Moradores enfrentam incertezas e desafios devido a falta de amparo do órgão responsável pela correção dos sistemas de drenagem pluvial danificados
A Rua Maria Oselame Longhi, localizada no pitoresco Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, foi fortemente impactada pelas chuvas intensas de maio. Deslizamentos de terra e rachaduras em várias casas e ruas têm causado transtornos e preocupações para os moradores locais.
Gravidade dos danos
Salete Colle Sgarbi relatou que sua casa sofreu muitas rachaduras internas e externas, tornando difícil abrir e fechar as portas devido ao movimento da estrutura para o lado. “Existem rachaduras com mais de 15cm”, afirmou. O momento das rachaduras foi especialmente aterrorizante. “Não estava em casa, estava viajando. Meu cunhado, que estava presente, me relatou que foi horrível escutar a casa se movimentar e ouvir o concreto rompendo”, contou Salete.
Ao retornar para casa, Salete enfrentou a dura realidade de não poder permanecer em sua residência. “Chegar em casa e não poder ficar, não ter para onde ir, e depender de outras pessoas foi muito difícil. Somos pessoas humildes que sempre trabalhamos corretamente”, desabafou. Vários engenheiros e geólogos visitaram a propriedade e condenaram a estrutura da casa e o terreno. “O engenheiro da Bripasa informou que a casa não tem condições de ser habitada novamente”, disse.
A comunicação com as autoridades tem sido um grande problema. “Ainda ninguém passou um laudo técnico definitivo, precisamos de ajuda para poder seguir em frente. Trabalhamos honestamente, mas não conseguimos sozinhos nos reerguer. A prefeitura tem nosso contato, mas ninguém dá um parecer exato”, lamentou.
Salete criticou a falta de progresso nas obras. “Só se movimenta terra e não sai nada de concreto. O governo está mandando dinheiro para as prefeituras, mas os gestores municipais estão cavando buracos e colocando canos de pequena espessura e pano TNT”, observou. Em termos de segurança, a única medida tomada foi evacuar a casa, sem nenhum suporte adicional.
A moradora expressou sua preocupação com o futuro da comunidade. “Vejo nossa comunidade, que era tão linda e próspera, sendo abandonada. O futuro parece ser de pessoas deixando a comunidade, deixando o pouco que têm para invasores desordeiros”, comentou com tristeza.
Para finalizar, Salete deixou uma mensagem de esperança e um apelo por ajuda. “Para nossos amigos e vizinhos, força e fé. Para a prefeitura, que não esqueça de nós, da nossa comunidade, da minha família que foi tão arrasada. Precisamos de informações e soluções efetivas, precisamos de ajuda para recomeçar. Não esqueçam de nós. Quanto à Bripasa, acredito que eles estejam cumprindo a agenda da prefeitura”, concluiu.
Entre os atingidos, está a Hospedaria Recanto Nonna Lourdes, cujo proprietário, Darlan Festa, relata as dificuldades enfrentadas e as medidas adotadas para lidar com a situação. A principal complicação enfrentada pela pousada foi a dificuldade de acesso. Durante o desmoronamento, Festa e sua família, juntamente com os hóspedes, ficaram ilhados, sem acesso à cidade. “Quando houve o desmoronamento, estávamos com hóspedes na casa e ficamos ilhados. O poder público não se mobilizou para reabrir a estrada para que os moradores tivessem acesso à cidade e às suas casas”, afirmou Festa. Sem uma resposta imediata das autoridades, os próprios moradores abriram uma estrada alternativa para permitir o trânsito básico, mas a qualidade precária do acesso resultou em cancelamentos de mais de 50 reservas durante as enchentes.
Embora a estrutura física da pousada não tenha sofrido danos, os impactos financeiros foram severos. “Nos meses de maio e junho, faturamos cerca de R$ 1.000 apenas, um decréscimo de mais de 500% em relação ao ano passado”, destacou Festa. Além disso, todas as 23 reservas para esses meses foram canceladas, resultando em uma perda potencial de quase R$ 10 mil.
Para garantir a segurança dos hóspedes, a hospedaria orienta cuidados nas estradas e recomenda evitar carros baixos para prevenir danos aos veículos. “Estamos todos bem e seguros, nos apoiando para prosseguir com as atividades e atender nossos hóspedes da forma mais carinhosa possível”, comentou Festa, ressaltando que a pousada é administrada por sua família.
A estratégia adotada para mitigar as perdas financeiras inclui intensificação da divulgação nas mídias sociais e comunicação constante com os antigos clientes, informando que a hospedaria continua em plena atividade. Pequenas reformas foram realizadas para melhorar as acomodações e proporcionar mais conforto aos hóspedes, buscando um crescimento orgânico através de avaliações positivas.
Os desafios enfrentados pela pousada não são poucos. A baixa do mercado turístico, agravada pela redução dos voos, diminuiu significativamente o fluxo de turistas no Vale dos Vinhedos, afetando o faturamento da empresa e, por conseguinte, a renda da família de Festa. “A principal questão é a baixa do mercado. Com a redução dos turistas, o aporte financeiro que poderia vir para o Vale dos Vinhedos é muito menor”, explicou.
Para assegurar que os hóspedes se sintam seguros e bem cuidados, a pousada tem sido transparente quanto às condições das estradas e sobre a integridade da infraestrutura da hospedaria. “Sempre somos transparentes com nossos clientes para que eles se sintam acolhidos e tenham uma excelente experiência, não só na nossa pousada, mas no Vale dos Vinhedos e em Bento Gonçalves”, afirmou Festa.