Saiba o que é a associação e quais trabalhos eles vem desenvolvendo, a fim de preservar a cultura Friulana nos municípios da Serra Gaúcha

Marianita e Paula Filippon, Ana Alice Dalcin Zorzi, Lisete Furlan Canabarro, Ademir Gugel e Sirlei M. Rasador Furlan, integrantes do Circolo Friulano

O Circolo Friulano da Serra Gaúcha, localizado em Bento Gonçalves, é uma associação cultural formada por 38 fundadores, todos descendentes de friulanos, majoritariamente de Bento Gonçalves, Monte Belo do Sul, e outras cidades do Rio Grande do Sul. A presidente do Circolo, Lisete Furlan Canabarro, relata que a ideia de criar o Circolo surgiu a partir da realização da primeira edição do Curso de Introdução à Arte Musiva em Bento Gonçalves, ministrado por Michele e Mariele Bonetti, mestres mosaicistas formadas pela “Scuola Mosaicista del Friuli a Spilimbergo”, na Itália. “O curso despertou em muitos descendentes friulanos o desejo de se reconectar com suas raízes culturais e de concretizar o sonho de formar um Circolo Friulano Regional”, declara Canabarro. Ela enfatiza que o Circolo nasceu com o objetivo de reunir descendentes friulanos para preservar e promover a cultura friulana na região.

Metas e objetivos

O propósito do Circolo Friulano da Serra Gaúcha é claro e ambicioso. Segundo a presidente, o principal objetivo é “promover o crescimento dos saberes e intensificar os conhecimentos advindos das raízes friulanas”. Ela ressalta que o Circolo busca tornar Bento Gonçalves um polo de mosaico artístico, beneficiando toda a região com cursos e oficinas ministrados por profissionais especializados. “Queremos que a cultura friulana se torne um pilar forte e reconhecido em nossa região, influenciando desde a arte até a educação”, explica. Além disso, Lisete destaca que o Circolo tem como meta se apresentar em eventos regionais, promovendo oficinas e atividades que fortaleçam a identidade cultural friulana. “Nosso objetivo é fazer com que cada vez mais pessoas conheçam e valorizem a rica herança cultural que carregamos”, afirma.

Atividades e tradições

Durante a Expobento e Fenavinho deste ano, a associação participou, mostrando o trabalho desenvolvido

Desde sua homologação no início de 2024, o Circolo tem se mostrado ativo e comprometido com suas metas. Lisete destaca que, mesmo sendo uma entidade jovem, a associação já consolidou várias ações significativas para resgatar e promover a cultura friulana. “Através do Ente Friuli Nel Mondo, enviamos três associadas para cursos na Itália, focados em raízes friulanas, arte e turismo, e introdução à arte musiva. Essas experiências são fundamentais para que possamos multiplicar esses conhecimentos aqui em nossa comunidade”, explica. Além disso, eles têm promovido a preservação de tradições friulanas através de atividades como o grupo de danças em Bento Gonçalves e o coro de músicas em Monte Belo do Sul. “Nosso compromisso é manter vivo o falar friulano, assim como as expressões artísticas e culturais que marcam nossa identidade”, ressalta.

Desafios

Manter viva a cultura friulana em uma sociedade em constante mudança não é tarefa fácil. Canabarro revela que um dos maiores desafios enfrentados pelo Circolo é preservar o interesse pela cultura entre os jovens. “Nossa associação tem uma faixa etária bastante diversa, que vai dos 21 aos 80 anos. Isso nos permite programar trocas de conhecimento intergeracionais, mas também nos desafia a criar ações que atraiam as diferentes idades”, pontua. A presidente menciona os intercâmbios organizados pelo Ente Friuli Nel Mondo, voltados para os jovens, como uma das estratégias para enfrentar esse desafio. “Precisamos garantir que as novas gerações se sintam conectadas e orgulhosas de suas raízes friulanas, para que essa cultura continue viva e vibrante”, declara.

