Neste sábado, 8 de junho, produtores rurais e a comunidade se reúnem na segunda edição da Feira Abrace o Produtor Rural. O evento, que acontece na Via del Vino, das 10h às 16h, tem como principal objetivo auxiliar os agricultores familiares dos distritos de Faria Lemos e Tuiuty, que foram impactados por eventos climáticos recentes. Nesta segunda edição, a comunidade terá a oportunidade de encontrar uma ampla variedade de produtos coloniais frescos e de alta qualidade, como biscoitos, massas, pães, chimias, entre outros produtos.
A iniciativa não só busca impulsionar a comercialização da produção local, mas também fortalecer a economia regional e promover a solidariedade com as famílias atingidas pelas chuvas. “A primeira edição da feira foi um grande sucesso, reunindo 17 empreendimentos da agricultura familiar e gerando um retorno positivo para os produtores”, destaca o secretário de Desenvolvimento da Agricultura, Mauro Villa.
“Aos poucos, estamos conseguindo voltar a trabalhar”, afirma produtor
Edvaldo Moro Gallon, residente da Linha Alcântara, no Distrito de Faria Lemos, compartilha sua experiência após as recentes chuvas. Trabalhando com a produção de uvas comuns, ele descreve os desafios enfrentados pela sua família durante o período de inundações e deslizamentos de terra.
Segundo o produtor, a situação se tornou complicada devido à interrupção do fornecimento de energia elétrica, comunicação e internet, além da falta de sinal de celular na região. O acesso terrestre ficou interrompido por cerca de 15 dias, deixando-os praticamente ilhados. “Vendemos o nosso produto a vários estados do país, como São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Piauí, Santa Catarina, Paraná e também aqui no Rio Grande do Sul. Então o nosso primeiro desafio foi reestabelecer o funcionamento da nossa empresa”, lembra.
Gallon destaca a importância de retomar as atividades na agroindústria, ressaltando que a empresa enfrentou dificuldades para se reestabelecer após as chuvas. “Temos que recompor os nossos vinhedos, já que tivemos uma perda de aproximadamente dois hectares. E temos que pensar em como recuperar para poder voltar a ter os frutos nas áreas devastadas”, revela.
Apesar das dificuldades, gradualmente estão conseguindo retomar o trabalho. “A gente até consegue sair com mercadorias, porém, apenas de trator. Temos os pedidos, separa a mercadoria, bota no trator, leva o produto até a rodovia, carrega em outra caminhonete e aí a gente consegue levar na cidade, para os clientes e parceiros que nos ajudam neste momento. Aos poucos, estamos conseguindo voltar a trabalhar”, pontua.
Sobre a feira, o produtor rural destaca que o evento proporciona alívio financeiro em um momento difícil para o setor. “Na primeira edição, vendemos além do que esperávamos. O povo da cidade abraçou a ideia e nos ajudou muito. Nossas vendas no mês de maio ficaram 60% abaixo do que vínhamos comercializando e isso acabou sendo um forte baque financeiro. Com a iniciativa nos dá um fôlego e conseguimos seguir em frente”, acredita.
Mudança de rotina
Diva Marcolin Flamia, residente na Linha São Valentin 96, em Faria Lemos, compartilha sua experiência após as recentes chuvas que afetaram sua propriedade. Ela destaca que a situação se tornou desafiadora, principalmente devido à dificuldade de acesso até sua propriedade. Embora a prefeitura tenha trabalhado para desobstruir as estradas, alguns trechos ainda permanecem difíceis de trafegar, o que impacta diretamente na comercialização dos produtos.
Como produtora de uva, goiaba, aipim, bergamota e também proprietária de uma agroindústria de sucos e vinhos, Diva enfrenta restrições impostas pela legislação, que limitam a venda dos produtos fora da propriedade e impedem a comercialização em mercados e empresas. “Nossa produção tem que utilizar 100% de matéria-prima própria, não podemos comercializar nossos produtos em empresas como mercados e similares, nem enviar para fora do estado, só podemos comercializá-lo na propriedade ou em feiras que por ventura acontecerem, isso acaba fazendo com que não tenhamos como vendê-lo”, desabafa.
Para se adaptar a essa nova realidade, ela e sua família estão fazendo entregas para clientes da cidade que entram em contato, mas aguardam ansiosamente pelo retorno à normalidade, quando poderão atender ao público na propriedade e participar de feiras.
Diva destaca a importância do evento, que proporciona uma oportunidade única de comercialização dos produtos para consumidores finais, ajudando significativamente na venda dos produtos. “Não podemos vender nosso produto para empresas ou para fora, apenas para o consumidor final e como nossos acessos estão limitados a feira nos ajudou muito”, revela.
Ela espera que, daqui para frente, o Rio Grande do Sul se recupere e que os entes e a sociedade reconheçam e valorizem o trabalho dos agricultores. “Que eles possam olhar de uma forma especial para a agricultura, que as pessoas e empresas reconheçam o nosso trabalho, valorizem a nossa mercadoria e passem a consumir mais os produtos produzidos aqui”, observa.
Retomada, mas com dúvidas
Na Linha Ferri, distrito de Faria Lemos, Alceu Speranza, enfrenta desafios consideráveis após as chuvas. Proprietário de sete hectares de parreirais destinados à produção de uvas e vinhos, ele viu-se isolado por 24 dias, sem acesso à luz elétrica e à cidade.
Durante esse período difícil, a comunicação e o transporte tornaram-se um desafio, com o acesso à propriedade limitado a trilhas íngremes e veículos off-road, como motocicletas de trilha ou quadrículos. A solidariedade de pessoas que se aventuravam pelas estradas inacessíveis, trazendo gasolina e mantimentos, foi essencial para a subsistência de Alceu e outros agricultores da região. “Durante esse tempo, ficamos sem poder comercializar nossos vinhos”, lamenta. No entanto, a realização da Feira Abrace o Produtor trouxe um alívio bem-vindo. “A gente conseguiu vender bastante, inclusive, superamos nossas expectativas”, comemora.
O evento de hoje acabou se revelando uma oportunidade crucial para os agricultores locais, proporcionando um canal direto de venda para seus produtos. “Ações como esta só vêm ajudar o produtor”, destaca Speranza, ressaltando a importância dessas iniciativas de apoio à comunidade rural.
Neste sábado, os agricultores estarão novamente presentes na feira para continuar comercializando seus produtos e fortalecendo a economia local. No entanto, para o futuro, Speranza apela por incentivos e final”, desabafa. “As contas vêm aí, e é complicado sem previsão de pagamento pelas uvas vendidas”, lamenta.
Considerada uma importante ferramenta de apoio aos agricultores familiares da região, além de oferecer um canal direto de venda para seus produtos, a iniciativa também promove a valorização da agricultura familiar e da produção local, a feira é uma oportunidade para os produtores comercializarem seus produtos diretamente para o consumidor, sem intermediários, explica o secretário Villa “Isso significa que eles podem obter um preço mais justo por seus produtos e aumentar sua renda”, observa.
Fotos: Reprodução e Arquivo Pessoal