Chegou ao fim a agonia da família de Osmir Rodrigues dos Santos, de 68 anos, que estava desaparecido desde o dia 27 de agosto, após ter sido supostamente sequestrado na região do Vale Aurora em Bento Gonçalves. A informação foi confirmada pela Polícia Civil no início da noite de terça-feira, 10, porém, somente com informações oficiais divulgadas na manhã desta quarta-feira, 11, pelo delegado da 1ª DP, Ederson Bilhan.

De acordo com as informações, Santos foi encontrado em uma clínica de recuperação de dependentes químicos em Osório na manhã de domingo, 8 de setembro, após avanço das investigações.

O desfecho da história ocorreu após apuração de evidências que indicaram a participação da enteada de Santos, uma mulher de 38 anos, que segue presa desde o dia 31 de agosto.

Segundo a Polícia, as primeiras diligências investigativas já evidenciaram que se tratava de um sequestro e cárcere privado envolvendo duas vítimas, uma delas, uma mulher de 56 anos, que foi localizada no mesmo dia no meio do matagal. As informações surgiram após uma das vítimas ter sido localizada por vizinhos, no meio mato, nas proximidades de sua residência, ocasião em que relatou que estava fugindo da própria residência, pois teria sido mantida em cárcere privado durante todo o dia. “Já nos primeiros dias de apuração, identificaram-se evidências concretas de autoria, cuja principal suspeita era a própria filha do casal”, afirma o delegado.

Conforme as investigações, a suspeita de planejar todo o crime residia com o casal e na madrugada do dia 27 de agosto recebeu na residência três homens que, sob sua coordenação, sequestraram Santos, retirando-o à força de dentro do próprio quarto e arrastando-o para fora da residência. Enquanto isso, a suspeita continha a própria mãe para não intervir na cena. “Após a retirada de Osmir de dentro da residência, a suspeita permaneceu na casa mantendo a própria mãe em cárcere privado dentro de um dos cômodos durante todo o dia. Ao final daquele dia, a vítima conseguiu fugir do cárcere através do forro da casa, sendo localizada no matagal próximo à residência e socorrida ao Hospital”, conta Bilhan.

Em prosseguimento ao trabalho de investigação, no sábado, 7 de setembro, a equipe da 1ª Delegacia de Polícia de Bento recebeu a informação de que Santos teria sido levado, à força, para a cidade de Osório e estava internado em uma clínica de recuperação de dependentes químicos.  “Tal fato chamou atenção da equipe policial, visto que após todos esses dias de trabalho investigativo não se tinha notícia de que a vítima, Osmir, seria dependente químico. O que se sabia era que ele trabalhava durante o dia todo e à noite, social e esporadicamente, tomava algum tipo de bebida antes do jantar”, relata o delegado.

Ao seguir com as investigações, a polícia descobriu que a suspeita do crime teria planejado a internação da vítima e, para tanto, contratou pessoas, denominadas “captadores”, cuja atividade é voltada para realizar a condução de pessoas indicadas por algum familiar até alguma clínica que aceite tal paciente.

Indícios apontam que dias antes do crime, a suspeita já mantinha tratativas com os envolvidos no sequestro para conduzir seu padrasto, de forma involuntária. “Os ‘captadores’ contratados vieram a Bento Gonçalves na madrugada do dia 27 de agosto, ingressaram na residência, em conluio com suspeita, entraram no quarto de Osmir, imobilizaram-no, amarraram suas mãos e arrastaram-no até dentro de um veículo que estava do lado de fora. Por fim, conduziram-no amarrado até uma clínica de recuperação de dependentes químicos situada na Cidade de Osório”, explica do delegado Bilhan.

Ao chegar em Osório, os policiais foram informados de que Santos teve que assinar documentos para ingresso no estabelecimento e um destes seria um termo de internação voluntária. “Porém, diante do contexto investigado, constatou-se que, apesar da assinatura, tratava-se de internação que não atendia aos preceitos legais, visto que não havia voluntariedade do paciente Osmir, nem encaminhamento médico e muito menos ordem judicial para internação, razão pela qual a vítima foi resgatada pelos Policiais e trazida para Bento Gonçalves e entregue à família”, revela a investigação.

Conforme Bilhan, a enteada de Santos e suspeita permanece presa pelos crimes de Sequestro e Cárcere Privado contra a própria mãe e o padrasto. A investigação prossegue no intuito de identificar os demais suspeitos, bem como as condutas dos responsáveis pela clínica. Bilhan faz um alerta à comunidade sobre esse tipo de situação envolvendo familiares. “Ressalto, por fim, que frente ao panorama investigado emerge a preocupação para além deste Inquérito Policial no sentido de que outras pessoas possam estar ou passar por situações similares consubstanciadas em internações involuntárias travestidas de voluntárias a mando de algum familiar que, por alguma razão, decida internar um ente sem observar a legislação de regência quando as clínicas e instituições dessa natureza não tomam a devida precaução a fim de apurar se tal internação é efetivamente voluntária”, observa.

Delegado afirma que clínica será investigada

Conforme informou a Polícia Civil, a clínica onde Santos foi internado possui autorização regular para operar. No entanto, as circunstâncias da internação e a permanência da vítima por 13 dias estão sob investigação. O delegado Bilhan explicou: “Estamos verificando se a internação foi conduzida de acordo com a legislação vigente. Embora a vítima tenha assinado um documento indicando que a internação seria voluntária, há dúvidas quanto à real vontade dela, especialmente considerando que foi levado amarrado de uma cidade para outra.”

Bilhan acrescentou que os administradores da clínica serão investigados para determinar se a necessidade de internação foi devidamente avaliada e se a família da vítima estava ciente da situação. “O foco da investigação não é o tratamento em si, mas sim as circunstâncias da internação. Minha principal preocupação vai além deste inquérito e se refere a verificar se esse tipo de prática é comum. Se isso ocorreu com um indivíduo de Bento, pode ocorrer com outras pessoas, o que é totalmente ilegal,” concluiu o delegado.

Veja o momento em que Santos encontra a família em Bento: