Na segunda-feira, 2 de setembro, celebrou-se o Dia do Repórter Fotográfico, uma data que visa homenagear os profissionais que atuam registrando pautas de interesse público.

Dentro da profissão, há dois gênero que se destacam. O fotojornalismo, que visa documentar imagens para a utilização em pautas jornalísticas, buscando uma foto que expresse a emoção de determinado momento, como por exemplo, um jogador de futebol comemorando um gol ou um chefe de Estado discursando, possibilitando uma comunicação além do texto verbal; e o fotodocumentarismo, que explora uma pauta específica, registrando uma série de imagens sobre determinado assunto, geralmente para a publicação em revistas ou livros, criando um relato visual detalhado sobre o tema abordado.

História da fotografia e da profissão de repórter fotográfico

A primeira foto que se tem registro é do ano de 1826, de autoria de Joseph Niepce, um militar e inventor francês, que inspirou-se na técnica da câmara escura, descoberta por Leonardo Da Vinci no século XV, que constatou, se na janela de um quarto totalmente escuro fosse recortado um pequeno furo, a imagem do que estava do lado de fora seria projetada na parede dentro do quarto. Utilizando uma folha de papel sensibilizada quimicamente dentro de uma câmara, Niepce apontou para sua mesa, e fixou em um papel a primeira fotografia da história.

A primeira fotografia da história, tirada por Joseph Niepce, em 1826 (arquivo histórico)

Posteriormente, Niepce abriu uma sociedade com o pintor Louis Daguerre, visando continuidade acerca do invento. Porém, com o falecimento do autor da primeira fotografia em 1833, Daguerre deu andamento no projeto, adotando uma técnica diferente, que substituía o papel por uma placa polida de metal.

Em 1835, Daguerre assumiu a paternidade do processo, o intitulando de “daguerreotipia”. Em 19 de agosto de 1839, a Academia Francesa de Ciências reconhece o invento de Daguerre. Nessa data, desde 2010, é celebrado o Dia Mundial da Fotografia.

Nos anos 1850, surgem as câmeras, na época, caixas de madeira que permitiam regular o foco.
Em 1856, ocorre a primeira reportagem fotográfica extensa, através de Roger Fenton, fotógrafo oficial do Museu Britânico, que foi convidado pelo editor Thomas Agnew para registrar a Guerra da Crimeia, um conflito entre o Império Russo e uma coalizão de territórios europeus com o império turco-otomano, o registro desse conflito é um marco pioneiro para o fotojornalismo.

Posteriormente, essa prática é importada para o resto do mundo. Entre 1861-1863, fotografias da Guerra de Secessão, nos Estados Unidos, definiram importantes aspectos consolidados na fotografia, como a questão dos direitos do autor e a percepção da importância de se registrar momentos que transmitem verossimilhança ao leitor.

Posteriormente, a fotografia seguiu se transformando, até chegar no que conhecemos hoje.
Um dos marcos que simbolizam essa evolução, é a patenteação da Kodák, por George Eastman, em 1888, introduzindo os rolos de filmes na fotografia, e popularizando ela. Por 10 dólares, as pessoas podiam revelar em filmes os registros obtidos pela câmera.

Atualmente, a fotografia digital, inventada em 1975 por Steven Sasson, engenheiro da Eastman Kodak, é a técnica consolidada no mercado.

Equipamentos com rolos de filme marcaram a era analógica da fotografia (imagem: Augusto Arcari)

Fotojornalismo em Bento Gonçalves

A cidade abre espaço para os mais diversos registros fotográficos. Na área esportiva, Kévin Sganzerla, é um dos mais notáveis repórteres fotógrafos de Bento Gonçalves, registrando principalmente o dia-a-dia e os eventos do Clube Esportivo, do Farrapos Rugby e da BGF/AAPF.

Sganzerla comenta acerca do cenário da profissão na Capital Nacional do Vinho “Temos excelentes fotojornalistas em nossa região, um deles é o Ênio Bianchetti, um bento-gonçalvense que foi para a Copa do Mundo no Catar. Isso só valoriza nossa profissão. E o fotojornalismo esportivo tem uma importância imensa quando se trata de uma comunidade local, pois é através das imagens que são registradas que levamos nossa cidade para fora das fronteiras do município, seja nos veículos de comunicação como nas redes sociais. O nome do Farrapos, do Esportivo, do BGF, do Bento Vôlei, do Imigrante, de um atleta de muay thai, de atletismo, de taekwondo, quando são mencionados e divulgados a nível estadual ou nacional, uma fotografia sempre aparece junto. Portanto, o esporte local é visto, o atleta local é visto, e é valorizado”, destaca.

O fotojornalista também afirma que uma boa foto, pode resumir de maneira clara e objetiva um acontecimento, dentro do âmbito esportivo, transformando o registro em uma memória eterna “A foto do Esportivo levantando uma taça, por si só, fala sobre um momento histórico para o clube, e que só o texto e a narração de fatos não são suficientes para transmitir a essência do momento. Nossa função é demonstrar, sobretudo, a emoção daquele momento, seja focando na comemoração, no semblante de decepção, no suor da camisa do atleta. Tudo isso eternizamos em imagens. E, pelo fato de nós fotojornalistas estarmos eternizando episódios do nosso esporte de Bento Gonçalves, não só valorizamos nossa comunidade local como, principalmente, tornamos momentos importantes em lembranças duradouras por meio da fotografia, que posteriormente é estampada em jornais, nas redes sociais e em livros”, destacando a importância dos registros de eventos da comunidade local.

