Com o aumento da procura por serviços de cremação, o município reflete uma tendência global impulsionada por mudanças, consolidando-se como uma alternativa viável ao sepultamento tradicional

Nos últimos anos, Bento Gonçalves, assim como diversas outras regiões do Brasil, tem observado um aumento significativo na procura pelos serviços de cremação. Este fenômeno, que se desenha como uma tendência global, é impulsionado por uma série de fatores que vão desde a praticidade e economia até a conscientização ambiental e mudanças culturais.

A expansão

Até o final da década de 1990, o Brasil contava com apenas três crematórios em funcionamento. Desde então, o número de crematórios no país disparou, chegando a 132 em 2017, e continua crescendo anualmente. Este aumento, pode ser atribuído à mudança de mentalidade da população brasileira, que cada vez mais vê na cremação uma forma prática e respeitosa de se despedir de seus entes queridos.
Mateus Formolo, Diretor Comercial do Grupo L. Formolo, ressalta que, embora o crescimento da cremação seja constante, ele ainda ocorre de forma relativamente lenta em termos percentuais. “Os principais fatores que levam as pessoas a aderirem à cremação são a falta de espaços nos cemitérios tradicionais, o senso de responsabilidade com o meio ambiente, e a economia futura, já que a cremação se apresenta como um investimento a ser realizado uma única vez, sem trazer despesas futuras”, explica.
Historicamente, a cremação era vista como um serviço caro e inacessível para a maioria das famílias brasileiras, além de encontrar resistência em práticas religiosas tradicionais, como as da Igreja Católica. Contudo, esse cenário está mudando. A cremação, hoje, pode ser mais econômica que um sepultamento tradicional, com preços variando conforme a localidade e as opções escolhidas pela família. No caso do Grupo L. Formolo, por exemplo, o custo atual para um serviço de cremação é de R$ 3.180,00, já incluindo a urna para a acomodação das cinzas.

Em relação aos paradigmas religiosos, houve uma flexibilização notável. A Igreja Católica, que até meados do século passado proibia a cremação, passou a aceitá-la sob determinadas condições, desde que a escolha não represente uma negação dos princípios cristãos. Esse avanço permitiu que mais famílias católicas considerassem a cremação como uma opção válida. “Em Bento Gonçalves possuímos salas para o cerimonial de despedida e somos a única empresa com crematório próprio, instalado em Caxias do Sul”, destaca.

O processo de cremação

O procedimento é tecnicamente simples, mas altamente regulamentado para garantir segurança e respeito ao meio ambiente. Formolo explica que a cremação é realizada em um forno crematório, onde o corpo é submetido a temperaturas de aproximadamente 1000°C por cerca de três horas. “Todos os gases oriundos da incineração passam por uma câmara secundária, onde são requeimados, garantindo baixa emissão atmosférica”, detalha. Após a calcinação dos ossos, as cinzas são processadas e entregues à família em um período de sete a 10 dias.

Para as famílias que desejam optar pelo serviço, no momento do falecimento, estas devem apenas informar ao hospital ou ao médico responsável pela emissão da Declaração de Óbito (DO), de que a opção será a cremação, para que algumas proformas sejam cumpridas. Em caso de falecimentos por acidentes ou mortes não assistidas, as Capelas São José contam com profissionais para o encaminhamento dos documentos de autorização judicial quando necessários.

A pandemia de COVID-19 também impactou a forma como as famílias lidam com o luto e os rituais de despedida. Durante o auge da pandemia, a cremação foi uma alternativa recomendada pelas autoridades de saúde para evitar aglomerações e possíveis contaminações. “O número de cremações aumentou devido à falta de espaço nos cemitérios públicos e à impossibilidade de realizar cerimoniais tradicionais”, afirma Formolo. Além disso, a pandemia trouxe à tona a importância da tanatopraxia, que é uma preparação do corpo com a utilização de produtos de conservação e que trazem a garantia da higienização total, trazendo como consequência a garantia de que o corpo pode ser tocado e que as homenagens sejam feitas sem nenhum receio com relação a assepsia do local e da pessoa falecida.

Futuro da cremação

A superlotação dos cemitérios e a crescente conscientização ambiental são fatores determinantes para o aumento da procura por serviços de cremação. Novos espaços para sepultamento em cemitérios públicos são cada vez mais escassos, e as preocupações com a contaminação do solo e dos lençóis freáticos tornam a cremação uma escolha mais sustentável. “Tendo em vista que novos espaços não podem ser adquiridos nos cemitérios públicos e ainda, o processo de sepultamento realizado nos cemitérios mais antigos (sem o devido tratamento de gases) trazem risco ao meio ambiente podendo afetar os lençóis freáticos”, diz Formolo.

O Grupo Formolo observa que, embora atualmente apenas entre 10% e 15% da população brasileira opte pela cremação, a expectativa é que esses números aumentem significativamente nas próximas gerações. “Estimamos que as próximas gerações devam aderir à cremação em uma faixa entre 20% e 30%, e assim por diante. Nestes 18 anos conseguimos identificar que pelo menos 10% da população aderiu ao longo deste período e realizando esta análise temos a expectativa que ao longo dos próximos 18 anos, pelo menos 20% da população deverá ter aderido a esta opção”, projeta Formolo.

Formolo também esclarece algumas dúvidas do processo de cremação. “Sempre surge a dúvida com relação ao caixão. Todos os corpos são cremados no caixão, no mesmo utilizado no velório. São retirados apenas as alças quando estas forem plásticas ou metálicas, os vidros e o marcapasso caso a pessoa falecida tenha este pequeno equipamento instalado. As pessoas quando sabem que o corpo é cremado no caixão perguntam se as cinzas do caixão estão ali, junto com as cinzas do corpo. A resposta é sim, porém, devido a temperatura e ao tempo que o corpo e o caixão são expostos ao calor extremo e também, pela alta volatibilidade da madeira, os estudos mostram que do peso inicial de um caixão, sobram ao final do processo, 0,5% ou seja, exemplificando com um caixão de 30 quilos, ao final do processo sobram 150 gramas de cinzas do caixão que sim, estarão sendo entregues juntamente com as cinzas resultantes da cremação do corpo. Ao final de uma cremação são entregues entre 2,5 e quatro quilos de cinzas, dependendo da estrutura corporal de cada pessoa falecida”, salienta.

À medida que a sociedade brasileira evolui, a cremação se consolida como uma alternativa viável, econômica e ecologicamente correta ao sepultamento tradicional. Com a expansão dos serviços de cremação em cidades como Bento Gonçalves e a flexibilização de barreiras culturais e religiosas, mais famílias estão considerando essa opção como uma forma digna e sustentável de se despedir de seus entes queridos. “O processo de cremação, quando realizado em equipamentos licenciados e devidamente regulados para um processo seguro, garantem menores emissões atmosféricas e contribuem para a descarbonização. Após a realização da cremação as famílias podem optar por fazer a colocação das cinzas nos túmulos e jazigos familiares e assim otimizarem os seus espaços cemiteriais, mantendo ainda, um ponto de referência para orações e para a visitação”, conclui.