O relato de uma mãe que programou sua gravidez, mas não planejava que durante este momento tão especial, o câncer atravessaria a sua vida. Hoje, Luana Stail Romani está curada e com a pequena Analu de oito meses no colo
A vida às vezes é incansável em surpreender. Momentos especiais podem se tornar difíceis em um piscar de olhos, e é preciso muita resiliência em certas ocasiões. Luana Stail Romani e seu marido, Renan Romani, estavam preparados para a chegada de um bebê. Uma decisão tomada a dois, planejada e organizada. E tudo ocorreu conforme o esperado: em dois meses, Luana já carregava a multiplicação daquele amor em sua barriga. No entanto, ainda no início da gravidez, a jovem de 28 anos descobriu que portava um câncer raro chamado linfoma de Hodgkin, precisando ser forte para lidar com a situação enquanto gerava sua bebê.
A história
Luana lembra como foi o dia em que descobriu que sua filha estava a caminho; a felicidade que ela e o marido sentiam era indisfarçável. A decisão de ter um filho havia sido tomada e, em dois meses, foram agraciados com a realização desse desejo. “Em março, quando estávamos viajando, estava me sentindo estranha e resolvi fazer um teste na viagem mesmo. Em Maceió, descobri que tinha uma sementinha dentro de mim. A felicidade não cabia no peito; a vontade era sair gritando para o mundo que estava grávida”, relembra.
Logo no início, a história de Luana tomou um rumo inesperado. Ela sequer poderia imaginar que, em um dos momentos mais felizes de sua vida, receberia uma notícia tão difícil. “Quando estava completando 12 semanas de gestação, saindo de um restaurante com um casal de amigos, o vento soprou forte e uma folha caiu na região do meu pescoço. Nisso, senti duas bolinhas. Na hora, mostrei aos meus amigos e ao meu marido, mas isso não me preocupou”, conta. “Passamos o final de semana bem e, na segunda-feira, quando cheguei no trabalho, não conseguia me concentrar. Algo me dizia que precisava procurar um médico, mas não sabia aonde ir. Fomos até o plantão do Tacchini, onde a doutora que me atendeu disse que aquilo não era preocupante. Porém, como estava grávida, ela me recomendou um hemograma completo e uma ecografia, que poderia mostrar à minha obstetra sem precisar esperar os resultados. Consegui fazer tudo no mesmo dia e, no final do dia, quando fiz a ecografia, o médico me disse para procurar um cirurgião de cabeça e pescoço e me indicou o Dr. Fernando Bitencourt”, explica.
Não demorou muito para que Luana realizasse a consulta e fizesse uma biópsia. Então, o resultado que nenhum dos dois esperava saiu: o exame confirmava o linfoma de Hodgkin. “Choramos muito naquele momento. Meu marido, sempre ao meu lado, nos olhamos e dissemos que iríamos passar por isso juntos. Na semana seguinte, fui encaminhada ao meu querido Dr. Victor Hugo, hematologista, e recebi uma enxurrada de informações não tão boas. Mas, de uma coisa eu tinha certeza: levaria minha gestação até o final. Não havia discussão, já tinha optado pelo grande amor da minha vida”, destaca.
Luana decidiu ser forte do começo ao fim, pois precisava ser para aquela pequena que crescia em seu ventre. “Levei minha gestação o mais leve possível, mas com medo de ter que antecipar o parto. Fazia acompanhamento mensal tanto com a obstetra quanto com o Dr. Victor. Fizemos o parto com 38 semanas. Eu estava bem, a neném também, e quando a Analu nasceu, senti que estava com a minha cura nas mãos”, ressalta.
Logo após o nascimento de Analu, Luana iniciou seu tratamento e, agora, com sua filha nos braços, estava ainda mais forte. “Com 10 dias pós-parto, fiz minha primeira quimioterapia e tive uma rede de apoio enorme, com pessoas torcendo por mim o tempo todo e, principalmente, torcendo comigo. Meu maior medo era não conseguir levar minha gestação adiante e, depois que ela nasceu, era deixá-la pequena. Meu tratamento foi tranquilo, sem enjoos ou maiores efeitos colaterais. Tudo fluiu muito bem. Minha cura tem nome, se chama Analu”, constata.
Luana já finalizou o tratamento, está curada da doença e vive junto com seu esposo e sua filha. Após tudo isso, a jovem só consegue ser grata. “Agradeço ao meu marido, minha mãe Alzira, meu irmão, cunhada, afilhado, minha madrinha e meu padrinho. Meus queridos amigos e também aos meus colegas de trabalho que sempre me motivaram. Também ao Dr. Fernando Bitencourt, Dr. Victor Hugo e minha obstetra, Dra. Arielle Gava. A todos que, de alguma forma, contribuíram para a minha cura”, finaliza.
O que diz a medicina
O hematologista que acompanhou o caso de Luana, Dr. Victor Hugo Lenz Pereira, explica que o câncer em mulheres grávidas não é tão comum, ocorrendo em apenas uma a cada mil gestações, e a situação torna tudo ainda mais delicado. “Foi uma experiência muito delicada e emocional. Me certifiquei de abordar a situação com empatia e clareza, explicando os detalhes do diagnóstico e discutindo as opções de tratamento, sempre considerando tanto a saúde da mãe quanto a do bebê. Foi fundamental oferecer suporte emocional durante todo o processo, garantindo que ela se sentisse apoiada e informada para tomar decisões importantes para sua saúde e a do seu filho”, salienta.
Ele relata como se deu o tratamento e a escolha do mesmo. “Como a paciente estava assintomática e com os exames estáveis, nossa opção foi observarmos sem quimioterapia até o mais longe possível na idade gestacional. Tivemos a felicidade de mantê-la estável até o dia do parto. Após o nascimento do bebê, ficamos livres para realizar o mesmo tratamento quimioterápico que faríamos em outra pessoa que não estivesse grávida”, conclui.