Cercado de comércios, posto de saúde e escola, o local é bastante familiar e considerado completo por todos os moradores. Residentes ainda relatam que nem sempre foi assim, e que na década de 70 o local ainda não era desenvolvido como é. O bairro ainda conta com o Espaço de Saúde do Idoso, onde além dos serviços básicos prestados, também é um local onde os mais velhos podem se reunir para discutir assuntos que os afetam
O bairro Progresso é considerado bastante diversificado pelos moradores, tendo creche, comércios, posto de saúde, e até mesmo, um Centro de Referência ao Idoso. Além disso, é visto como um lugar seguro, com moradores que vivem ali há 50 anos. Muitos, se mudaram do interior, quando o local recém iniciava seus loteamentos. Por conta disso, a vizinhança é bastante unida e amigável.
Conversar para curar
Anaci Varnier tem 69 anos, é enfermeira e atua no Espaço de Saúde do Idoso. Lá, diversos atendimentos são oferecidos aos mais velhos. “O centro de fisioterapia é um setor à parte dentro do mesmo espaço físico. Agora, dentro do centro, temos nutricionista, geriatra, clínico geral e atendimento de enfermagem”, explica.
Conforme os atendimentos ocorriam, Anaci entendeu que era necessário um espaço que atendesse também à saúde mental dos idosos. “Fazemos reuniões mensais para abordar diversos assuntos relacionados à saúde. Alimentação, exercícios físicos; agora, eles pediram para falar sobre demências, o que é muito relevante, pois a população idosa tem crescido bastante. Graças à indústria farmacêutica, estamos nos mantendo e conseguindo viver mais. Eles abordam assuntos que gostariam de ouvir e discutir”, conta.
Por conta de todas as tragédias que ocorreram em maio, a enfermeira ficou preocupada com a forma como os idosos estavam lidando com tantas notícias difíceis. “Na nossa última reunião, decidimos falar sobre saúde mental, porque, independentemente de termos sofrido uma perda ou não nessas chuvas de maio, soubemos de pessoas que perderam entes queridos. Então, através dessa roda de conversa, buscamos amenizar um pouco esse sofrimento”, realça.
Outro motivo pelo qual as reuniões são importantes é que Anaci acredita que, principalmente por ficarem muito em casa, os idosos acabam se sentindo muito sozinhos. “O idoso propriamente dito é carente. Muitas vezes a doença dele não é tão física quanto é psíquica. Muitos se sentem estorvos para a família, e, no processo de envelhecimento, muitas coisas acontecem que nem todos aceitam. O idoso precisa muito do apoio da família, e quando não tem, fica depressivo, tem medo da noite, da morte. São situações que essa classe enfrenta”, destaca. Ela completa: “Nesta faixa etária, existe a diferença entre o idoso e o velho. O velho é aquele que não se cuida e está cansado de viver; há pessoas com 40 anos que considero assim. O idoso se propõe a viver, se cuida, porque tem motivações para viver cada vez mais. São aqueles que carregam um sorriso no olhar, que estão de bem com a vida”, ressalta.
O grupo, que reúne cerca de 20 frequentadores do Centro, tem ajudado muito aqueles que precisam ser ouvidos. “Abraçamos, ouvimos as pessoas e, dentro do possível, encaminhamos para o médico, fazemos sugestões e direcionamos para psicólogos. Esse grupo veio muito a calhar, porque lhes dá a oportunidade de sair de casa. Os que vêm geralmente fazem questão de vir para conversar e ouvir. Aqueles que não vêm, muitas vezes é porque não querem se misturar, e aí entra a depressão”, conclui.
Irene Bacon tem 68 anos e é uma das frequentadoras do espaço. “Comecei a frequentar o centro por causa da ginástica, mas depois que meu marido ficou doente, acabei parando de vir. Aí fiquei sabendo dessas rodas de conversa e estou vindo há dois meses. Gosto muito, porque podemos colocar nossos sentimentos para fora”, diz.
Sobre o tema daquela reunião, Irene ficou interessada, já que havia ficado bastante abalada com o que viu. “Tudo o que vimos nos últimos dias afeta a nossa saúde mental. É muita tristeza. Tenho primos que moram em Canoas e é sofrido ver as pessoas perderem tudo. Mas nós, que não enfrentamos diretamente, precisamos cuidar da nossa cabeça para poder auxiliar os que precisam da gente neste momento”, finaliza.
Comércio
Pamela de Souza tem 39 anos e há um tempo empreende no bairro Progresso, em uma rua bastante familiar. “A loja surgiu de uma vontade de empreender, e como sou professora de artes marciais, decidi focar em roupas fitness. Também queria algo próximo de casa e perto da academia onde trabalhava, e o Progresso fica entre os dois. A rua que escolhi é familiar e calma; quero que o cliente venha e se sinta em casa”, conta.
