O cultivo do pêssego em Pinto Bandeira segue como um pilar econômico e cultural, superando os desafios e reafirmando a importância da tradição agrícola na Serra Gaúcha

Pinto Bandeira, conhecida como a Capital Estadual do Pêssego de Mesa, mais uma vez se prepara para uma safra promissora, mesmo diante dos desafios que marcaram o ano de 2024. Com cerca de mil hectares dedicados ao cultivo do pêssego, o município reafirma sua posição como um dos maiores produtores da fruta na Serra Gaúcha.

História do pêssego em Pinto Bandeira

O cultivo do pessegueiro em Pinto Bandeira remonta a décadas e tornou-se uma tradição para as famílias locais. A fruta, originária da China e do sul da Ásia, encontrou nas condições climáticas da Serra Gaúcha o ambiente ideal para se desenvolver. Hoje, com 180 unidades produtoras espalhadas pelos 105 km² do município, Pinto Bandeira se destaca pela qualidade de seus pêssegos, que somam em média 22 milhões de quilos produzidos anualmente.

A produção do pêssego não é apenas uma atividade econômica, mas um elemento cultural profundamente enraizado na vida dos moradores. “Mais da metade das famílias do local se dedicam aos 1.050 hectares de cultivo do pêssego, carro-chefe da cidade”, afirma o Engenheiro Agrônomo da Emater/RS-Ascar, Alexandre de Oliveira Frozza. A safra, que começa a se intensificar em outubro, tem um papel crucial na movimentação econômica da cidade.

Desafios e expectativas para a safra de 2024

Apesar da tradição e do sucesso das safras anteriores, o ano de 2024 apresentou desafios consideráveis para os produtores de pêssego de Pinto Bandeira. O clima instável, marcado por uma enchente em maio e o risco de geadas durante o período de floração, gerou apreensão entre os agricultores. “A safra está em seu início com o florescimento das principais variedades cultivadas no município. Tem sido um período de realização dos tratamentos fitossanitários preventivos para o controle de doenças fúngicas, em virtude da ocorrência de dias úmidos”, explica Frozza.

Além das condições climáticas adversas, o evento climático ocorrido em maio, atrasou o preparo das áreas para o replantio dos pomares e a poda de inverno, essenciais para garantir uma boa produção. “Houve alguns pomares que foram atingidos por deslizamentos, porém a colheita já havia sido concluída em dezembro de 2023. Algumas destas áreas que sofreram infelizmente não poderão ser recuperadas pelos produtores”, comenta o agrônomo.

Mesmo diante dessas dificuldades, a expectativa para a produção deste ano, permanece otimista, com projeções entre 18 e 20 milhões de quilos de pêssego, mantendo-se dentro da média histórica da região.

Processo de produção e colheita

O processo de produção do pêssego em Pinto Bandeira é meticuloso e envolve diversas etapas até que a fruta esteja pronta para o mercado. A colheita é realizada manualmente, e os produtores utilizam principalmente a cor da casca e a firmeza da polpa como indicadores de maturação. Após a colheita, os frutos são levados para um “packing house”, onde passam por um processo de limpeza, classificação e armazenamento em câmaras frias antes de serem comercializados. A tecnologia também desempenha um papel importante na produção de pêssegos em Pinto Bandeira. Nos últimos anos, houve investimentos em telas antigranizo e sistemas de irrigação, além da instalação de estações meteorológicas, que auxiliarão na prevenção de doenças do pessegueiro. “A expectativa é no futuro utilizar os dados coletados nos centros para a elaboração de um sistema de prevenção de doenças do pessegueiro”, acrescenta.

Pinto Bandeira é famosa pela produção de pêssegos de polpa branca, com destaque para as variedades Chimarrita e PS do Tarde. Recentemente, os agricultores da região têm investido em novas variedades desenvolvidas pela Embrapa, como BRS Kampai, BRS Fascínio, BRS Regalo e BRS Serenata, que prometem aumentar ainda mais a qualidade dos frutos.

A comercialização ocorre principalmente nos mercados do sudeste e centro-oeste do Brasil, através de grupos de câmara fria. Apesar da produção significativa, não há previsão de exportação dos frutos, sendo o mercado interno o principal destino dos pêssegos produzidos. “A venda ocorre principalmente para os mercados do sudeste e centro-oeste do país através dos grupos de câmara fria. Não há previsão de exportação para este ano”, indica.

O futuro do cultivo de pêssego em Pinto Bandeira parece promissor, com uma tendência de manutenção das áreas de cultivo e renovação dos pomares com novas variedades. Contudo, a sustentabilidade da produção dependerá de práticas conservacionistas, como o uso de patamares e plantas de cobertura, que ajudam a mitigar os impactos negativos causados por condições climáticas adversas.

O processo de produção do pêssego é meticuloso e envolve várias etapas que requerem cuidado e precisão. Conforme o ciclo começa, ocorre a preparação do terreno, seguida pelo plantio das mudas e as podas de formação e produção. “Todos os anos, é necessário realizar a poda, o raleio e, depois, a colheita. A colheita é feita em etapas, começando pelas variedades mais precoces e avançando para as intermediárias e tardias”, destaca Cedenir Postal, agricultor e atual Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais Agricultores Familiares de Bento Gonçalves, Monte Belo do Sul, Pinto Bandeira e Santa Tereza.

A colheita, que se inicia no final de outubro, é feita manualmente e segue até janeiro. Durante esse período, os agricultores trabalham para garantir que os frutos alcancem o ponto ideal de maturação antes de serem enviados para o mercado.

Como toda atividade agrícola, a produção de pêssego em Pinto Bandeira está sujeita às variações climáticas. Este ano, as altas temperaturas aceleraram o florescimento das plantas, o que poderia ser problemático caso ocorressem geadas tardias. “As elevadas temperaturas não impactam negativamente até o momento, mas se vier frio depois, pode afetar. O problema que vamos enfrentar na safra é que o clima é imprevisível, e tudo vai depender de como o tempo se comporta de agora, em diante”, observa Postal.

Além das questões climáticas, a região também sofreu com enchentes e deslizamentos em maio, o que afetou alguns pomares, embora de maneira limitada. “Teve sim pomares que foram afetados, mas foram poucas as regiões atingidas”, complementa.

Quanto à expectativa de preços, Postal é cauteloso, destacando que “os agricultores sempre esperam ganhar uma remuneração justa, que cubra os custos e traga uma rentabilidade adequada”, diz. Ele ressalta que a oferta e a demanda são fatores determinantes para o preço final.

Postal também enfatiza a importância do consumo local para apoiar os produtores da região. “Os consumidores podem, sim, contribuir com os nossos fabricantes, principalmente os produtores locais, consumindo os nossos produtos”, indica.

Embora Pinto Bandeira seja reconhecida como a Capital Estadual do Pêssego de Mesa, há uma tendência de manutenção ou até de diminuição das áreas de cultivo nos próximos anos. Isso se deve, em parte, ao crescimento de outras culturas, como a uva, que tem ganhado espaço na região. “A tendência é manter ou até diminuir um pouco as áreas de plantio em detrimento ao aumento da cultura da uva”, conclui Postal.