Com as mudanças tecnológicas, os perfis estudantis também sofrem transformações. Por conta disso, o sub-reitor da UCS Bento explica sobre essas alterações. E também, conta sobre sua trajetória, quais os desafios em relação às novas concorrentes e os planos da universidade
Graduado em Administração de Comércio Exterior, mestre em Administração e doutor em Administração e Marketing, Fabiano Larentis é, atualmente, sub-reitor da UCS Bento. Com uma trajetória de 18 anos na instituição, ele ocupa o cargo de direção há dois anos. Larentis destaca a importância da inovação no currículo acadêmico e explica as características da geração atual que está ingressando na universidade. Além disso, ele discute como a UCS se prepara para enfrentar novos concorrentes e revela que o número de alunos voltou a crescer.
Trajetória
Fabiano Larentis iniciou sua carreira na UCS Bento há 18 anos, como docente. “Estou na universidade desde 2006, quando ingressei como professor de graduação. Até então, tive experiências em outras universidades. Comecei minha atuação no ensino superior na Faculdade de Integração do Ensino Superior do Cone Sul (FISUL), e depois assumi disciplinas na Faculdade de Ciências na Faculdade Cenecista e, posteriormente, na Unisinos, período em que cursava doutorado em Administração em Porto Alegre. Em 2006, comecei a lecionar aqui, ministrando mais disciplinas na graduação em Administração e Comércio Internacional”, conta Larentis. Ele complementa que trabalhou em uma pró-reitoria, depois com pós-graduação, e em 2022 assumiu como sub-reitor de Bento.
Seu nome foi indicado pela Fundação Educacional da Região dos Vinhedos (Fervi), e desde então sua atuação como sub-reitor tem sido essencial para unir a instituição à comunidade. “Quando se estabeleceu essa parceria, decidiu-se que haveria um sub-reitor aqui no campus, que também faria parte da reitoria. Por isso, duas vezes por semana vou para Caxias para reuniões com a reitoria. Este é o cargo mais alto que atingi até o momento na universidade, focado principalmente no relacionamento. Desde o início, tenho trazido um pouco do contexto, relacionando. O reitor me desafiou a estreitar e reforçar os laços com a comunidade, e é o que tenho feito, visitando mais de cem empresas, instituições e prefeituras. Procuro estar presente em vários eventos públicos, incluindo os ligados ao CIC, porque entendemos que a universidade deve marcar presença, deixar claro o que efetivamente faz”, traz.
Larentis destaca que sua formação foi fundamental para o momento atual na função que exerce. “É engraçado porque, no meu mestrado e doutorado, meu tema de pesquisa foi Marketing de Relacionamento. Sempre tive uma conexão com a área comercial antes de entrar na universidade. De certa forma, o que faço hoje tem muito a ver com isso, com muito foco no relacionamento”, constata.
Currículos para a nova geração
Como gestor, Larentis entende que uma universidade deve se preparar para as mudanças dos estudantes. “Novas gerações estão entrando na universidade, e elas são diferentes das gerações do passado. Os sistemas de ensino mudaram, a tecnologia se inseriu profundamente no ensino superior, e sabemos do desafio de oferecer um ensino mais próximo do dia a dia das pessoas, que faça mais sentido”, explica.
A partir disso, é necessário revisar o que já existe e identificar o que precisa ser modificado. “Temos vários cursos sendo revisados. Recentemente, lançamos um novo curso de Administração, que é tradicionalíssimo na universidade, existente desde os anos 70, com mais de 50 anos de história. Ele foi totalmente reformulado, pensando em uma nova abordagem para a gestão de negócios. Além disso, estamos revisando o curso de Ciências Contábeis e as licenciaturas, atendendo a uma demanda do governo e das diretrizes curriculares nacionais”, relata
Para isso, é fundamental que os profissionais estudem e compreendam as necessidades da nova geração. “A universidade está acompanhando de perto esse processo, e gostaria de destacar a atuação da nossa pró-reitora de graduação, professora Terciane Luchese, que está liderando a revisão dos nossos currículos, o que chamamos de renovação curricular. Esse movimento é contínuo; o currículo é algo vivo e coletivo, vai muito além de um simples documento com uma grade de disciplinas. Sabemos do nosso compromisso e da necessidade de formar profissionais não apenas mais conectados com a prática e o dia a dia, mas também conscientes do seu papel no mundo”, destaca Larentis.
Atual momento da UCS-Bento
A Universidade vem passando por um momento bastante promissor. As crises econômicas, o aumento do EAD e a própria pandemia trouxeram dificuldades para a instituição, mas atualmente essa situação vem melhorando. “Estamos em um processo de recuperação, tanto que atingimos mais de 500 alunos ingressantes neste primeiro semestre. Entendemos que isso está relacionado à nossa aproximação com a comunidade. Temos feito um trabalho maior de divulgação, inclusive mostrando nossas ações, além da inserção de novos cursos. Desde 2022, iniciamos projetos para inserir os cursos de Enfermagem, Análise e Desenvolvimento de Sistemas, Engenharia de Computação, Engenharia de Software, Engenharia de Controle e Automação, e Biomedicina”, explica.
Além disso, a Universidade tem se expandido na área de pós-graduação, focando ainda mais em pesquisa e ciência. “Temos um grupo de professores que nos ajuda na gestão do campus. Temos um campus grande, complexo, com muitos cursos e demandas diferentes. Portanto, além da graduação, oferecemos cursos lato sensu, mestrado, e no ano passado, iniciamos a primeira turma de doutorado aqui no campus, em Direito, descentralizando um pouco do que temos em Caxias”, relata Larentis.
