Considerada uma das maiores feiras agropecuárias da América Latina, a Expointer possui uma história que remonta a mais de 120 anos, e atrai visitantes e empreendedores de todo o Brasil e fora do país também

Realizada anualmente no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio, a Expointer teve início em 1901 como uma exposição estadual realizada no Parque da Redenção, em Porto Alegre. O objetivo principal era promover o desenvolvimento da pecuária e da agricultura, exibindo os melhores exemplares de animais e os avanços tecnológicos do setor. A exposição ganhou importância e passou a atrair um número crescente de participantes e visitantes. O evento se consolidou como um espaço fundamental para a troca de conhecimentos, negociação de animais e divulgação de novas técnicas agrícolas.

A Expointer atual é muito mais do que uma simples exposição de animais. Ela abrange uma ampla gama de setores, incluindo agricultura familiar, maquinário agrícola, artesanato e shows musicais. Além disso, a feira é conhecida por seus julgamentos de animais, leilões, e pela grande quantidade de negócios gerados durante o evento, que movimenta a economia não apenas do Rio Grande do Sul, mas de todo o país.

O evento também se destaca por sua capacidade de reunir pessoas de diferentes partes do Brasil e do mundo, tornando-se um local de intercâmbio de conhecimentos e experiências no setor agropecuário​, além de celebrar a cultura e as tradições gaúchas, com apresentações artísticas, culinária típica e atividades que reforçam a identidade regional.

Realizada entre os dias 24 de agosto a 1º de setembro, o local onde acontece a 47ª edição da feira agropecuária foi nomeado pelos organizadores como “Expointer da Reconstrução e da Retomada”.
Os empreendedores do setor da agroindústria familiar de Bento Gonçalves, Monte Belo do Sul, Santa Tereza e Pinto Bandeira estão representando a região.

Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bento Gonçalves, Cedenir Postal, cerca de 18 agroindústrias estão participando este ano da Expointer, número que representa um aumento em relação à participação no ano passado. “As inscrições foram feitas através do sindicato, e durante a feira tem a nossa Federação (FETAG), que dá todo suporte, inclusive hospedagem para uma pessoa por agroindústria”, conta.

Speranza Vinhos

Alceu Speranza, dono da Speranza Vinhos, no seu estande na Expointer

Alceu Speranza, proprietário da Speranza Vinhos, enaltece a Expointer como uma vitrine essencial para a empresa, afirmando: “A Expointer é uma das melhores feiras do RS, e para nós, é como um mostruário da nossa empresa”, diz. Este ano, a Speranza Vinhos apresenta uma gama diversificada de produtos, incluindo vinhos produzidos a partir de uvas diferenciadas, como a Bonarda e Alicante Bouché, além de novos espumantes de Uva Niágara e uma seleção de moscatéis e brut.

Speranza ressalta a importância do evento para fortalecer a marca e recuperar a região após desafios: “Estamos vendo uma retomada significativa após sermos afetados por enchentes que deixaram a região de Faria Lemos sem estrada e sem luz. A feira é um ponto crucial para nossa recuperação e para criar raízes mais profundas”, destaca.

Com um olhar otimista para o futuro, ele acrescenta: “Nossas expectativas são muito boas. Estamos divulgando nossos produtos e esperamos vender bastante, especialmente nesta fase de retomada”, afirma.

Gallon Sucos

Edvaldo Moro Gallon, enólogo e propritário da Gallon sucos, no seu estande da Expointer

A Expointer, um dos maiores eventos do setor agropecuário do Brasil, se destaca como uma vitrine essencial para pequenos e grandes produtores do Estado. Edvaldo Moro Gallon, enólogo e proprietário da Gallon Sucos, compartilha suas impressões sobre o impacto da feira e os desafios enfrentados na agroindústria.

Destacando a relevância da feira para a divulgação de produtos e da agroindústria em geral, Gallon fala sobre a conquista de novos clientes. “A Expointer é muito importante para nós das pequenas empresas e das agroindústrias. Aqui circulam pessoas de todo o estado, do país e até do exterior durante os nove dias do evento. É uma vitrine para nossa marca e um espaço para criar novos relacionamentos e mercados”, afirma. Ele cita um exemplo recente de um cliente do Rio de Janeiro, que encontrou a Gallon Sucos no pavilhão da agricultura familiar e fez novas compras, evidenciando a eficácia da feira em fortalecer a marca e expandir o alcance.

Sobre as novidades deste ano, Gallon revela: “Estamos promovendo muito nossos sucos mistos, que são diferenciados e de uma qualidade superior. Entre eles, destacam-se o suco misto de morango com uva e o de mirtilo com uva. O nosso desafio principal é conscientizar os consumidores sobre a diferença entre os nossos sucos integrais e néctares, pois o custo maior do nosso produto muitas vezes é uma barreira para a compreensão do seu valor real”, explica.

