Apontado como um bom lugar para morar, por sua privilegiada localização, o bairro tem comércios diversos e uma vizinhança amiga, entretanto, os moradores sentem a necessidade de uma Unidade de Saúde no bairro e melhorias a respeito do transporte público
Considerado residencial, o Jardim Glória, diferente de outros bairros, não teve seu crescimento baseado em prédios ou grandes condomínios. Pelas suas ruas, o que se nota são casas. Além disso, o local conta com uma pequena rua com alguns comércios, como mercados, lojas, farmácias, entre outros. Mas o que aflige os moradores é a falta de um posto de saúde e o fato de o transporte público não acessar o interior, deixando os usuários apenas na faixa.
“Nosso bairro merecia um posto”
Cristiane Slongo tem 33 anos, é supervisora pedagógica, viveu toda a sua vida no bairro e tem grande carinho pelo lugar. “Desde que nasci, me criei no Jardim Glória. É um bairro bom tranquilo. Claro que há bagunça, mas é esporádico. Me sinto mais segura nos últimos anos. Antigamente, ele era um pouco mais perigoso, mas espero que continue como está”, diz.
O que a frustra é a falta de algumas assistências. “Não temos posto de saúde. Agora, no Salão da Comunidade, temos atendimento às sextas-feiras, mas seria bom ter um fixo, porque é um bairro bem grande e com muitas crianças. Muita gente, que não tem plano, tem que procurar a Unidade de Pronto Atendimento e outros hospitais pela falta do posto. Por que tem em outros bairros e no nosso não? Desde sempre é uma promessa, e é triste ver isso. É uma demanda antiga. Eles tentam fazer a parte deles, mas precisávamos dessa mudança”, cobra.
Outro fator que a moradora levanta é a questão do transporte público, que ela pouco usa, mas vê vizinhos e colegas de trabalho reclamando pelo mesmo motivo. “Pelo que sei do transporte público, o ônibus não entra no bairro. Eles param na faixa. Seria necessário entrar, porque as pessoas precisam caminhar, às vezes, muito mais para chegar ao destino. Tem pessoas que deixam de vir trabalhar aqui por causa desse difícil acesso. Nesses dias em que não parava de chover, é complicado ter que vir caminhando, então havia pessoas que sequer conseguiam vir”, relata.
A supervisora pedagógica observa que o bairro cresceu nos últimos cinco anos. “Depois que começou a surgir o novo loteamento, o crescimento foi bem notável. Mas é difícil encontrar lugar para alugar hoje. Muitas pessoas saem e deixam os filhos. Mas quem mora em Bento fica no bairro, porque é um lugar bom de se viver”, explica.
Maria Vitória Alexandre reside no local há 50 anos e gosta do bairro em que vive, mas existem melhorias que ela gostaria com a questão da Unidade de Saúde. “É seguro, com uma boa vizinhança e com tudo o que eu preciso, já que tem farmácia, mercado, loja de roupas. Nesse sentido, o considero bem completo, porque tem bairros que não têm nada disso. O que falta aqui realmente é o posto de saúde. Quem não tem plano ou não pode pagar particular acaba ficando sem, e é complicado. Ainda mais para quem é idoso ou quem tem que levar filho pequeno”, destaca.
“Sou doente e para acessar o posto fica longe”
Cledir Teresinha Fogliato tem 58 anos, atualmente é dona de casa e natural de São Francisco de Paula. Há 10 anos reside em Bento e no Jardim Glória. “Queríamos ir para um lugar com mais oportunidades para os meus filhos. E de fato, aqui encontraram emprego, e gostam muito da cidade”, explica.
Como Cledir carrega muitos problemas de saúde, como fibromialgia, hérnias de disco, entre outros, a ausência do posto de saúde no bairro é difícil para ela. “É muito ruim não termos posto, é uma dificuldade de ir até a Zona Sul. Tenho muitos problemas de saúde, então necessito sempre estar indo ao médico, fazendo exames, trocando receitas e controlando. A falta do posto pesa muito nisso, porque temos essa necessidade e temos que ir longe para acessá-lo”, alega.
Outra dificuldade é se locomover para outros bairros e locais. “A questão do ônibus piorou depois da pandemia; ele não entra mais no bairro, só indo até a faixa. Isso é ruim também, e não conseguimos entender, pois antes ele fazia todo o caminho do bairro e depois parou”, conclui.
“2024 não está sendo um ano bom”
Andreia Casagrande tem 34 anos e é comerciante no bairro. Seu marido tem um mercado, e ela, por último, tinha um trailer de lanches, mas decidiu fechar e colocar sua loja, onde vende roupas infantis. “Faz dois meses que abri o brechó, mas trabalho com comércio a vida toda. Até esses dias tinha um trailer de lanches aqui perto, e agora decidi abrir a loja. Iniciei na internet e trabalhava fora, só que devido aos horários dos meus filhos, tive que ficar em casa por causa deles e assim decidi abrir esse espaço que é mais acessível e que é prioritário para as pessoas”, conta.