Sganzerla em ação no amistoso entre Esportivo x Aimoré, disputado na Montanha dos Vinhedos em 5 de abril de 2024 (Imagem: Augusto Arcari)

O fotojornalista finaliza comentando os principais desafios enfrentados pelos profissionais da área “Com o advento das tecnologias, todos nos tornamos um pouco repórteres, pois temos um celular na mão com uma câmera e que, a qualquer momento, é possível fotografar ou gravar algum fato que pode se tornar notícia. Porém, o fotojornalismo ainda tem sua relevância, principalmente pelo fato de registrarmos além do superficial. Nas enchentes de maio, inúmeras fotos foram divulgadas dos desmoronamentos que ocorreram. Neste episódio, o fotojornalismo se preocupava com o lado humano de toda essa tragédia, tanto por quem foi impactado, como por aqueles que se dedicaram e arriscaram a sua vida para salvar outras vidas. Informar por meio das imagens, esse sempre será o desafio do fotojornalismo”, completa. Após apontar os desafios gerais da área, ele também levanta os pontos de atenção no fotojornalismo esportivo. “Com o surgimento das redes sociais, a imagem se tornou ainda mais relevante, seja para o atleta que está em formação ou para o clube que deseja visibilidade. Então cuidar da imagem do seu cliente, por meio da fotografia, também se torna um desafio e tanto, ainda mais em uma área específica como o esporte, onde a emoção e os sentimentos são muito explorados”, finaliza.

Fotodocumentarismo

O gênero fotográfico, que consiste em documentar uma série de imagens para a exploração de uma pauta especifica, geralmente visando a publicação em livros e/ou revistas, tem sido utilizado para a produção de materiais que buscam resgatar o passado e o presente da cidade de Bento Gonçalves.

“Jornalista de graduação, fotógrafo de profissão”, é assim que Fabiano Mazzotti, pioneiro em publicações do gênero fotodocumentarista no que se diz respeito a história de Bento Gonçalves, se descreve. Em 2010, ano que a cidade de Bento Gonçalves completou 120 anos de sua emancipação, Mazzotti publicou seu primeiro livro “Bento Gonçalves em Foto Poesia”, descrito como “a primeira obra literária que apresenta a beleza e grandeza do território emancipado em 1890″.

Ele comenta a importância de registrar a história da cidade. “A fotografia tem variados campos de exploração. Sempre gostei de registrar o território no qual moro, percebendo as transformações que ocorrem com o passar do tempo. Não observo importância, mas identifico significado na relação que tenho com a fotografia em registrar Bento Gonçalves, pois, temos memória curta e a fotografia de rua na cidade contribui para as pessoas compreenderem que o lugar onde estão nem sempre foi assim”, destaca.

O fotógrafo Fabiano Mazzotti, possui diversas obras publicadas onde explora a história de Bento Gonçalves através de registros fotográficos (Imagem: Fabiano Mazzotti / divulgação)

Em 2020, Fabiano planejou o lançamento de um livro em comemoração aos 130 anos da emancipação do município, porém, a pandemia de Covid-19 atrapalhou o andamento do projeto, que foi finalizado e lançado no ano seguinte, em 2021. Intitulado “130+1 – Bento Gonçalves em Preto & Branco”, o livro, que até então, é o último lançamento de Mazzotti, apresenta 130 fotografias atuais de Bento Gonçalves em preto e branco, as fotos, de autoria de Fabiano, são acompanhadas por textos, que foram escritos por 130 alunos de escolas de Bento Gonçalves, esses, que graças a um concurso cultural, conquistaram o direito de serem autores do livro.

Mazzotti comenta sua visão acerca do uso da técnica de fotografias em preto e branco na atualidade “O preto e branco ou tons de cinza apresenta uma imagem elegante, atemporal. Porém, é mais difícil a composição, uma vez que os contrastes ou linhas é que se evidenciam, ao contrário da foto colorida. A imagem PB tem propósito. O processo digital facilitou a captação de cenas em preto e branco, porém, nem sempre observamos bons resultados”, afirma.

Do analógico ao digital

Edson Luiz Corrêa é formado em relações públicas pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), porém, foi na fotografia que Corrêa construiu parte de sua carreira. Trabalhou como fotojornalista esportivo nos anos 70 e 80, uma época onde sequer existia câmeras digitais sendo comercializadas no Brasil.

Corrêa relata como era fotografar em uma época onde os equipamentos eram bastante limitados “Como trabalhávamos cobrindo eventos esportivos no interior, não era comum termos jogos que tinham um alcance a nível nacional, talvez, o mais memorável que fotografei, foi uma partida entre Juventude x Grêmio, que foi um dos primeiros jogos do Renato Gaúcho pelo tricolor. Nosso equipamento era bastante precário, a iluminação do estádio também não ajudava, então, tínhamos de selecionar apenas algumas áreas do campo para fotografar”, destaca.

Imagem registrada por Edson Luiz Corrêa no final dos anos 70. O então zagueiro Luiz Felipe Scolari disputa uma jogada com o atacante Kita. Posteriormente, o centroavante, atuando pelo Juventude, seria o artilheiro do Gauchão de 1983 sob o comando do mesmo Felipão (Imagem: Edson Luiz Corrêa / arquivo pessoal)

Corrêa também foi o primeiro fotojornalista do Jornal Pioneiro “em 1978, eles estavam completando 30 anos de fundação e não possuíam um “fotojornalista” no quadro de funcionários, então, acabei sendo o selecionado para esta função”, finaliza.

Atualmente, Corrêa ministra cadeiras de fotografia voltadas para estudantes dos cursos de comunicação da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Corrêa também foi coordenador do curso de fotografia da Universidade.

Edson Luiz Corrêa, fotógrafo e docente (Imagem: Augusto Arcari)

Imagem da capa: Augusto Arcari