O Semanário irá trazer uma série de reportagens a partir de hoje, abordando a retomada do turismo nas cinco principais rotas turísticas do município; começando com a Rota das Cantinas Históricas

A Rota das Cantinas Históricas, localizada na zona norte de Bento Gonçalves, região marcada por sua tradição de vitivinicultura e paisagens deslumbrantes, tem enfrentado desafios intensos nos últimos meses. As enchentes e desmoronamentos que assolaram a região afetaram diretamente o turismo, principal motor econômico de diversos empreendimentos familiares em Faria Lemos. Apesar das dificuldades, a força comunitária e a resiliência dos proprietários vêm garantindo uma recuperação gradativa.

Ao visitar a rota, a equipe do Semanário se deparou com empreendimentos que se dizem pertencentes a outra rota: a do Vale do Rio das Antas. Apesar disso, há diversas placas pelo caminho indicando que se trata da Rota das Cantinas Históricas. Dessa forma, não estranhe se você receber um folder informando sobre alguns empreendimentos que se declaram pertencentes a outra rota, isso porque os três destinos turísticos do norte de Bento Gonçalves – Encantos de Eulália, Vale do Rio das Antas e Cantinas Históricas – são próximos um do outro e há um plano para unificação das rotas. O projeto de unificação conta com o apoio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que tem intermediado encontros que ocorrem desde junho.

Por lá é possível perceber características que favorecem a unificação como, por exemplo, a relação de pertencimento aos locais em que estão inseridas e as ligações com a imigração italiana na região, além de estarem próximas geograficamente, ficando na região de Linha Eulália e nos distritos de Faria Lemos e Tuiuty. “As lideranças locais da zona norte do município, já há algum tempo, vem conversando sobre como podem se reposicionar no mercado e impulsionar ainda mais a visita de turistas nos atrativos que fazem parte do Encantos da Eulália, Cantinas Históricas e Vale das Antas. Há um trabalho que vem sendo realizado neste sentido, que conta com a assessoria do Sebrae e está em andamento”, ressalta o secretário de Turismo, Evandro Soares.

Queda de turistas

Uma pesquisa encabeçada pelo Sebrae aponta que Bento recebeu mais de 1,5 milhão de turistas únicos em 2019. Em 2022, ainda com impactos da pandemia da covid-19, o número caiu para 1,165 milhão. No ano passado não foi feito o levantamento. Para 2024, os números devem sofrer alterações novamente, principalmente pela baixa enfrentada pelo setor após a tragédia climática de maio, que fechou por um período alguns estabelecimentos. Ainda não está traçada uma meta de número de visitantes para a nova rota. “No momento, os empreendimentos, vêm buscando aprimorar suas experiências oferecidas aos visitantes, para que eles possam ter impressões únicas, a partir do atendimento que recebem, com destaque para a oferta de excelente gastronomia, vinhos de qualidade e junto com a histórica da cultura italiana assim como das famílias da localidade”, salienta Soares.

O objetivo é que o roteiro unificado seja lançado ao mercado no Festival do Turismo de Gramado (Festuris), evento com mais de 35 anos de história realizado anualmente e considerada uma das maiores feiras de negócios de turismo da América Latina. Neste ano, a Feira será de 7 a 10 de novembro em Gramado.

Recomeço dos empreendimentos

A Casa Dequigiovanni registrou uma queda expressiva de 80% no turismo. Arthur Dequigiovanni, sócio proprietário, relata que, apesar de o acesso não ter sido interrompido completamente, a insegurança gerada pela proximidade com áreas de risco e as recomendações da Defesa Civil afastaram os visitantes. A família precisou evacuar o local temporariamente, afetando a operação e o fluxo turístico.
Hoje, a Casa Dequigiovanni está gradualmente voltando à normalidade, oferecendo a tradicional experiência enogastronômica. O local se destaca pela produção de vinhos em pipas de madeira, resgatando as técnicas dos imigrantes italianos que fundaram a vinícola.

Letícia Cristofoli, enóloga e responsável pelo enoturismo na Cristófoli Vinhos de Família, descreve os desafios enfrentados pela vinícola durante as enchentes. “O deslizamento de terras danificou uma das casas e o muro do restaurante, e a vinícola precisou ficar fechada por um mês. Contudo, a união entre a comunidade e os empreendedores locais foi crucial para a recuperação”, destaca.

Atualmente, a Cristófoli já retomou todas as suas atividades, destacando suas experiências enoturísticas.

As cantinas históricas têm como marca a gastronomia e degustação de vinhos

A Vinícola Mena Kaho, assim como muitos outros empreendimentos da região, enfrentou uma queda drástica na demanda durante as enchentes, com 100% dos agendamentos cancelados no mês de maio. Gisele Marchioro, auxiliar administrativa da empresa, explica que a recuperação tem sido lenta, com foco nos turistas locais. “Muitos visitantes de fora do estado ainda hesitam em retornar”, reflete.

A vinícola está próxima de voltar à normalidade, oferecendo aos visitantes uma imersão na história da imigração italiana.

Irineo Dall Agnol, proprietário da Estrelas do Brasil, empreendimento focado na produção de espumantes, também enfrentou os impactos indiretos das enchentes, com o turismo reduzido em 80% devido à interrupção dos acessos à vinícola. Contudo, a empresa já está em plena retomada, focando em experiências com pequenos grupos.

Dall Agnol destaca a importância do enoturismo para a região. “Aqui é muito promissor e não tem como fugir do enoturismo, é uma indústria limpa e que só tem a crescer”, pontua.

A unificação das Rotas das Cantinas Históricas, Encantos da Eulália e Vale do Rio das Antas é vista pelos empreendedores como uma estratégia fundamental para fortalecer o turismo na zona norte de Bento Gonçalves. Letícia Cristofoli destaca que essa integração permitirá uma maior visibilidade para os pequenos estabelecimentos, criando um roteiro mais atrativo e oferecendo aos visitantes uma experiência completa. “Unindo os roteiros vai facilitar para as pessoas que vêm de fora e destacar mais os empreendimentos de cada local, tendo um nome mais forte. Hoje, percebemos que não é o roteiro que puxa para os visitantes virem conhecer, é o nome do estabelecimento que acaba sendo mais forte. Ao fazer a unificação vai se tornar um roteiro com muitas atividades para se fazer e as pessoas podem passar mais tempo curtindo esse lado de Bento Gonçalves, o lado norte, que é um dos lugares mais lindos para se visitar, para quem quer curtir a parte histórica.”, evidencia.

Com a unificação das rotas e o apoio mútuo entre os empreendedores, a região se prepara para um futuro de crescimento e fortalecimento do turismo, consolidando-se como um destino de destaque para os amantes do vinho e da cultura italiana.