Diferente do antigo empreendimento que Andreia teve, ela sente que este tem funcionado melhor. “A procura tem sido boa, tem bastante fluxo no bairro e na minha rua. Meu comércio acaba atingindo a cidade inteira, porque também faço entregas, e sinto que desde que coloquei aqui, a vizinhança procura. Claro que meu produto chama atenção, porque é de qualidade e de bom preço”, realça.
Em 2024, a comerciante não achou que a economia estava tão boa quanto alguns outros setores levantaram. “O comércio está bem freado, decidi alugar minha lancheria por isso. O pessoal parou de gastar, agora só com o essencial. As vendas de lanches caíram drasticamente, e me vi obrigada a fechar e pensar em outro negócio”, relata.
Andreia ressalta diversas qualidades do Jardim Glória e porque é um ótimo local para se ter um empreendimento, mas que falta um posto de saúde para atender a comunidade. “O bairro é bem localizado, perto do Centro, e tem um comércio diversificado, bastante gente o frequenta, então acredito que é um bom lugar para se fixar. Mas o que dificulta é não ter um posto de saúde. O pessoal procura, esperamos que um dia ele venha”, cobra.
“Melhor escolha para o empreendimento”
Neide Romanini é auxiliar administrativa em uma loja de materiais de construção que há pouco tempo se mudou para o bairro. “Faz um ano que colocamos a loja aqui. Estávamos situados na avenida Osvaldo Aranha e lá não existia estacionamento. Moramos no Jardim Glória e tínhamos o depósito aqui, e a partir disso abrimos a loja neste local”, conta.
O local fez tanto sentido para o comércio, já que manteve seus clientes de longa data, mas também pelo bairro ter acesso a outros locais, dando espaço para os novos conhecerem. “Está maravilhoso ter colocado aqui, sentimos que até melhorou. Nossos clientes continuaram, e o pessoal de bairros próximos passou a frequentar. Além disso, Santa Tereza e Monte Belo são caminhos aqui do bairro, então mais pessoas passam a conhecer e frequentar”, ressalta.
Nanci Bortolini é farmacêutica e empreendedora, tendo uma farmácia no bairro. “Os moradores frequentam bastante, são todos bem conhecidos. Aqui o comércio é bem familiar. E é tão bom para nós, quanto para eles, pois se sentem em casa. O comércio do nosso bairro é bem movimentado. Temos praticamente tudo aqui, o que facilita a vida dos moradores, que acabam não precisando ir para outros lugares para fazerem suas atividades”, conta.
Para ela, 2024 tem sido um ano fora do normal, principalmente pelas fortes chuvas. “Tem sido muito desafiador, principalmente com tudo o que houve em maio. Um ano que mostra para nós como ser resilientes e estar sempre inovando. As enchentes afetaram nosso abastecimento. Ficamos uma semana sem receber produtos. E ainda tem alguns distribuidores que não voltaram a funcionar”, conta.
Suas perspectivas para o futuro são incertas, mas pendem para o lado negativo, visto toda a tragédia enfrentada pelo estado. “O futuro do RS é muito incerto, temos muitas pessoas desabrigadas, muitas indústrias totalmente destruídas, e velhas políticas na esfera estadual e federal, com muito populismo e pouca ação real no meio disso. Acredito que ainda não vimos tudo o que essa enchente vai ocasionar”, alega.
Escola infantil no bairro
A Escola Municipal Infantil Jardim Glória tem 88 alunos matriculados, atendendo do Berçário um ao Jardim A. A diretora Angela Valiatti explica como anda a estrutura do local. “Estamos em plena reforma. Trocamos os pisos das salas porque estavam danificados. Também, demandava muito produto de limpeza e acredito que a longo prazo teremos uma economia significativa nesse sentido. O projeto da escola sempre visa a sustentabilidade, um tema no qual todo o município está engajado, e um dos aspectos que sentíamos necessidade era de diminuir o uso de produtos”, explica.
Além disso, no ano anterior o colégio já havia feito algumas mudanças necessárias para atender melhor as crianças. “Em 2023 investimos na parte externa, com brinquedos, valorizamos a área boa que tínhamos. Digo que a escola infantil é igual a uma casa grande. Estamos sempre investindo em alguma coisa física; como nossa casa precisa, uma escola não é diferente”, diz.
A diretora conta que os pais são bastante participativos na vida escolar dos filhos. “Temos uma comunidade presente, temos o Círculo de Pais e Mestres (CPM) e o Conselho Escolar, que realizam reuniões mensais e são pais bem participativos. Agora estamos engajados na festa junina que será neste sábado e eles estão colaborando muito. Conseguimos em média 300 brindes e boa parte são os pais que estão trazendo. Estamos esperando por eles neste final de semana, acredito que a festa será bem bacana”, alega.
Sobre as crianças, Angela vê um carinho pelo local e uma felicidade em estar lá. “Visamos o desenvolvimento integral dos alunos, todos passam os dois turnos, são cinco refeições que fazem na escola, temos profissionais para atender, e eles adoram vir. Acredito que o fato de eles gostarem de frequentar diz muito para nós”, constata.