A líder sindical realça a importância da valorização dos funcionários públicos de Bento Gonçalves, apontando, inclusive, que há pouco tempo foram publicados concursos públicos com vencimentos inferiores ao salário mínimo. Neilene destaca o que espera do próximo gestor da cidade e de sua visão como funcionária pública da esfera municipal e estadual

Formada em licenciatura plena de educação física e pós graduação em metodologia de ensino, servidora pública municipal aposentada e do estado ativa, Neilene Lunelli foi vereadora por dois mandatos no Município e hoje está a frente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Bento Gonçalves.
A líder sindical aponta as necessidades que são enfrentadas hoje pela classe, que acaba por muitas vezes sofrendo desvalorização salarial. Em entrevista ao Semanário, realça a importância da luta sindical pelos direitos dos trabalhadores.

Trajetória

Neilene nasceu no interior de Bento, com pais agricultores que a ensinaram a importância de se viver em comunidade. “Nasci e fui criada na comunidade de São Valentim, sempre fui envolvida nos trabalhos da comunidade. Era do grupo de jovens, cantava no coral de jovens e adultos, fui catequista, da liturgia, porque sempre tive incentivo dos meus pais. A minha mãe era muito ligada à comunidade, então me incentivava a fazer e agradeço eles, porque se hoje cheguei até aqui, devo tudo a eles”, conta.
Na vida política, Neilene foi protagonista. Eleita vereadora da cidade e fez parte da diretoria do Partido dos Trabalhadores (PT). “Também fui dois mandatos de vereadora, concorri três vezes, mas a primeira não me elegi, e concorri a prefeita também. Em 2018 entrei como presidente do SINDISERP-BG, e é o meu terceiro ano do segundo mandato. Estou muito feliz e realizada com o trabalho do Sindicato. Tenho muito apoio da equipe e dos servidores e isso dá muito prazer em trabalhar”, realça.

A presidente relata que apesar de gostar do que faz, enfrenta dificuldades. “Estou há sete anos já na presidência sindical. Nossa dificuldade é justamente pela valorização do servidor, quanto o aumento real do trabalho, do vale alimentação, porque trabalhamos em várias frentes, mas sabemos que para o servidor público o principal é o aumento do vale e do ganho real. Desde que entrei, em 2018, nunca tivemos um ganho real, apenas o reajuste da inflação. E temos batalhado quanto ao vale alimentação que é um suporte muito grande. Tivemos avanços mas não o suficiente ainda. Conquistamos R$23 de vale, mas ainda considero baixo”, diz.

Associados ao Sindicato

A luta sindical perdura há décadas e para Neilene ela é fundamental para garantir os direitos dos trabalhadores em todas as esferas. No SINDISERP, o número de associados tem se aproximado bastante do número de servidores. “Visitamos os setores, os aposentados vem até aqui e percebemos que, quando chegamos na escola falamos a respeito do sindicato e muitos tem interesse em se associar. Estou muito feliz porque todo o dia chegam fichas de sindicalização até pelo WhatsApp. Porque as pessoas estão vendo a importância do nosso trabalho. Com o sindicato já é difícil imagine sem ter nenhum ponto de apoio. Felizmente, a nossa entidade tem cerca de 2.2 mil sócios. Então 70% dos servidores são ligados ao SINDISERP”, explica.

Além disso, conta que até mesmo aqueles já aposentados não abrem mão de fazer parte da luta. “Temos mais de 800 sócios aposentados, ou seja, se aposentam e não saem do Sindicato. Isso é muito bonito de ver, porque essas pessoas que trabalharam pela cidade veem a importância da entidade e chegam a passar a mensagem para os outros. Trabalhamos com todos os setores públicos do município, e ficamos felizes em ver as pessoas vindo e se sindicalizando”, constata.

