vida cheia de desafios, ele continua lutando – não apenas por si mesmo, mas também pelos outros. Sua jornada mostra que, mesmo diante das maiores adversidades, é possível encontrar força na gratidão e no desejo de fazer o bem. “A vida é incerta, o dinheiro é importante, mas não é tudo”, diz Basso. Ele finaliza dizendo. “O que eu levo comigo é a gratidão por tudo que as pessoas fizeram por mim. E enquanto eu puder, vou continuar retribuindo essa ajuda”, conclui.