Segundo o sub-reitor, a UCS Bento também vem investindo em novos cursos. “Temos todas as áreas do conhecimento presentes e, agora, estamos crescendo muito nos cursos da área da saúde, como Nutrição, Farmácia, Fisioterapia, Biomedicina, Enfermagem, Biologia e Educação Física, além dos cursos na área de tecnologia da informação. Atualmente, temos cerca de dois mil alunos em um universo de 24 cursos funcionando”, salienta.
Ciência no Brasil
Como pesquisador, Larentis trabalhou com pesquisa no Brasil e, a partir disso, compartilha suas opiniões sobre o cenário atual da ciência no país. “A pesquisa vem crescendo e evoluindo. Se analisarmos os números de artigos científicos publicados em periódicos internacionais por autores brasileiros, vemos esse avanço. Mas ainda há um longo caminho pela frente. Estamos em um momento em que todos pensam em como aproximar a pesquisa e seus resultados da comunidade. Isso não significa que a ciência básica deixará de existir, muito pelo contrário, pois muito da ciência básica gerou a tecnologia de hoje”, salienta.
Além disso, o sub-reitor explica a importância de a ciência ser vista como realmente é. “O problema está na forma como a sociedade, ou determinados grupos dentro dela, enxergam a ciência e começam a politizá-la. A ciência é a construção do conhecimento, baseada em elementos que exigem não apenas relevância, mas também rigor. Esse rigor não pode ser apenas pelo rigor em si, mas é o que permite que avancemos em termos de conhecimento e tenhamos uma base sólida de conhecimento gerado a partir da ciência”, destaca.
Larentis ressalta a necessidade de aproximar o que é pesquisado e mostrar a ciência que é feita para aqueles que estão distantes dela. “Como universidade, temos que fazer um esforço para demonstrar o que se produz em termos de conhecimento científico, para que as pessoas saibam, porque às vezes parece que nada acontece aqui, só no exterior. Muito pelo contrário, por exemplo, o grafeno, que é algo trabalhado na universidade, começou a ser investigado em um programa de pós-graduação, no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Processos de Tecnologia, além do mestrado em Materiais. Isso já acontece há mais de 10 anos. A ciência também tem seu próprio tempo, e esse tempo não é o mesmo da empresa”, ressalta.
Planos futuros
Muitas mudanças estão ocorrendo para que a UCS Bento esteja cada vez mais atualizada e completa para seus alunos, visto que, atualmente, as transições estão cada vez mais rápidas. “Queremos, em linhas gerais, avançar nas áreas em que existe uma demanda mais clara e forte, como, por exemplo, tecnologia da informação. Na própria gestão em determinadas áreas, vamos oferecer no próximo ano um curso de tecnólogo em Gestão Industrial. A intenção era oferecer agora na metade do ano, mas vai atrasar um pouquinho. Estamos dando atenção para a nossa indústria, que é forte. Temos dois tecnólogos aqui: Processos Gerenciais e Gestão Comercial. A Gestão da Produção Industrial será mais um curso na área dos tecnólogos”, relata.
Além disso, a instituição irá manter o acordo com a Fervi. “Estamos em conversa com a Fervi para antecipar a negociação do nosso comodato, que vence em 2027. A universidade tem a intenção de renovar esse contrato, tendo em vista a parceria que temos com a fundação e todos os resultados já alcançados em prol da comunidade de Bento e região. Já estamos em tratativas com a Fervi em relação ao comodato”, explica.
O tema da inovação também tem ganhado muita importância na universidade, exigindo um olhar atento. “Queremos crescer na pós-graduação, tanto lato sensu, que é especialização, quanto em mestrado e doutorado. Mas o principal foco é o trabalho de inovação. É nisso que estamos querendo avançar. Claro que há todo um ecossistema na cidade liderado pelo Inova Bento, que fica no Centro da Indústria, Comércio e Serviços (CIC). Mas, como universidade, também vamos desempenhar atividades nesse sentido, até pela nossa relação com a produção de conhecimento e atrelando isso ao desenvolvimento de novas tecnologias”, realça Larentis.
Novas universidades na região
A UCS tem trabalhado cada dia mais para ampliar sua oferta e se aproximar da comunidade serrana. Com a chegada de novas universidades, a concorrência cresce. “Primeiro, a Univates é uma concorrente e temos que tratá-la dessa maneira. Existia um acordo tácito de que as universidades comunitárias não invadiriam o espaço das outras, mas a Univates fez isso. Tudo bem, é movimentação da concorrência, sabemos como é. Isso também nos fez estar mais presentes na comunidade, porque a concorrência nos força a isso. Temos que ficar de olho, monitorando, e nos manter presentes”, destaca Larentis. Ele complementa: “Vamos atuar nisso e oferecer nossos diferenciais. Quanto à federal, que agora será, pelo que entendemos, um braço da UFRGS, essa é uma movimentação que a universidade obviamente não vai se opor, porque há interesse da comunidade”, diz.
Com as movimentações da universidade federal, Larentis explica que é necessário entender como será seu funcionamento. “Queremos saber quais serão os cursos e como isso vai impactar na concorrência conosco. Temos mais de 2.000 alunos que estão no ProUni. Então, de certa forma, já temos uma universidade pública aqui dentro, devido à beneficência. Claro que isso está de acordo com a nossa contrapartida para continuarmos sendo beneficentes e filantrópicos. A resposta da nossa universidade vai depender das movimentações e do que podemos trabalhar”, conta Larentis.