Celebrado em 14 de junho, o Dia Mundial do Doador de Sangue simboliza a importância deste ato altruísta que oportuniza salvar até quatro pessoas diferentes com apenas uma doação

No dia 14 de junho, comemora-se o Dia Mundial do Doador de Sangue, uma data estabelecida em 2005 pela Organização Mundial da Saúde para enfatizar a importância desse gesto altruístico que pode salvar vidas. A doação de sangue é um ato de solidariedade que, em poucos minutos, pode impactar positivamente até quatro vidas.

A doação de sangue é um processo simples, mas vital, que exige um constante reabastecimento para atender às demandas. Cada doador contribui com 450 mililitros de sangue, o que representa uma fonte valiosa de esperança para quem o recebe. Contudo, devido ao curto período de validade dos componentes sanguíneos, como as hemácias (42 dias) e as plaquetas (cinco dias), é crucial que os doadores mantenham a atitude proativa e sigam doando.

A doação regular de sangue é um ato de cidadania indispensável para evitar qualquer escassez nos estoques. Essa prática é fundamental não apenas para casos de tratamentos contínuos, mas também para situações de emergência, como acidentes graves, que frequentemente requerem transfusões urgentes.
A importância da doação de sangue é ainda mais evidente em procedimentos médicos de grande complexidade, como transfusões, transplantes, tratamentos oncológicos e cirurgias. Além disso, durante os períodos de alta transmissão de doenças como a dengue, a demanda por bolsas de sangue aumenta consideravelmente. Por exemplo, a dengue hemorrágica pode exigir uma grande quantidade de transfusões de plaquetas para salvar vidas. Portanto, é essencial conscientizar a população sobre a importância da doação de sangue e incentivar uma participação regular nesse ato solidário que pode fazer toda a diferença na vida de quem precisa.


Em Bento Gonçalves, as campanhas de doação de sangue são organizadas pelo Hemocentro Regional de Caxias do Sul (Hemocs), responsável pela captação de doadores, coleta, processamento, testagem e distribuição do sangue doado. Sua principal prioridade é a qualidade e a manutenção dos estoques de sangue, visando atender 100% dos leitos do Sistema Único de Saúde (SUS) na área de abrangência da 5ª Coordenadoria Regional de Saúde do Estado do Rio Grande do Sul, que compreende 49 municípios da região Nordeste do estado.

O órgão desenvolve campanhas com o objetivo de conscientizar a população quanto à importância da doação de sangue e de medula óssea. O trabalho é voltado não apenas para assegurar a quantidade necessária de doadores, mas também para aprimorar o perfil das doações, garantindo o padrão de qualidade do sangue coletado e transfundido.

Essa conscientização ocorre por meio de ações em parcerias com hospitais da região e entidades sociais, instituições de ensino e empresas, coletas externas com a Unidade Móvel em municípios da área de abrangência do Hemocs, convocação direta de doadores por telefone, entre outras.
O Hospital Tacchini possui em suas dependências uma Agência Transfusional. O setor, no entanto, não atua com estrutura para realizar coletas de sangue. O esclarecimento faz-se necessário, pois seguidamente, a mídia nacional realiza campanhas de conscientização que visam o incentivo à doação de sangue. Por determinação do Hemocentro de Caxias do Sul, todo sangue utilizado por pacientes do SUS internados no Hospital Tacchini, deve ser reposto através de doações diretamente ao Hemocs.
No local, os tipos sanguíneos mais utilizados são O+, seguido de A+. São feitas, em média, 450 transfusões mensais, que englobam o concentrado de hemácias (média de 250 unidades por mês), plasma e plaquetas. Os números podem variar, dependendo da complexidade dos pacientes, taxa de ocupação, entre outros fatores.

Histórias reais estimulam a doação

O relato sincero de pessoas reais tem o poder de tocar corações. A auxiliar administrativo Amanda Genehr, de 21 anos, foi ensinada desde pequena a ajudar o próximo sempre que estivesse ao seu alcance. Ela relembra de aguardar ansiosamente pela oportunidade de doar sangue pela primeira vez. “A partir do momento em que soube que estava dentro dos critérios para a doação, acabou se tornando um sonho possível, real”, reflete.

Amanda comenta que já participou de três campanhas de doação de sangue, realizadas pelo Hemocs em parceria com a Secretaria de Saúde de Bento Gonçalves, na UPA 24h do bairro Botafogo. “Todas as vezes que participei das doações, tive um pouco de ansiedade e angústia na hora da ‘picadinha’ da agulha. Mas, tirando essa parte, é um processo muito tranquilo e é maravilhosa a sensação de saber que o pouco que é doado, pode ajudar até quatro pessoas diferentes. Até hoje, nunca precisei receber uma transfusão de sangue ou algo do tipo, mas saber que consigo ajudar outras pessoas com meu ato é gratificante demais”, expõe.