A recente tragédia climática que assolou o Rio Grande do Sul também impactou sua produção. “Tivemos uma queda significativa no faturamento de maio em 80%, e em jundo de 40%, devido à impossibilidade de comercializar por um período. Além disso, perdemos aproximadamente dois hectares de vinhedos, o que afetará nossa matéria-prima nos próximos anos. Contudo, estamos ajustando nosso planejamento e continuaremos a produzir mantendo nosso ritmo”, declara.

Sobre as expectativas para a Expointer, ele é otimista: “Estamos muito positivos. As vendas e os contatos no primeiro final de semana foram excelentes. Esperamos que o clima coopere para alcançar nossos objetivos e estreitar relacionamentos com novos clientes e contatos”, afirma. Gallon também reflete sobre a resposta dos compradores aos produtos. “O grande desafio é mostrar que nosso produto, apesar de mais caro, vale a pena devido à sua qualidade. Que após provarem a primeira garrafa, os clientes frequentemente retornam para comprar novamente”, conta.

A sustentabilidade do local em que produzem os sucos, na linha Alcântara, do distrito de Faria Lemos é essencial para ele. “Como nossa produção é convencional, utilizamos conservantes, mas de forma consciente, respeitando a natureza ao máximo. Nossa propriedade está dentro de um verdadeiro paraíso verde e cuidamos do meio ambiente para continuar colhendo os frutos que cultivamos com muito amor”, declara.

Observando as mudanças ao longo dos sete anos que participa da Expointer, Gallon nota uma evolução na conscientização do público: “Hoje, as pessoas buscam produtos saudáveis e têm mais conhecimento sobre os benefícios do suco integral. As oportunidades de negócio continuam, mas a preocupação com a saúde é mais evidente”, destaca.

Ao refletir sobre o futuro da agroindústria no Brasil, ele vê um cenário desafiador, mas promissor. “Os desafios ambientais e econômicos são grandes, mas as agroindústrias estão se adaptando. A tecnologia é crucial para enfrentar problemas como mudanças climáticas e controle de geadas. No aspecto econômico, enfrentamos dificuldades com custos elevados dos insumos e comparação de preços, mas estamos comprometidos em superar esses desafios para continuar produzindo”, conclui.

Vinhos Foresti

A enóloga Alana Foresti no estande da vinícola, na Expointer

Em entrevista, a enóloga Alana Foresti, destaca a importância da feira para a divulgação de produtos da Vinícola Foresti. “É muito importante para isso. Todos os anos que participamos da Expointer, notamos que conseguimos atingir um público maior que geralmente acaba se tornando cliente fixo dos nossos produtos,” afirma.

Este ano, a Vinhos Foresti apresenta quatro lançamentos inéditos na feira. “Um vinho Riesling Itálico, um Tannat, um rosé com edição especial elaborado em homenagem à minha bisavó, que ajudou a construir a estrutura da vinícola, e um espumante champenoise,” revela. Alana destaca que os dois últimos produtos têm edição especial com garrafas numeradas, enquanto o Peverella, um vinho já conhecido, continua a “roubar a cena” na feira.

A diferenciação da produção da vinícola no mercado está na abordagem familiar. “A nossa produção é familiar. Todos, desde minha mãe e minhas irmãs até meu marido e tios, têm um papel importante. Produzimos pequenas quantidades e todas as uvas são da nossa propriedade,” explica. Ela menciona que este fator é um diferencial, e reconhece os desafios atuais. “Os desastres naturais têm impactado gravemente nossas vendas e o turismo, com uma queda significativa no número de visitantes”, conta.

Esse impacto foi muito sentido. “A queda no número de visitantes foi imensa, e como consequência, as vendas caíram muito,” lamenta. Contudo, Alana permanece otimista sobre a Expointer deste ano. “Buscamos divulgar ainda mais nosso produto e nossa vinícola, atingir um público maior e potencialmente atrair visitantes para conhecer nossa região”, diz. O feedback dos compradores tem sido encorajador. “Nos primeiros dias da feira, conquistamos muitas pessoas com nossos vinhos e espumantes. O público gosta de conhecer vinhos diferentes e histórias, e querem adquirir experiências junto com os produtos,” afirma.

Alana também observa mudanças positivas na Expointer ao longo dos anos. “O público tem se interessado cada vez mais pela origem dos produtos e valoriza a história. Os clientes gostam de ser atendidos pelo responsável pela produção, o que é uma experiência marcante da agricultura familiar na feira,” comenta.

O futuro da agroindústria no Brasil parece promissor para ela. “Há um crescente interesse do público pela produção familiar e de pequena escala. As pessoas querem entender como os produtos são feitos e quem os faz. A agricultura familiar está alinhada com esse desejo dos clientes, e acredito que veremos cada vez mais agroindústrias mostrando produtos com qualidade e diferenciação”, declara.