Expectativas para o futuro

Em relação aos planos futuros, o Circolo Friulano da Serra Gaúcha não pretende parar tão cedo. Lisete revela que a associação está trabalhando em diversas iniciativas para expandir suas atividades e parcerias. “Em outubro, vamos colaborar com Manas Bonetti e outros artistas na confecção de uma obra em mosaico artístico, que será doada ao município de Bento Gonçalves”, anuncia. Ela também menciona a inclusão das atividades do Circolo em programações regionais que destacam a arte, gastronomia, saberes e fazeres friulanos, além de um café colonial em Monte Belo do Sul para celebrar a chegada da primavera. “Estamos planejando algo significativo para marcar os 150 anos da imigração italiana, em parceria com outras entidades culturais italianas da região”, comenta.

Lisete também enfatiza que o Circolo está atento às mudanças sociais e tecnológicas, utilizando as ferramentas digitais para facilitar a divulgação e o aprendizado da cultura friulana. “O Circolo nasceu em uma época de transformações tecnológicas, e isso só tende a facilitar nosso trabalho de preservação cultural”, conclui.

Redescobrindo as raízes

Durante seus estudos na Itália, Marianita conheceu mais sobre a arte através de aulas teóricas e práticas

Marianita Filippon, advogada de 29 anos, é uma das integrantes do Circolo Friulano que teve a oportunidade de estudar na Itália e mergulhar na arte musiva, uma expressão artística profundamente enraizada na cultura friulana. Filippon explica que seu interesse pelo mosaico surgiu logo após seu ingresso no Circolo. “Sempre tive um grande apreço pelas artes, e o mosaico, sendo característico da região do Friuli Venezia Giulia, despertou minha curiosidade. Em conversas com as idealizadoras do Circolo, percebi a importância dessa arte para a nossa cultura e decidi me aprofundar”, relata. Ela também menciona que a habilidade artesanal é uma tradição em sua família. “Meu trisavô, imigrante italiano, era artesão e ferreiro. Esse talento para criar com as próprias mãos foi transmitido de geração em geração, e hoje meu irmão Franco é cuteleiro. Então, mergulhar no estudo da arte musiva foi como redescobrir um pedaço da minha história familiar”, conta.

Sobre sua experiência de estudar na Itália, Marianita descreve como “emocionante” a oportunidade de vivenciar a cultura de seus antepassados. “Estar na Itália, pisar na terra pela qual meus antepassados passaram, e aprender uma arte tão rica e significativa como o mosaico, foi uma experiência transformadora”, afirma. Ela menciona que suas expectativas ao realizar o curso na Scuola Mosaicisti del Friuli em Spilimbergo eram aprender tanto a teoria quanto a prática do mosaico, para posteriormente aplicar esses conhecimentos em projetos ligados ao Circolo Friulano. “Minha intenção é continuar praticando a arte musiva, não só como uma forma de expressão pessoal, mas também para contribuir com o fortalecimento da nossa identidade cultural aqui na Serra Gaúcha”, diz.

Marianita também fala sobre os desafios enfrentados durante essa jornada. “Foi uma experiência desafiadora, principalmente por estar longe da minha família, mas a tecnologia ajudou a encurtar essa distância”, comenta. Além disso, ela revela que a prática do idioma italiano foi outro obstáculo. “Embora eu compreendesse o que era dito, minha capacidade de me comunicar era limitada ao básico. Isso me motivou a querer aprender mais sobre a língua e a cultura italianas”, destaca.

Atualmente, Marianita ajuda o Circolo Friulano em diversas frentes. “Desde o início, tenho auxiliado com questões burocráticas e jurídicas. Depois de realizar o curso na Itália, comecei a ajudar também nas oficinas de mosaico que o Circolo oferece, onde procuramos compartilhar essa arte com a comunidade e fortalecer os laços culturais”, explica. Embora ela ainda não veja o mosaico como uma carreira, Marianita considera a prática como uma forma de conexão profunda consigo mesma e com suas raízes. “Por enquanto, é uma paixão que eu cultivo, mas não descarto a possibilidade de trabalhar com isso no futuro”, conclui.