Ela complementa trazendo a importância que enxerga na luta sindical e a necessidade de mantê-lo. “Percebemos por causa de todo esse assédio, a necessidade de um sindicato que proteja o trabalhador em todas as esferas. Quem é que negocia com o patrão? O Dissídio é sempre feito por um sindicalista, assim como a negociação. E tudo o que hoje conseguimos, se temos um décimo terceiro, um vale, tudo isso foi conquistado pelo sindicato. Por aqueles que nos antecederam, que brigaram e muitos perderam a vida. Sabemos como começou toda a história e por trás teve um Sindicato. O sindicato é a proteção do nosso trabalhador. E toda a equipe que trabalha comigo é de extrema importância, porque é na coletividade que damos o nosso melhor”, destaca.

A presidente do Sindicato salienta que há necessidade de valorização aos servidores públicos municipais

Objetivos e benefícios

Como presidente da Entidade, Neilene busca como objetivo, um real aumento de salário para a classe e, além disso, busca por respeito e saúde para esses servidores. “O meu sonho é conseguirmos batalhar por um reajuste de plano real. O nosso objetivo agora, o principal, é realmente trabalhar com a saúde mental desse trabalhador. E sabemos que quem move a máquina é o servidor. Além disso, trabalhar o combate contra o assédio moral que existe em todos os setores, e não deixa de existir no setor público. O gestor precisa enxergar o funcionário público como alguém que precisa de um ganho real”, destaca.

Entre os objetivos, diversos benefícios já foram concedidos, e Neilene está sempre à procura de novidades para melhorar a vida dos associados. “Temos também diversos convênios, uma escola de língua, plano odontológico, descontos em lojas. Oferecemos também cursos de dança e estamos sempre promovendo novas agendas para este trabalhador. Também temos uma equipe de advogados onde o servidor paga R$30 a consulta. Ainda, na saúde, temos pilates, fisioterapias. O IPE está caro, então fazemos convênio com clínicas médicas que tornam o valor mais acessível. Não temos sede campestre, então no verão também fazemos convênios com esses clubes para ter um valor acessível”, traz.

Ainda sobre os benefícios, a presidente explica que o Sistema de Assistência à Saúde dos Servidores Públicos do Estado do Rio Grande do Sul, seus dependentes e pensionistas têm falhado no município. “O IPE é muito difícil aqui em Bento, e estamos aguardando uma reunião com o presidente do IPE, pois as consultas estão demorando. As pessoas vão para a lista e não recebem o serviço. E essa reunião servirá para explicarmos a situação de Bento, porque esse também é o trabalho do Sindicato, batalhar por esses direitos”, ressalta.

Governo Federal

Como sindicalista, entende que o governo federal passado foi prejudicial para a luta dos sindicatos, e que até hoje há resultados destas ações. “O movimento sindical, no governo anterior, foi muito retalhado. Na época do governo Bolsonaro eles queriam extinguir o sindicato. Começaram com aquela ideia de que o sindicato era prejudicial, e muitos que não entendiam a importância, saíram. Então foi um movimento muito forte para derrubar o sindicato, nós não sentimos tanto, mas os outros sofreram muito. E ainda hoje percebemos que isso está melhorando, mas não é o ideal”, reitera, e complementa que “o governo anterior prejudicou muito os servidores públicos de todas as esferas durante o período da pandemia, colocando-os como inimigos da sociedade, congelando salários e vantagens na carreira, prejudicando inclusive nas aposentadorias. Fomos à linha de frente e pagamos a conta”, destaca a líder sindical.

Comparando os dois governos, Neilene explica que existem mudanças positivas acontecendo, como a expansão das universidades federais pelo Brasil. “Hoje percebemos uma melhora dos preços da própria gasolina, da cesta básica, do gás de cozinha. A própria questão de políticas públicas sociais, do emprego, da renda. Inclusive, agora, a própria questão das enchentes, o apoio que recebemos tanto das pessoas quanto do governo federal. A questão da educação, construção de 10 universidades. A UFRGS em Caxias, que foi uma luta que travei quando era vereadora há 20 anos. E hoje, notamos que valeu a pena, porque o anúncio dessas universidades nos faz pensar que o mundo só melhora com a educação, esse é o caminho. O investimento tem que ser na saúde, educação e segurança, pois uma coisa puxa a outra”, declara. E complementa que “a economia melhorou bastante, mas como sindicalista vou lutar sempre por melhorias. E cobramos do governo federal, estadual e do municipal. Porque a economia tem que alavancar ainda mais para as pessoas terem uma vida um pouco melhor”, conclui.

