Descubra como estes seres vão além de apenas companheiros de estimação, tornando-se fontes de cura e conforto

Os animais, ao longo dos anos, tornaram-se grandes amigos dos humanos, muitos deles sendo animais de estimação, servindo para fazer companhia, divertir e sendo, muitas vezes, considerados membros da família. Entretanto, com os avanços da ciência e da medicina, esses animaizinhos são utilizados em terapias. Ela se resume a uma interação guiada entre um paciente com alguma condição de saúde e um animal treinado. Podem ser feitas com cavalos, cachorros, tartarugas, coelhos, entre outros.

Equoterapia

A terapeuta ocupacional, Raquel Mejolaro, trabalha com equoterapia, terapia feita com equinos, na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae). Essa profissão surgiu do grande amor que tinha por estes animais e no potencial que enxergava. “É uma paixão desde criança, pois sempre tive cavalo no sítio. Sou apaixonada por esse animal. Ele é fantástico, animal muito grande e ao mesmo tempo muito sensitivo e dócil. E unir o trabalho com ele é sensacional”, alega.

A terapeuta explica que esta terapia que utiliza cavalos serve para estimular o desenvolvimento da mente e do corpo. “Assim, melhorando as funções neurológicas, sendo indicado para pessoas que possuem deficiências físicas ou necessidades especiais, como síndrome de Down, paralisia cerebral, esclerose múltipla ou autismo”, elenca, e complementa que tendo como base padrões repetitivos dos movimentos do cavalo, acaba estimulando as respostas da pessoa, o fortalecimento muscular, a interação social, entre outros benefícios. Dependendo do caso, já demonstra resultados nas primeiras sessões e muitos pais relatam ver melhoras significativas em seus filhos com o tratamento.

A equoterapia ajuda com a socialização e autoestima do paciente


No local onde atende, ela conta como é feita a sessão e seu tempo de duração. “As sessões de equoterapia geralmente duram cerca de 30 minutos, são realizadas uma vez por semana, podendo ser feitas individualmente, com orientação e acompanhamento de um terapeuta, que pode ser um fisioterapeuta especializado, para orientar os exercícios”, salienta.

Ela traz que, inicialmente, algumas crianças até sentem um pouco de medo dos animais, principalmente devido à sua altura. Mas que, conforme a preparação, as crianças vão se adaptando. “Realizo todo um trabalho em solo para diminuir esse medo. Com a aproximação, escovação e para finalizar a alimentação do cavalo, como forma de recompensa”, explica.

Outro local que atende esta modalidade é o Centro Pingo Branco, localizado em Carlos Barbosa. Andrieli Martello, psicóloga, relata como funciona. “Na equoterapia, avaliamos as necessidades que cada indivíduo possui, para então montar um planejamento especializado e individualizado. Focamos nas potencialidades do indivíduo e auxiliamos a desenvolver as limitações que o mesmo apresenta por meio da interação com o cavalo e a natureza”, traz.

Relata também o que o Centro proporciona aos pacientes que decidiram frequentar esta terapia. “O Centro Pingo Branco conta com profissionais especializados na área da saúde, educação e equitação, além de cavalos devidamente treinados. Tanto equipe quanto animais passam por constante treinamento a fim de garantir o bem-estar de todos”, conclui.

Amor incondicional

Não somente na terapia, os animais são bastante importantes na recuperação dos pacientes. Em 2018, o legislativo de Bento Gonçalves aprovou uma lei que permite que animais de estimação frequentem hospitais onde seus donos estejam internados. Este é o caso de Laércio Vesterlund, que antes de sua cirurgia, pôde encontrar com seu grande amigo Chico. Sua irmã, Márcia Vesterlund, conta que há seis anos, Chico surgiu na vida da família, e aos poucos o pequeno se tornou o xodó de Laércio. “A alimentação do Chico é de luxo! Se vocês forem lá no final da tarde e sentirem um cheirinho de bife no ar, esqueçam: é o bife do Chico que está sendo preparado. Enquanto está internado e longe do Chico, Laércio passa o dia perguntando por ele. Também coloca toalhinhas distribuídas pelo corpo e depois pede para alguém levar para o cão, para que sinta o seu cheiro e não sinta a sua falta. É muito amor envolvido”, declara a irmã.

Desde 2019, o Hospital Tacchini permite a entrada de animais, que cumpram com os requisitos, em visita a seus donos internados. Isso é o que explica a enfermeira do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar, Carmen Lúcia Bortolozo Paz. “A visitação de animais de estimação em hospitais ocorre de acordo com o estado de saúde dos pacientes e conforme o protocolo institucional que descreve quem pode recebê-los e quais os critérios necessários para que estes animais estejam aptos a realizar a visitação, de modo que não ofereçam risco tanto para o paciente em questão quanto para os demais pacientes e/ou setores”, relata.

Márcia demonstra emocionar-se com esta liberação, já que muitos pacientes sentem falta de seus animaizinhos, logo em um momento tão delicado. “A permissão de visitação de animais de estimação no Tacchini é uma demonstração real de que nesse hospital, o bem-estar é* prioridade, não só do paciente, de sua família e de todos que torcem pela melhora da saúde do paciente, mas também de seus amados animais de estimação”, ressalta.

Laércio e seu companheiro Chico durante seu tratamento

A visita do Chico fez muito bem para o Laércio, que sentia muita falta de seu pequeno companheiro. Foi um pedido dele, preocupado demais com o bem-estar do Chico, mais do que com o dele próprio. Diz que mesmo tendo o hábito de sempre se despedir do Chico, nas poucas vezes que não o leva junto, agora o cão não entenderia o motivo da sua ausência por tanto tempo. Meu irmão ficou muito feliz, e o Chico também, a fisionomia dos dois melhorou muito. Quando levei o Chico tomar banho ele estava desconfiado, triste, não queria caminhar, tentei pegar no colo e ele até rosnou. Depois da visita o Chico voltou caminhando e saltitando para casa, parando, olhando para trás, parece que marcando e memorizando o caminho para voltar até o Laércio”, declara.

A enfermeira Carmen Lúcia realça que, ao aderir a este método de visitação, acaba-se tendo um olhar total sobre os pacientes. “Assim como é importante o manejo clínico dos pacientes, torna-se de extremo valor entender e valorizar a subjetividade de cada um deles e de que forma podemos proporcionar um processo de reabilitação mais humanizado, de alegria e motivação para continuar a trajetória”, conclui.