O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), através de um projeto desenvolvido no Campus Bento Gonçalves, recebeu a concessão de uma patente de invenção, expedida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial, órgão do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.

O invento

A invenção é um equipamento que promete transformar a prática da poda na viticultura, introduzindo um sistema automático de desinfecção de equipamentos de corte, prevenindo a contaminação entre plantas.

O responsável pelo projeto é Leonardo Cury da Silva, professor titular do IFRS. O docente desenvolveu o invento junto do egresso do curso superior em Viticultura e Enologia do Instituto. Ele revela detalhes acerca da patente reconhecida. “Esta tecnologia surgiu como uma demanda do setor, principalmente porque a transmissão de uma das principais doenças presentes nos vinhedos é a podridão descendente. A planta vai literalmente apodrecendo de cima para baixo. É um complexo de fungos e esses são transmitidos justamente pela tesoura. Então a tecnologia foi projetada observando isso e partindo do princípio que todas as plantas do vinhedo são contaminadas, mesmo que não sejam, para a tecnologia, como foi montada, isso é uma verdade. Então, antes de entrar em contato com qualquer planta, colocamos um líquido desinfetante em um reservatório do aparelho, que é uma mochila, assim, ele se desinfeta”, completa.

Leonardo Cury, o docente responsável pelo projeto patenteado

Cury também detalha como é o processo de desinfecção “Trabalhamos com amônia quaternária, álcool 70 e hipoclorito de sódio. A vantagem é que eles ficam em um reservatório fechado, então, tanto o álcool quanto o hipoclorito possuem o problema de volatilização enquanto estão abertos, porém, quando se encontram fechados, eles reduzem bastante a volatilização do produto e a perda da eficiência. Então, colocamos a tesoura na posição horizontal, ela é equipada com um acelerômetro na ponta, esse que possui sensores que detectam o movimento da tesoura nos eixos X, Y e Z, além da esfera. Quando o podador coloca a tesoura para baixo por mais de cinco segundos, o aparelho ativa um motor que aciona uma bomba para borrifar um líquido desinfetante nas lâminas da tesoura. Este processo garante que as lâminas estejam esterilizadas antes de cada corte. Após desinfetar as lâminas, o podador pode fazer a poda da planta. Quando termina, o movimento natural é colocar a tesoura para baixo novamente. Neste momento, o aparelho detecta a posição e libera automaticamente um novo jato de desinfetante. Esse ciclo se repete com cada planta, mantendo as lâminas limpas e desinfetadas de forma automática e contínua”, finaliza.

Processo de criação e patenteação

Cury também relata como foi o processo de produção desta tecnologia. “A criação foi uma ideia minha, que surgiu após diversas observações do campo e das dificuldades dos produtores no processo de desinfecção, especialmente com a podridão descendente, um problema crescente nas plantas que é mais difícil de controlar do que o míldio, que é uma doença causada por fungos que afeta a integridade dos vinhedos, e que já possui produtos que o controlam de maneira ampla”, enfatiza.

Cury também destaca como a estrutura do Instituto e a participação dos alunos foram cruciais neste processo de patenteação. “Contamos com alunos brilhantes que já trabalhavam com tecnologias como inteligência artificial e machine learning, o que facilitou bastante o desenvolvimento. Com os recursos do nosso campus, como impressoras 3D e cortadoras a laser, conseguimos prototipar no laboratório PIPA IF Makers. A partir deste protótipo e do Produto Mínimo Viável (MVP) avançamos com o processo no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e, agora, recebemos a carta patente, marcando um avanço importante para a desinfecção de plantas em vinhedos”, destaca.

Cury ingressou com o pedido de patente no dia 11 de dezembro de 2018. Foram quase seis anos até o reconhecimento do invento. O docente relata como foi essa jornada. “O processo de patenteação no Brasil é trabalhoso e demorado, especialmente em comparação com países como a China, onde é muito mais rápido. Apesar de eles copiarem muitas coisas, são ágeis nos processos de patente, por isso têm tantas em comparação a nós. O processo começa com a criação do produto e o desenvolvimento do MVP (Mínimo Produto Viável), que é o protótipo. A partir dele, inicia-se uma documentação que o Instituto Federal do Rio Grande do Sul nos auxilia a elaborar. Eles contratam empresas especializadas para orientar a redação e montagem dos documentos. É preciso realizar uma busca de anterioridades para verificar se não existem soluções iguais ou similares no Brasil e no mundo. Detalhamos o produto, os problemas que ele resolve, e toda a parte tecnológica, incluindo sensores, bomba, bateria, com uma visão explodida do MVP. Quando o documento é aprovado pela empresa contratada, o próprio Instituto Federal deposita o pedido de patente no INPI. O INPI então faz a sua parte: realiza buscas, comparações, e pode pedir correções e documentos adicionais. Esse processo levou seis anos para ser concluído, e agora temos a carta patente. Com isso, podemos transferir a tecnologia para interessados em industrializar a tesoura”, relata.

Importância para a comunidade

Cury finaliza compartilhando sua empolgação pelo trabalho realizado. “Enquanto o ensino e a pesquisa acadêmica são essenciais, a transferência de tecnologia é uma das maiores responsabilidades e forças dos Institutos Federais. O IFRS não é apenas uma instituição de ensino, mas também um centro de inovação.” Cury acredita que a capacidade do IFRS de produzir e transferir tecnologia é fundamental para seu reconhecimento e impacto social. Com três patentes já concedidas e mais cinco em processo, ele reafirma o compromisso da instituição com a inovação e a resolução de problemas práticos, afirmando “estamos devolvendo à sociedade tecnologias que podem fazer a diferença e resolver problemas reais”, encerra.

O campus de Bento Gonçalves do IFRS também possui outro invento patenteado, a “Composição Alimentar à Base de Proteínas Isoladas de Soro de Queijo, Probiótico e Beta-glucana de Levedura e Processo para Obtenção”, desenvolvida por Raul Jorge Hernan Castro Gomez e Orlando Barbieri Belloli. O projeto de Gomez e Belloli levou mais de cinco anos para receber a concessão de patente, foi solicitado em 18 de janeiro de 2018 e reconhecido em 6 de junho de 2023.

Além dos inventos desenvolvidos no campus da Capital Nacional do Vinho, o IFRS possui outra patente reconhecida, esta, desenvolvida em Caxias do Sul, foi a primeira que recebeu a concessão do INPI. Trata-se de uma cadeira de rodas com sistema rotular bilateral de dobramento da estrutura frontal, uma invenção de Juliano Toniolo e Fabio Leandro de Lima. Teve a patente solicitada em 16 de abril de 2015 e o reconhecimento oficial em 28 de abril de 2020.

Imagens: IFRS / divulgação.