Nos primeiros dias da tragédia enfrentada no Estado, ela contou que foi difícil continuar trabalhando. “Nos dois primeiros dias, quinta e sexta-feira, me senti muito mal e comovida pelas pessoas. Abri a loja na quinta, mas não me senti à vontade. O estádio onde meu filho joga futebol ficou completamente alagado, então decidi ajudar. No sábado, ainda vim trabalhar com o coração apertado, mas pensei: se não fui afetada, preciso ajudar de outra forma, que é trabalhando e fazendo a economia girar. A partir de segunda-feira, meu movimento só melhorou”, destaca.
Loides Miriam de Oliveira trabalha no mercado de seu filho, situado no Progresso. “Tínhamos um brick no Centro, mas acabou fechando. Surgiu a oportunidade de abrir um negócio no bairro, pois conhecemos a clientela e é um lugar familiar. Aqui é próximo do Centro, o que facilita e contribui bastante”, relata.
O que vem incomodando a família é que, pela terceira vez, são afetados pelas enchentes. “Já tínhamos sofrido com a enchente do ano passado, porque temos casa em Alcântara. Em 2023, foi pela água; este ano, uma barreira caiu por cima. Além dessa perda, a questão econômica afetou bastante o mercado, porque estava difícil receber mercadorias, e, até arrumarem todas as estradas demora”, diz. Ela complementa: “Medo sempre se tem, mas é preciso ter coragem para seguir em frente. Não se pode abaixar a cabeça e desistir. É necessário seguir batalhando, apesar das perdas e das crises”, ressalta.
Ivair Palinski tem uma mecânica com seu sócio Emersson Casanova, e o bairro chamou a atenção dos dois. “Vim para cá porque era a melhor das opções que tinha. Era um local que já havia tido a estrutura de uma mecânica antes, então estava pronto. Aqui é bem localizado, a rua não é tão movimentada, então facilita para estacionarem os carros, e essa questão é resolvida mais rápido”, diz Palinski.
Casanova comenta a respeito da economia e como estão sentindo os impactos. “Achei que 2024 seria pior, mas estamos conseguindo nos manter. O giro tem sido suficiente para pagar as contas e conseguir progredir, então não posso reclamar. Está melhor que no ano passado. Comparando os meses e períodos, este ano está sendo superior”, alega.
Ele ainda completa que, em maio, houve períodos mais parados por conta da catástrofe. “No começo, as chuvas influenciaram na economia. Como muitas pontes foram derrubadas, a logística atrapalhou, porque demorou para chegarem as peças. Mas não foi nada que prejudicasse de fato o nosso trabalho, foi mais no sentido das peças que acabaram atrasando”, explica.
Moradores
Ana Neri Eiteleven tem 69 anos e reside no Progresso há quase 50 anos. A história de como chegou lá envolve muita fé. “Moramos aqui há 48 anos. Estávamos na colônia e decidimos vir para cá para dar um conforto melhor aos filhos. Na verdade, construímos porque ganhamos na loteria esportiva. Fizemos uma novena para Nossa Senhora do Caravaggio e, no dia seguinte, recebemos o valor para comprar nossa casinha”, relembra.
Quando chegaram, o bairro era muito diferente do que é hoje, quase como uma colônia. “Na época, não tinha nem rua. Tínhamos que carregar as coisas de cima do morro porque nem carro entrava. Mas hoje tem até asfalto. Dá orgulho ver tudo o que cresceu e o quanto está bonito”, realça.
Para ela, não mudaria nada no local, pois acredita que já tem tudo o que precisa. “Acredito que é um bom bairro para viver. Tem o posto de saúde, farmácias, um comércio bem completo. Estamos aqui há quase 50 anos e gostamos muito. É seguro, a vizinhança é boa, todos se conhecem e a comunidade é muito unida”, declara.
Enio di Domenico também chegou ao local na época em que estava se tornando um loteamento e relembra como foi. “Fui um dos primeiros proprietários. Eu e meus irmãos compramos o terreno. Como estavam abrindo um loteamento novo, o local era cercado por parreirais, e fomos construindo nossa casa”, diz. Ele complementa: “Fizemos uma boa escolha. Naquela vez, viemos porque era barato, mas hoje é um bairro bem considerado, com comércio completo, próximo do Centro. Tivemos muitas vantagens em estar aqui”, realça.
Além disso, ele gosta muito de seus vizinhos, já que, no início, muitos deles também estavam chegando. “A vizinhança do Progresso é muito especial. Somos próximos, unidos, e isso é fantástico. Todo mundo chegou quase na mesma época, então nos conhecemos todos. Além disso, é um lugar bastante seguro, principalmente comparado a outros bairros”, finaliza.