O advogado aposentado Nelson Tabajara, de 68 anos, foi diagnosticado com linfoma, um tipo de câncer no sistema linfático, no ano de 2017. Atualmente curado da doença, Tabajara puxa na memória um pouco de sua trajetória. “Foi algo muito impactante, tinha diversos planos e muita vontade de viver. Fiz todos os tratamentos passados pelos médicos, com sessões de quimioterapia e também transfusão de medula”, comenta.
Devido aos tratamentos e a queda na imunidade, o advogado apresentou anemia. Após a ação da quimioterapia, enquanto a medula não recupera a capacidade de produzir suas células, muitas vezes preciso fazer uma transfusão de sangue, o chamado concentrado de glóbulos vermelhos, para manter uma boa oxigenação nos tecidos, até que o paciente se recupere. “Minha vida foi salva por pessoas que nem imagino quem sejam”, salienta Tabajara.

Critérios e processos

Para estar dentro dos critérios para doar sangue, o doador precisa ter entre 18 e 69 anos, pesar mais de 50 kg e estar bem de saúde. Antes do procedimento, a recomendação é de estar alimentado, evitando comidas muito gordurosas, não ingerir bebida alcoólica nas últimas 12 horas e não ter fumado nas duas horas antecedentes à coleta. Entre os impedimentos temporários para a doação de sangue estão: febre, gripe, gravidez, 90 dias após parto normal e 180 dias após cesariana, uso de alguns medicamentos, pessoas que adotaram comportamento de risco para doenças sexualmente transmissíveis, tatuagem e piercing.

Há também impedimentos definitivos, como a evidência clínica ou laboratorial das hepatites B e C, vírus HIV, vírus HTLV I e II, Doença de Chagas e malária. Mulheres podem doar a cada três meses, não ultrapassando três doações em um ano. Homens podem doar sangue a cada dois meses, não ultrapassando quatro doações em um ano.

No momento da coleta, é feita uma triagem clínica, quando são verificados batimentos cardíacos, pressão arterial, peso e temperatura do candidato. Também se faz a coleta de uma amostra de sangue para realização do hemograma, verificando se o candidato à doação possui nível de hemoglobina/hematócrito dentro dos parâmetros estabelecidos. Após isso, é feita uma entrevista sigilosa para avaliar padrões de comportamento de risco. Logo após a doação, o doador recebe um lanche para hidratação e reposição de nutrientes.


É importante destacar que a Lei 1.075, de 27 de março de 1950, garante o direito à dispensa do ponto, (no dia da doação de sangue para o funcionário público civil, de autarquia ou militar). A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) prevê, em seu artigo 473, que o empregado poderá deixar de comparecer ao serviço, sem prejuízo do salário, por um dia, em cada 12 meses de trabalho, em caso de doação voluntária de sangue devidamente comprovada.

A doação de sangue é um gesto de generosidade e solidariedade que transcende fronteiras e salva vidas. A consciência de sua importância vital para tratamentos médicos diversos, desde emergências até intervenções complexas, reflete que cada doador é um verdadeiro herói anônimo.

Diante da crescente necessidade por bolsas de sangue em todo o país, é fundamental que a sociedade se una em um esforço contínuo para garantir o abastecimento dos bancos de sangue. Afinal, cada doação representa uma oportunidade de esperança e renovação para aqueles que enfrentam momentos de vulnerabilidade.

Uma única doação beneficia mais de uma pessoa

Com a coleta de uma bolsa de aproximadamente 450 mililitros, o sangue passa por um processo de separação de hemocomponentes. Uma única bolsa se transforma em outras quatro: uma de hemácias, uma de plaquetas, uma de plasma e outra de crioprecipitado, uma fração do plasma fresco congelado. Isso permite que mais de uma pessoa seja beneficiada com apenas uma doação.

Em seguida, as bolsas de sangue são armazenadas e passam por testes sorológicos e imuno-hematológicos para garantir a segurança até a transfusão. Ali, são realizados os exames de tipagem e outros relacionados a doenças transmissíveis pelo sangue. Se os resultados indicarem que está tudo em ordem, o sangue está pronto para ser encaminhado aos hospitais abastecidos pela entidade responsável.
Há também a opção de se cadastrar para ser doador de medula. São retirados 5ml de sangue, como um exame de laboratório, e o doador é cadastrado no Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea (REDOME) do Instituto Nacional do Câncer (INCA). Seus dados genéticos são cruzados com os dos pacientes que precisam da medula. Se der compatibilidade genética através do exame feito, a doação pode ser realizada. Porém, para ter compatibilidade, a chance no Brasil é de uma em cem mil e com alguém de outro país, de uma em um milhão.

O procedimento dura aproximadamente 90 minutos e é aplicada uma anestesia. As células de medula são tiradas do osso da bacia e não da espinha, portanto, não há risco para a coluna. Do outro lado, o paciente tem a sua medula doente destruída e recebe a as células de medula saudável do doador. A parte da medula retirada do doador se recupera sozinha em no máximo quinze dias.