Governo estadual

Sobre a gestão de Eduardo Leite, a presidente destaca problemas, principalmente na questão do funcionalismo, que é onde atua. “Sou funcionária pública do Estado, e estou há mais de 30 anos na função e percebo que paramos no tempo. Foram retirados muitos direitos, sou do CPERS e lutamos demais. Mas, estamos perdendo demais. A pessoa que se aposenta, ao invés dela receber mais, está perdendo direitos. Então, quanto ao servidor, só perdemos, avalio que o governo estadual é péssimo. E, se, hoje a pessoa não quiser fazer concurso do Estado, entendo”, explica.

Além desta esfera, ela compreende as dificuldades em projetos e leis que pensem no meio ambiente. “A enchente mostrou que o governo não fez a lição de casa. Foi investido muito pouco no meio ambiente e em políticas públicas. Os cientistas avisaram e, mesmo assim, não foi tomada nenhuma providência. Não sei se é porque eles acham que não é importante, mas talvez essa catástrofe tenha mostrado que temos que investir em meio ambiente e acreditar na ciência. Que, quando algum especialista fala temos que nos preparar. Acho um governo muito fraco em termos de aplicação em verbas de meio ambiente e falhou em proteger a população, que é o papel fundamental do estado”, ressalta.

Governo Municipal

Neilene trabalha diretamente no SINDISEP portanto, suas cobranças partem para a esfera municipal. Ela traz que há um bom diálogo com a gestão atual, apesar de nem sempre ser possível realizar as melhorias necessárias. “Temos um bom relacionamento com o próprio prefeito, com o vice e os setores em si. Sempre que há uma dúvida vamos até os setores, nos recebem e esclarecem. Inclusive, o próprio prefeito nunca deixou de me receber. Vamos com os advogados, com algumas pessoas da diretoria. Sempre que vamos negociar vamos com dados e mostra que realmente estamos atrás. Mas, temos um bom relacionamento, mesmo não tendo às vezes o retorno que gostaríamos. E em todos os setores que vamos somos bem recebidos, porque somos uma equipe que representa o funcionalismo”, diz.
Um problema que entende ser sério é a questão dos novos concursos abertos com salários baixos, e acredita que isso afasta cada vez mais as pessoas. “Está acontecendo neste concurso porque o salário está abaixo do mínimo. Como eles contratam a empresa, nós não podemos intervir, mas mandamos um ofício mostrando o nosso descontentamento. E, muitas vezes, as pessoas não fazem o concurso porque não é atrativo. Não temos como intervir na empresa, mas podemos questionar. É muito baixo, e muitas vezes as pessoas buscam outros municípios próximos para ser servidor. Não tem como explicar um salário desses em uma cidade como Bento, e este valor não paga sequer aluguel”, alerta.

Eleições em Bento

Para as próximas eleições, a presidente já está se preparando para iniciar o debate com os candidatos a respeito da situação dos servidores. “Nós vamos enviar perguntas aos candidatos à prefeitura sobre o que eles farão pelos funcionários públicos, e eles nos enviarão em forma de vídeo. Porque queremos ter esses vídeos para no futuro cobrar. Queremos que esse gestor enxergue esse servidor como algo fundamental para o

município. Se levantamos de manhã e está tudo funcionando, é porque o servidor levantou mais cedo e já começou a trabalhar. O posto de saúde, a UPA, as escolas, enfim, todos os setores. Esperamos que esse servidor seja visto com dignidade e receba um salário a altura”, frisa.

Por amar a cidade em que vive, e nasceu, Neilene quer o melhor para o Município e um gestor que entenda a complexidade que é. “Bento é uma cidade linda, não sei se é porque nasci aqui que amo de paixão. Mas espero que o município se desenvolva com sustentabilidade. Que ao mesmo tempo que haja o desenvolvimento, que se olhe para o lado do meio ambiente. Que seja uma cidade sustentável. Tenha qualidade de vida, emprego, saúde, educação e segurança para os cidadãos. E que o gestor tenha sutileza em enxergar a todos”, finaliza.