Esta semana celebra-se o dia de quem ainda, beira a solidão e a ganância do século XXI, se importa em viver com o outro. Embora tenhamos nascidos sós e, ao que tudo indica, também morreremos sós, nesse intervalo que chamamos de vida, geralmente vivemos com o outro. É o outro que nos cuida desde que viemos ao mundo. É com o outro que partilhamos os melhores momentos. É o outro que nos cuida em caso de adoecermos. É sempre o outro. Mesmo que estar sozinho é uma opção e um direito, preferimos ter alguém junto para trilhar a jornada de forma mais alegre. Que a gente possa sempre valorizar “os outros” que temos em nossa vida, sejam eles cônjuges ou apenas amigos e companheiros.
Como Rui Biriva destacou na Canção do Amigo, “se a gente leva um tombo, o amigo empresta o ombro e chora junto da gente, um amigo é para sempre”. Já Milton Nascimento dizia para se guardar debaixo de 7 chaves, remetendo à importância de um tesouro.
Paulo Sant’Ana, gremista de carteirinha, tornou-se inesquecível, para mim, quando deixou de legado as palavras abaixo de amizade.
“Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos! Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles… Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existência. A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem.
Essa mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles!
Eles não iriam acreditar! Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação dos meus amigos, mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não o declare e não os procure.
Às vezes, quando os procuro, noto que eles não têm noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos morrerem, eu desabo! Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles e me envergonho porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem-estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamento sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer… Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos e, principalmente, os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus verdadeiros amigos! A gente não faz amigos, reconhece-os!”.
Eu diria ainda: cada vez que se perde um amigo, a gente se esvai um pedaço. Dentre todas as qualidades, certamente ser amigo é a mais sobressaliente. É uma das únicas condições em que se é amado de verdade sem nenhum motivo aparente!